VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A UTOPIA PARLAMENTAR

REVISTA ISTO É EDITORIAL - N° Edição: 2256
| 07.Fev.13 - 23:59
| Atualizado em 09.Fev.13 - 10:45



Carlos José Marques, diretor editorial


Congressistas brasileiros mostram sinais concretos de que acreditam piamente viver em um mundo de fantasia particular, sem a necessidade de prestar contas sobre atos e decisões. Fulminam com soberba e ironia o senso comum, confrontam leis e juízes, amarrotam a legitimidade do voto que recebem e fecham acordos impróprios apesar dos protestos. 

Do alto da tribuna desdenham do sentimento geral de indignação e, sem constrangimento, colocam os interesses estritamente particulares, e de seus pares, acima do interesse público. Foi assim mais uma vez para consagrar na presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente, os nomes de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves. Ambos peemedebistas com uma avalanche de suspeitas a pesar sobre suas biografias. Nada levou a bancada das duas casas a recuar um milímetro sequer na determinação de entronizar os escolhidos. 

Um misto de fisiologismo, conchavo e clientelismo, o todo movido pela ânsia de angariar mais e mais vantagens, provocou a combinação perfeita que deu cabo à negociata partidária. O estandarte da decadência política foi mais uma vez erguido naquela Casa, maculando reputações dos que participaram da espúria aliança. Os envolvidos fizeram ouvidos moucos ao grito das ruas. 

A dupla Calheiros/Alves, à revelia de suas dívidas com a Justiça e o decoro, assumiu assim a condição de altas patentes na esfera do poder federal, entrando na linha sucessória direta da presidência como terceiro e quarto substitutos legítimos a ocupar a cadeira em caso de ausência da titular. Renan Calheiros, num traço de completo descaso às críticas que recebeu, ousou falar em ética durante o seu discurso de posse – ética como “meio” não como “fim”, disse, esquecendo tratar-se na verdade do “princípio”, um valor de conduta inegociável. Ao lado do conterrâneo e antigo aliado, Fernando Collor (esse apeado da presidência em rumoroso processo de impeachment nos anos 90) repetiu sorrisos de vitória pela situação. Ambos estão descompromissados com o seu passado e pareciam gozar, naquele momento, a tal utopia parlamentar. 

A reiterada convicção de que, não importam os erros ou falhas, eles serão sempre reconduzidos à condição de destaque na cena política, por obra e graça dos lapsos de memória dos eleitores na hora das urnas. Ledo engano. O voto conquistado não se presta a ofensas, nem está ali para deleite e ambições pessoais. O compadrio tem seu preço e a conta ainda vai voltar, alta.

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