EDITORIAL ZERO HORA, 04/06/2011
Finalmente, o ministro Antonio Palocci resolveu explicar o aumento desmesurado de seu patrimônio no último ano de seu mandato como deputado federal. Fez ontem, depois de 19 dias de polêmicas, o que a nação esperava já no dia seguinte à denúncia publicada nos jornais. E não foi convincente. Embora não tenha fugido de nenhuma pergunta, frustrou as expectativas de quem esperava que, depois de longo silêncio, pudesse prestar esclarecimentos detalhados e conclusivos de suas atividades de consultoria entre 2007 e 2010.
Na entrevista concedida ontem à noite ao Jornal Nacional, o senhor Antonio Palocci conseguiu ampliar as dúvidas sobre as atividades privadas que multiplicaram seu patrimônio por 20 em apenas quatro anos. Se tivesse mostrado pelo menos um dos contratos, ainda que preservasse o nome do contratante, poderia ter provado a tese pouco crível de que as empresas concordaram em liquidar suas dívidas ao mesmo tempo, porque sua consultoria encerraria atividades para que pudesse tomar posse como ministro. No mínimo, deixou passar uma boa oportunidade para comprovar a licitude do inédito faturamento de R$ 20 milhões somente no ano passado, uma receita atípica para o tipo de serviço que dizia prestar.
É bom que o ministro tenha vindo a público para explicar sua posição, mas a demora foi injustificável. Palocci pôde dispor, desde o dia 15 de maio, do benefício da dúvida. Foi naquela data que o jornal Folha de S. Paulo mostrou a extraordinária evolução patrimonial do ministro. Seu argumento para preservar os contratantes também não convence. Ele alegou que bastou uma empresa reconhecer a contratação dos serviços de sua consultoria para que a oposição levantasse suspeitas sobre sua relação com a Receita Federal.
Ora, a cobrança para que o ministro desse explicações não era apenas da oposição. Setores representativos da sociedade têm manifestado o direito de ter acesso a informações esclarecedoras. Entidades de reconhecida reputação, como a Ordem dos Advogados do Brasil, exigiam uma manifestação pública do ministro, expressando assim um anseio de toda a sociedade. Líderes do próprio partido de sustentação do governo passaram, nos últimos dias, a questionar o comportamento de Palocci. É sintomático que a direção da agremiação política à qual o ministro pertence nunca se aliou às vozes de determinados setores do governo, no sentido de apoiar sua relutância em prestar contas do período como consultor.
O ministro cometeu um erro ao pretender proteger-se no silêncio, na expectativa de que essa seria sua melhor defesa, e finalmente se dispôs a conceder uma entrevista que pouco contribuiu para lançar luzes sobre seus negócios privados. Homens públicos não têm o direito de calar quando confrontados com quaisquer indícios de que podem, pelo menos, ter incorrido em falta de decoro.
PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA - Explica, mas não convence
Se era para dizer o que disse, sem entrar nos detalhes, o ministro Antonio Palocci poderia ter dado há duas semanas as entrevistas que deu ontem para o Jornal Nacional e para a Folha de S.Paulo. Talvez pudesse ter estourado a bolha que só cresceu, nos últimos dias. Segue no ar a pergunta sobre quem são os clientes que pagaram milhões de reais a Palocci, especialmente nos dois últimos meses de 2010, depois da eleição da presidente Dilma Rousseff. O ministro disse que não vai divulgar o nome das empresas para as quais trabalhou porque não tem o direito de expor terceiros.
Ao indicar os setores aos quais pertencem as empresas para as quais deu consultoria, Palocci foi tão genérico, que na lista cabe qualquer coisa – bancos, empresas de telecomunicações, fundos de investimentos, fábricas de automóveis, indústria de alimentos ou o que se imaginar.
A explicação de Palocci para a demora em dar entrevistas foi cândida: achou indelicado dar explicações públicas antes de responder às questões formuladas pelo procurador-geral da República. Agora que respondeu ao procurador, sente-se pronto para falar. Aparentemente, Palocci estava tranquilo e treinado para responder. Repetiu, em tom monocórdio, que não fez nada de ilegal, que prestou todas as informações aos órgãos de controle e que não intermediou negócios com o governo.
A serem verdadeiras todas as afirmações do ministro nas entrevistas, quem fica mal é a presidente da República. A Folha de S.Paulo, ele disse que, nas conversas com a presidente, não entrou em detalhes sobre os nomes dos clientes ou sobre os serviços prestados a cada um deles. Dá para acreditar que Dilma não tenha se interessado em saber quem eram esses clientes milionários? Sem saber quem são os clientes, como Dilma pode saber se houve tráfico de influência ou se têm negócios com o governo, o que implicaria conflito de interesse?
Em se tratando de Dilma, é prematuro especular sobre a permanência ou não de Palocci no governo. Esta é a primeira grande crise enfrentada pelo governo e não há precedente para comparar como se comporta a presidente em um caso assim. O ministro, que já estava enfraquecido, não disse nada que possa ter melhorado sua situação, mas Dilma está no momento de avaliar se é ruim com ou ele ou pior sem ele.
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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