VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

MISÉRIA DA ESQUERDA OU ESQUERDA DA MISÉRIA?



ZERO HORA 07 de agosto de 2015 | N° 18250



EDUARDO K. M. CARRION*




Em 1847, Ma r x procurou com a Miséria da Filosofia responder a A Filosofia da Miséria, publicado em 1846 por Proudhon, pensador esse em grande parte protagonista de um socialismo pluralista e antidogmático e cuja obra se faz cada vez mais contemporânea, entre outras coisas em face da derrocada da experiência do denominado “socialismo real”, em especial do stalinismo.

Numa outra perspectiva, poderíamos nos perguntar se a debacle atual do projeto político que controla o governo federal está a revelar uma miséria da esquerda, comprometendo política e genericamente qualquer projeto de esquerda, ou pura e simplesmente uma esquerda da miséria, ou seja, a degenerescência moral e política de um projeto pretensamente de esquerda.

São inegáveis os avanços nos últimos anos em termos de políticas sociais, que, aliás, remontam também a governos anteriores, embora ampliadas na atual fase. Entretanto, políticas sociais não constituem monopólio da esquerda. O liberalismo europeu compatibilizou-se durante muito tempo com o Estado Social. Infelizmente, no Brasil, temos um liberalismo de marca conservadora, avesso em grande parte a políticas sociais. Não gratuitamente, cunhou-se na nossa literatura política a expressão “liberal-conservadorismo”, para identificar a natureza e a prática do nosso pretenso liberalismo.

Uma coisa, entretanto, revela- se incontestável: um projeto progressista e alternativo é incompatível com a corrupção, com o assalto ao patrimônio público, seja em benefício partidário, seja também, como tudo indica, em benefício pessoal. Tratou-se, finalmente, de um projeto, na dimensão histórica, de pernas curtas. Que, talvez contra a vontade, engrandece o legado getulista. Nada a ver com maquiavelismo: seria não só nada compreender de Maquiavel, como aviltar seu pensamento. Trata-se mesmo de indigência e de demissão políticas. E isso já se alertava desde pelo menos 2003.

Provavelmente, abre-se agora um período de reforço de uma hegemonia liberal-conservadora, em grande parte por responsabilidade de um projeto político generoso e transformador nas suas origens e nas suas intenções que foi rapidamente, utilizando aqui metaforicamente uma expressão com origem na biologia, “fagocitado” (absorvido, destruído) pelo que existe de mais atrasado e tradicional na nossa experiência política.

*Professor titular de Direito Constitucional da UFRGS e da FMP

 

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