ZERO HORA 29 de agosto de 2015 | N° 18278
ARTIGOS\
, POR GILBERTO SCHWARTSMANN*
Dizem que René Descartes, ao enviar os originais de As Paixões da Alma a seu editor, em 1649, advertiu-o de que sua obra não fora escrita com um olhar filosófico, mas com a intenção de mergulhar no universo das relações entre o corpo e o espírito.
É interessante observar a forma como o pensador enfrenta um tema tão complexo. E com o olhar sobre a alma humana de quem viveu há mais de três séculos. A leitura vale a pena.
O livro é dividido em três capítulos. O primeiro discute as paixões em geral e suas associações com a anatomia. Já naquela época, Descartes supunha não ser o coração, e sim o cérebro, a sede de nossas emoções.
No segundo capítulo, ele descreve o que seriam as seis formas primitivas de paixão: a admiração, o amor, o ódio, o desejo, a alegria e a tristeza. E, no terceiro e último, discorre sobre paixões mais particulares.
Estas últimas, segundo ele, representariam variantes ou combinações das seis formas primitivas, gerando sentimentos como o orgulho, o desprezo, a estima, a humildade, o desdém, a inveja e a compaixão.
Os artigos contidos na obra são numerados de 1 a 212. O artigo 200 é simplesmente impagável. Nele, Descartes destaca as razões pelas quais deveríamos temer mais as pessoas que ficam brancas e não vermelhas de raiva. Segundo o filósofo, as que branqueiam quando tomadas pelo ódio seriam muito perigosas.
À luz dos conhecimentos de hoje, é óbvio que algumas de suas interpretações não resistiriam a um minuto de argumentação científica. Seria como dar crédito às teorias estapafúrdias do criminologista Cesare Lombroso, no século 19, sobre a existência de tipos físicos mais propensos ao crime. Não tem o menor cabimento.
Absurdo ou não, o fato é que, há alguns dias, eu assistia ao noticiário pela televisão. Os jornalistas faziam perguntas ao presidente da Câmara dos Deputados sobre certas denúncias, envolvendo-o na Operação Lava-Jato.
Observei seu semblante. Imediatamente, sua tez tornou-se pálida. Em outras palavras, assumiu uma cor muito mais para o branco do que para o vermelho. Mas pode ser bobagem minha e de Descartes.
*Médico e professor
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