ZERO HORA 15 de agosto de 2015 | N° 18262
RBS BRASÍLIA | Carolina Bahia
Já vi crise feia, mas esta tem uma diferença.
Nesta, não tem mocinho.
O fato de o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ter fechado a semana como o fiador da governabilidade simboliza o nível de crise em que o governo se encontra. Um petista mais iludido até pode argumentar que é pragmatismo, mas a esta altura já é falta de onde se agarrar. Está certo que Renan é sobrevivente de várias tempestades, praticamente um Highlander da política, e que tem um poder absurdo sobre o plenário. Mas também ele está entre os investigados da Lava-Jato e jamais oferece a mão sem exigir algo em troca.
A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, precisa de Renan. O presidente do Congresso é quem vai conduzir a votação da prestação de contas da Presidência da República, um processo que pode levar mais tempo do que o previsto. A apresentação de um pacote de medidas foi jogada de gênio. Ocupa as manchetes com temas caros ao empresariado, mobiliza os sindicalistas com propostas polêmicas, como a idade mínima para aposentaria, e até coloca lenha na indignação, com a proposta de cobrança das consultas do SUS. O pacote arrancou o ministro Joaquim Levy (Fazenda) da antipática pauta do ajuste e ainda irritou o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O Planalto não poderia querer melhor.
Mas o que o alagoano ganha com isso? A conta é alta. Há quem aposte que ele não estará entre os denunciados da Procuradoria-Geral da República nos próximos dias. Além disso, ele assume um protagonismo importante neste momento em que o PMDB ganha cada vez mais poder. Renan quase perdeu o mandato por relações suspeitas com empreiteiras. Na época, foi socorrido por petistas. Agora, ele e Lula se entendem.
Dia desses, perguntei a um experiente fotógrafo de Brasília, que já registrou os momentos mais dramáticos da República, se ele já havia visto crise como a atual. Depois de acomodar a câmera no ombro, ele respondeu:
– Já vi crise feia, mas esta tem uma diferença. Nesta, não tem mocinho.
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