ZERO HORA 26 de julho de 2015 | N° 18238
EDITORIAL
Está claro, pela grandeza do percentual de desencantados, que a realidade é incômoda para um vasto contingente de brasileiros.
É
preocupante o diagnóstico dos sentimentos dos brasileiros em relação ao
governo e às instituições, revelado por recente pesquisa CNT/MDA. À
descrença com o Executivo, expressa pelos 70,9% que consideram o governo
ruim ou péssimo, acrescenta-se agora a desconfiança com o final da
Operação Lava-Jato. Ampla maioria de 67,1% não acredita na punição dos
envolvidos em corrupção na Petrobras. O número é surpreendente, no
contexto da reconhecida mobilização da Polícia Federal, do Ministério
Público e da Justiça para que o desfecho das investigações e dos
processos seja o melhor possível. Mas esse não é um dado a ser apenas
lamentado. O retrato da desesperança é um desafio às instituições, para
que se revertam expectativas em desacordo com os esforços de todos os
envolvidos no esclarecimento do caso em questão.Pesquisas devem ser entendidas em seu contexto e ter seus resultados relativizados. Mas está claro, pela grandeza do percentual de desencantados, que a realidade é incômoda para um vasto contingente de brasileiros. Todas as instituições referidas – e mais o Congresso – estão diante da chance única de oferecer respostas, não às pesquisas, mas às pessoas nelas representadas. É compreensível que, na sucessão de desmandos envolvendo ex-executivos da estatal, empresários e políticos, a população exponha suas dúvidas em relação a eventuais condenações. O país reproduz uma percepção que não é nova e que se manifesta principalmente em momentos como este.
Dissemina-se a sensação de que as ações podem resultar em nada. E prosperam as teorias oportunistas, típicas dessas circunstâncias. Fazem parte desse contexto de desesperança, mesmo que em outra dimensão, as soluções fáceis, os julgamentos sumários e, em casos extremos, a brutalidade dos justiceiros. Parte da resposta a esse ambiente é oferecida pelos que têm o poder de sensibilizar e formar opinião, como o publicitário Nizan Guanaes. Um dos nomes mundiais da propaganda brasileira tem se dedicado, em artigos e palestras, a defender a viabilidade do Brasil como nação em que um dia se cumprirão as normas de convivência e as leis.
Um país em que também os governos, os políticos e toda a sua estrutura institucional façam sua parte e a descrença dê lugar à convicção de que autoridades e população convergem para a prevalência dos interesses coletivos. As respostas ao retrato do pessimismo devem ser construídas sem vacilações. O momento é particularmente desafiador para a Justiça. A sociedade saberá dizer, não só em pesquisas, em que momento suas piores expectativas foram substituídas pela certeza de que as instituições funcionam na sua integralidade.
Editorial publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão: Editorial pede resposta das instituições à impunidade e à desconfiança dos brasileiros. Concorda?
O LEITOR CONCORDA
Impunidade gera desconfiança. O que se observa em nosso país é que a corrupção está presente nos mais diferentes setores, com destaque para a área pública e mais especial ainda na classe política. Quando os escândalos são descobertos, dá-se início às investigações, que percorrem um longo caminho, por conta de foro privilegiado, imunidade parlamentar e outros, que equivalem a subterfúgios para blindar os possíveis culpados. Isso ocorreu com o escândalo do mensalão e está voltando a se repetir com a Operação Lava-Jato, referente ao que se pode chamar de assalto à Petrobras. A sociedade clama pelo fim da impunidade, por ser a mola propulsora dos inúmeros crimes que se verificam. Por isso, há necessidade de passar o país a limpo, sob pena de mergulharmos numa situação insustentável, se é que já não estamos nela. A violência urbana também atingiu níveis alarmantes, exigindo que a Segurança Pública reaja com extremo rigor. Afinal: a melhor defesa não é o ataque? Então, mãos à obra.
NATAL MARCHI RIO DO SUL (SC)
O LEITOR DISCORDA
A população não acredita mais no governo, nas instituições, nos poderes, mais em nada. Vamos tomar como exemplo o mensalão e o roubo da Petrobras, em que montaram um circo em volta desses dois casos, e é um tal de prende e solta, que nem eles sabem quem está “preso” ou solto. Só que este circo é diferente, os palhaços é que são a plateia. E o “apresentador” do espetáculo até agora não apareceu. Portanto, o circo está às moscas. Vai terminar como tudo começou, como diz na Bíblia. Antes era só escuridão, só que aqui não se fez a luz!
MILTON UBIRATAN RODRIGUES JARDIM TORRES (RS)
Ahhh, que perguntinha mal formulada!
Como se não soubéssemos que ela sempre persegue os mesmos objetivos, que é de desqualificar e deslegitimizar o Poder Executivo federal, que os estaduais bem blindados estão, sim senhor. Até a nossa tão valerosa imprensa, tão tendenciosa e sonegadora, passa por boazinha.
JOÃO CÂNDIDO PORTO ALEGRE (RS)
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