ZERO HORA 17 de maio de 2015 | N° 18165
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
Eles são muito parecidos em um aspecto. Dilma e Sartori estão jogando na retranca. Preferem, por enquanto, o silêncio. Se pudessem, diriam: Me esqueçam.
Tenho a impressão de que, para eles, os eleitores que os levaram ao poder passaram a ser um estorvo. Gente chata com suas cobranças e reclamações.
Esse é o problema dos governantes. Antes da eleição, são transparentes, falantes, disponíveis. Depois, se trancam em gabinetes. Preferem o ar-condicionado e as janelas com películas para filtrar a luz.
Nem tudo são semelhanças. Os motivos que empurraram Dilma e Sartori para a defensiva são diferentes. Se ficasse exposta, Dilma precisaria explicar o inexplicável. Como o PT se elegeu prometendo ética e acabou assistindo a boa parte da sua cúpula ser presa. Sartori, cada vez que aparece, precisa se desdobrar para não explicar como conterá a crise e estancará os cortes na saúde e na segurança.
Durante a campanha, os candidatos falam sempre que surge uma oportunidade. Depois, quando querem. Está errado. É obrigação deles comunicar-se com a população – em primeira e última instância, quem paga a conta.
Depois reclamam do que consideram “boatos e especulações”. É isso o que acontece quando a informação chega de forma esfarelada, fragmentada.
Em uma reunião com seu secretariado, o governador Sartori chegou ao cúmulo de pedir resguardo total da sua equipe em relação às notícias passadas à imprensa e, consequentemente, à população. Esse pedido esdrúxulo levou cinco minutos para chegar às redações. Porque é da essência do ser humano falar, ouvir e ser ouvido.
Até na Coreia do Norte é impossível controlar totalmente a informação. Isso que lá a pena pela desobediência é a morte.
Já Dilma vive em um inferno ainda mais tenebroso. Um governo, quando joga pelo empate, é um mau governo. Nós, jornalistas, de um jeito ou de outro, acabamos conseguindo as informações. Quanto mais claras forem, melhor serão repassadas. Minha argumentação aqui é tudo, menos corporativa. Não é com os jornalistas que os governantes precisam falar. É com os cidadãos. Não é favor. É dever.
Na época do regime militar, o general Figueiredo encarava o exercício do poder como um castigo. Todos os dias, pela manhã, fazia um risquinho no calendário. Era a contagem regressiva para o fim do mandato. Dilma e Sartori ambicionaram o poder e o conquistaram democrática e legitimamente. Parecem ter esquecido de uma velha regra.
FALAR MAIS, PARA SE EXPLICAR MENOS
PESADELO 1 - Saúde. A palavra não sai da cabeça do prefeito José Fortunati, que classifica como “pífios” os resultados da pressão sobre os governos estadual e federal. Os cortes dos repasses de dinheiro já estão causando problemas no atendimento à população.
PESADELO 2 - Os efeitos da falta de verbas para a saúde no Interior já estão pressionando o sistema em Porto Alegre. É a velha ambulancioterapia, com o tanque cheio.
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