PÁGINA 10 | CARLOS ROLLSING (INTERINO)
Vivemos em permanente campanha no Brasil. A cada dois anos, mal acaba uma eleição, inicia-se um longo período de negociações por cargos. O eleito precisa compor maioria nos Legislativos, se vê obrigado a empurrar para dentro da sua coligação antigos adversários. A base aliada incha e os partidos, ávidos por poder, lutam até o final para garantir espaços generosos. Esse vale-tudo costuma durar cinco meses, entre meados de outubro de um ano e março do outro. E, depois, quando o foco deveria se transferir para a gestão, os políticos dão largada à negociação de alianças para a eleição do próximo ano.
É exatamente o que vivenciamos nos dias de hoje, quando estão findando as discussões para as indicações políticas às prefeituras, disputadas em outubro passado. A última semana foi emblemática. No Rio Grande do Sul, os movimentos do PSB, que pretende lançar candidato próprio à Presidência em 2014, causam frisson no governo Tarso Genro.
No cenário nacional, os atos são explícitos. O ex-presidente Lula lançou Dilma Rousseff à reeleição e fez promessas de manutenção do posto de vice ao PMDB em conversa com o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves. Agora, a missão do líder petista será convencer Eduardo Campos a não se lançar candidato. Do outro lado, Aécio Neves (PSDB) foi à tribuna do Senado fazer discurso eleitoral. E chamou Fernando Henrique Cardoso para ser seu aliado no palanque precoce. Marina Silva está na área, colhendo assinaturas para criar a Rede. Um partido só seu, sem posição ideológica, feito sob medida para ela concorrer à Presidência.
E a gestão? As obras de infraestrutura, a saúde, a educação, a segurança. Como ficam? Não se sustenta o argumento de que as negociações políticas são tocadas pelos dirigentes partidários, porque, não raro, eles são os mesmos que ocupam os cargos públicos. Na hora de escolher, costumam deixar a gestão e os mandatos de lado para participar de reuniões, atos e caravanas eleitorais.
O Brasil precisa de uma reforma política. Apesar de polêmico, o agrupamento das eleições em um mesmo ano poderia ser considerado. Unificar a votação de vereador a presidente da República em um mesmo pleito concentraria o debate nas questões nacionais, reduzindo a pó os temas das pequenas e médias cidades. Um problema. Para resolvê-lo, seria uma opção fazer as eleições municipais em um semestre, e as gerais no outro? Poderíamos ter, assim, dois ou três anos mais dedicados à gestão do país?
Não é sadio para a agenda do desenvolvimento, permanecer focado em eleições 365 dias por ano.
Em campanha
Uma declaração do governador Tarso Genro, na festa de comemoração dos 33 anos do PT, na sexta-feira à noite, causou inconformidade na direção do PP.
A repórteres, Tarso afirmou que os progressistas estavam sendo “coerentes ao se manifestar contra o aumento salarial de servidores por ter uma visão ortodoxa do manejo das contas públicas”. O presidente do PP, Celso Bernardi, rebateu ao dizer que a sigla não se manifestou nem votou contra reajustes ao funcionalismo.
– O que criticamos são os aumentos concedidos para serem pagos até 2018, o que retira a autonomia e engessa o futuro governo, além de ser uma inaceitável irresponsabilidade com as finanças públicas – opinou Bernardi.
Após a declaração, Tarso disse que somente iria refletir sobre a candidatura à reeleição a partir de novembro.
Retumbante
Curioso o silêncio do PSOL diante do governo Tarso Genro. O partido, que, mesmo sem bancada na Assembleia, opinava com ferocidade sobre todos os temas estaduais à época do governo Yeda Crusius, agora parece ter se calado. A sigla tem se limitado a fazer oposição ao prefeito José Fortunati na Câmara de Porto Alegre, onde conta com bancada de dois vereadores: Pedro Ruas e Fernanda Melchionna.
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