ZERO HORA 01 de agosto de 2015 | N° 18244
EDITORIAL
Crise do Estado não ocorre por culpa do contribuinte, que acabará arcando com as consequências das paralisações dos serviços e do aumento de tributação.
O Estado quebrou.
Não é culpa do governador Sartori, que encontrou os cofres raspados e despesas acima da arrecadação. Também não é culpa do secretário Giovani Feltes, que ontem até deu uma explicação didática e convincente sobre o parcelamento e o atraso dos salários do funcionalismo estadual. Mas certamente não é culpa dos servidores do Executivo, que chegam ao final de um mês de trabalho sem receber os vencimentos contratados, em absoluta desigualdade na relação aos funcionários dos demais poderes e tendo que enfrentar o constrangimento da inadimplência de suas próprias contas.
Por fim, não é culpa do contribuinte gaúcho, que acabará arcando com as consequências das paralisações dos serviços e do aumento de tributação.
Ainda que ninguém possa ser responsabilizado individualmente, todos temos um pouco de culpa pela degradação financeira do Estado, especialmente os governantes que incentivaram ou permitiram o inchaço histórico e crescente das estruturas administrativas, além do acúmulo de privilégios. Em consequência, hoje temos um Estado caro, pouco eficiente e quebrado. E estamos todos diante do imenso desafio de resgatá-lo do caos.
O governador Sartori só não pode ser isentado de responsabilidade na questão da transparência, pois optou por esconder dos servidores a notícia ruim até o último dia, e ainda limitou sua participação no episódio a um vídeo divulgado pelas redes sociais. Menos mal que seu secretário da Fazenda mostrou segurança para enfrentar o desafio da comunicação e arrematou com uma frase que não deixa dúvidas sobre a situação calamitosa das finanças estaduais; “Não é chororô. É falta de dinheiro mesmo!”.
E o dinheiro não vai aparecer milagrosamente, como alguns ingênuos acreditavam. Nem virá do governo federal, que também passa por penúria e sequer admite voltar ao tema sempre recorrente da renegociação da dívida. Muito menos surgirá por obra de medidas judiciais ou pela simples cobrança de sonegadores de tributos, pois esses valores são insuficientes.
Cabe, agora, ao governador bancar as propostas de redução da máquina pública, com o destemor que lhe faltou na coletiva de ontem. O Rio Grande só sairá desse precipício de incúrias se efetivamente se empenhar pelo redimensionamento de suas estruturas administrativas, enfrentando com coragem o corporativismo e os privilégios, valorizando a eficiência, submetendo-se ao sacrifício da elevação de tributos e selecionando melhor as suas lideranças.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Com certeza, "não é culpa do governador Sartori, que encontrou os cofres raspados", nem do "secretário Giovani Feltes", e "certamente não é culpa dos servidores do Executivo, que chegam ao final de um mês de trabalho sem receber os vencimentos contratados, em absoluta desigualdade na relação aos funcionários dos demais poderes", e tampouco "é culpa do contribuinte gaúcho, que acabará arcando com as consequências das paralisações dos serviços e do aumento de tributação." Tenho a convicção de que a culpa começa na centralização dos impostos na União, em Brasília, a Versalhes tupiniquim, que tira recursos, incapacita e promove a insolvência das unidades federativas, violando princípios republicanos e federativos para construir um Estado absolutista com o aval dos senadores eleitos para representar os Estados. Em seguida, a culpa recai nos fiscais e controles apaniguados, lenientes e permissivos que aprovam as contas dos governadores e prefeitos mesmo com irregularidades mantendo os maus gestores impunes e livres para continuarem na vida pública dando as cartas e gerenciando os cofres públicos. E por fim, a culpa cai na justiça onde os políticos seguem intocáveis, ficha e conta limpas, cheio de imunidades e privilégios, crimes prescritos e livres de punição.
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