VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 4 de junho de 2011

OS BASTIDORES ENVOLVENDO EX-DEPUTADO, ESTUPRO, ORGIA E PROSTITUIÇÃO

CASO GOETTEN. Os bastidores da operação - DIOGO VARGAS E MARJORIE BASSO - DIÁRIO CATARINENSE, 04/06/2011

A prisão discreta na barbearia; o homem algemado nos corredores da delegacia; as revelações sexuais com adolescentes; a rotina no auditório; o embate entre a defesa e a polícia. Nesta reportagem, o DC relata os bastidores em torno da prisão do ex-deputado federal Nelson Goetten (PR) pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic). A polícia o prendeu por estupro e incentivo à prostituição. Goetten está desde quinta-feira na unidade prisional de Itapema. Também foram presos o instrutor de fanfarras Gilberto Orsi e a vendedora de lingeries Cristiane do Carmo Alves Paes. Eles são suspeitos de serem aliciadores de meninas para Goetten.

A barbearia

Até entrar numa barbearia no Bairro Campinas, em São José, na segunda-feira à tarde, a vida de Nelson Goetten de Lima era marcada pela trajetória política. Reconhecimento dos eleitores, principalmente no Vale do Itajaí, vida de luxo e poder. Nas horas e dias seguintes, experimentou os holofotes, mas no outro lado: o de alguém suspeito de crimes graves envolvendo adolescentes.

A imagem começou a ruir quando a equipe de policiais da Deic saiu do Estreito. Em um carro descaracterizado, os policiais seguiram Goetten pela BR-101 das proximidades do trevo de Palhoça até São José.

Os investigadores comunicavam por telefone o trajeto a outros policiais que estavam num veículo identificado da Deic. Passavam das 16h. Goetten aguardava sentado na antessala da barbearia.

Ele já a havia frequentado outras vezes, mas não era cliente assíduo. O lugar é movimentado. O cliente pode tomar uísque oito anos ou vinho por conta da casa. Quem estava lá dentro ficou sem entender nada quando o delegado Cláudio Monteiro entrou, apertou a mão de Goetten e anunciou que ele estava preso. Um dos presentes empalideceu. Goetten foi algemado e colocado na gaiola do carro da polícia.

Delegado x advogado

As horas que sucederam a prisão foram de impasse. O saguão da Deic, na Capital, estava lotado de jornalistas e policiais. Eram mais de 18h e ainda não haviam sido cumpridas as buscas nos endereços dos presos. Os policiais digitaram uma autorização no computador do próprio plantão da Deic para poder entrar no apartamento em Itapema e levaram para Goetten assinar. Só então uma equipe saiu em direção a Itapema, por volta das 20h30min.

No meio dos jornalistas, o delegado Renato Hendges, o Renatão, e o advogado de Goetten, Roberto Brasil Fernandes, ameaçaram uma discussão calorosa, mas foi rapidamente controlada por eles mesmos.

“Ele vai prestar depoimento?”, indagou o advogado. “Ele já foi interrogado”, respondeu o delegado. “Qualquer informação e coisa que o senhor solicitar do ponto de vista processual, o próprio Nelson disse: pra mim não é importante sair agora da Deic, a importância é provar a inocência nesse processo e, no mínimo, individualizar as condutas”, dizia o defensor. “Vamos interrogar ele ainda no final. Vamos ver a situação aí para ele ficar. Fica tranquilo. Não vai ficar em risco em meio a outros presos”, afirmou Renatão.

Quatro dias preso

Goetten não ficou na carceragem na Deic. Permaneceu o tempo todo no auditório. Dormiu num colchão sobre um tablado forrado. Passou apenas pelo corredor das celas. Foi quando pedia aos policiais do plantão para tomar banho. Não fez nenhuma reclamação. Aparentava sempre tranquilidade. “Até estranhamos, porque normalmente esse tipo de preso fica chamando o plantão, pedindo remédios ou para ver a pressão”, contou um agente. Numa das noites, ele apenas comunicou ao plantonista que o chuveiro estava frio, mas não em tom de reclamação. Depois, perguntou se poderia desligar as luzes do auditório para dormir. Numa das noites, já estava de pijama quando um policial entrou para que ele assinasse um documento a pedido de um advogado. Não recebeu visitas. Na rotina diária, comeu marmita, bolachas, bebeu bastante água e leu o livro O sucesso está no equilíbrio, de Robert Wong. “Falava pouca coisa com a gente. Quando dizia, era que não entendia a prisão. Mas antes de ser transferido ainda agradeceu pela cordialidade com a qual o tratamos aqui”, contou um investigador. O diretor da Deic disse que ele ficou no auditório e não na carceragem para sua própria segurança pessoal, pois os outros presos costumam fazer represálias aos envolvidos em crimes sexuais.

As gravações

Em meio aos depoimentos, os presos eram levados para a sala dos escrivães para ouvirem e reconheceram as vozes das escutas telefônicas. Gilberto Orsi mostrou sorriso “amarelo” ao ouvir a sua no computador, alternando olhares para as pessoas em volta. Orsi passou longo tempo também na cozinha da Deic, sozinho, enquanto Goetten era ouvido pelo delegado Hendges. Na terça-feira de manhã, Renatão chegou a esbravejar com Goetten quando o político negava os crimes. O motivo era uma das gravações em que uma das adolescentes levou bronca da mãe porque demorava para chegar em casa – a polícia afirma que a menina estava com Goetten no carro, indo em direção a Orsi, para que este a levasse ao encontro da mãe. “Tá, então, por favor, vai lá e acerta com a mãe dela porque tá enlouquecida aí com ela (...) Eu estou parado numa fila ainda, por azar, há duas horas”, dizia Goetten ao telefone, irritado com Orsi. O ex-deputado dirigia uma Land Rover. Uma adolescente estava com ele no carro. Faziam o trajeto Itapema-Pouso Redondo, que levou mais do que o tempo previsto por causa de um acidente. Conforme os investigadores, a maior parte dos diálogos grampeados é impublicável, com conversas promíscuas. Por isso, apesar dos crimes graves, houve momentos em que policiais ou jornalistas faziam piadas sobre o caso.

A superexposição

Da entrada na Deic, segunda-feira, à saída, na quinta, Goetten apareceu praticamente todas as vezes algemado. A imprensa teve acesso a ele, seja no auditório, seja nos corredores do segundo andar, quando era levado para a sala do delegado Renatão. O advogado de Goetten, Roberto Brasil Fernandes, questiona o uso de algemas pela polícia. Ele observou a súmula número 11 do Supremo Tribunal Federal, que restringe o seu uso aos “casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia”, o que não ocorreu, na sua visão. Para o defensor, houve uma superexposição de Goetten por envolver um ex-deputado federal, “que vem sendo tratado de maneira irresponsável pela polícia”:

– Da forma como tudo foi divulgado, algumas pessoas podem estar sendo taxadas de prostitutas e violentadas. Crimes sexuais devem ser tratados com o devido sigilo legal.

Para o advogado e professor Juliano Keller do Valle, presidente da Comissão de Segurança, Criminalidade e Violência Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC), ouve uso desnecessário das algemas e excesso da polícia. Segundo Keller, a algema se faz necessária em casos excepcionais. Do contrário, pode ser interpretada como sendo para constrangimento ou espetacularização. A Deic justificou que o algemou para que não tentasse pular uma janela, sair correndo ou mesmo tentar agredir alguém.

A defesa

Para o advogado Roberto Brasil Fernandes, não há motivo para a prisão de Goetten. O que deveria ter ocorrido, avaliou, é uma rigorosa investigação policial, que, segundo o advogado, terminaria com outros indiciados.

– Há nas atitudes do meu cliente uma imoralidade do ponto de vista social por se relacionar com prostitutas, mas não crime – afirmou Brasil, que garante que seu cliente não se relacionou com menores.

Brasil defende Goetten e Cristiane Paes. Informou que entrará com pedido de liberdade à juíza de Itapema assim que a polícia concluir o inquérito, o que deve ocorrer ainda nesta semana. Clóvis Barcelos, defensor de Gilberto Orsi, disse que também vai esperar a conclusão e o envio do relatório policial à Justiça.

Um duro golpe na carreira política

De vereador mais votado a prefeito, depois deputado estadual e deputado federal. E, por último, detento do presídio de Itapema, no Litoral Norte catarinense. A carreira política de Nelson Goetten de Lima, 55 anos, teve ascensão meteórica. Agora, desde que foi algemado em uma barbearia de São José, está sofrendo um baque que pode ser o começo de sua decadência.

Um golpe duro para que foi eleito em todas as eleições que disputou.

Goetten é o filho mais velho de uma família de 10 irmãos. Não chegou à universidade. Em 1988, o então empresário, cristão, casado e pai de três filhos, foi o vereador mais votado do município onde nasceu, Taió, no Alto Vale do Itajaí, pelo antigo PDS. Atribui sua vitória à falta de candidatos e ao fato de nunca ter pensado em ser candidato, mas não conseguir ficar de “braços cruzados”. Presidente da Câmara, promoveu sessões itinerantes, algo até inovador para a época, principalmente em cidades menores. Dizia que “era uma oportunidade única de aprender com os munícipes”.

Eleição tranquila e bens bloqueados

O político ficou no cargo até 1992 e no ano seguinte já era o prefeito da cidade pelo PPB. Três anos depois foi eleito deputado estadual e ficou no cargo por dois mandatos, de 1999 a 2006. Na Assembleia, entrou como o deputado mais votado do Estado, um feito e tanto para um político saído de uma cidade pequena.

No fim do mandato na AL, Goetten chegou a ter os bens bloqueados pela Justiça. De acordo com o Ministério Público, teriam sido desviados R$ 3 milhões em subvenções sociais do governo estadual destinados a entidades ligadas ao então deputado.

Com a ação ainda em curso, em 2007, Goetten foi eleito deputado federal pelo PFL, atual DEM. Antes de assumir o cargo, trocou de partido e se tornou o principal nome do PR em Santa Catarina, aderindo, assim, à base aliada do governo Lula.

Decidiu não disputar a reeleição no ano passado, mas continuou atuante como presidente estadual do partido. Considerado o homem forte do Ministério dos Transportes em Santa Catarina, pasta do ministro Alfredo Nascimento (PR), era comumente consultado quando o assunto era mobilidade.

Seu nome chegou a ser cogitado pela presidente Dilma para um espaço de articulação política em Brasília. Ideia certamente abandonada, depois que ele foi parar em uma cela comum da unidade prisional de Itapema. Está separado da maioria. Foi para o isolamento, para onde os delatores e envolvidos em crimes sexuais.

2 comentários:

Luiz Carlos Rosso disse...

A Matéria acima mostra ao público leitores ou não, um carrasco, um marginal, um ser que todos nos temos que ter raiva, ódio e até mesmo medo, pois é visto como um maníaco que pega as “meninas” come e mata, ele é muito perigoso. Agora pergunto será necessário querer mostrar tanta vitória ao prendê-lo, porque tantas algemas? Desculpa esfarrapada ao dizer que poderia fugir pela janela, porque não o acorrentaram ao pé da mesa ou trancaram no banheiro, pois foi como se fosse, pra que mostrar tanto esta humilhação? Foi para que as mídias tirassem proveito disso num sensacionalismo sem fim? Ou para aproveitar a postura política e o pondo numa humilhação perante seus eleitores? Se a lei diz que não precisa agir com este rigor. Fazer questão de mostrar até o pão ázimo em cima da mesa só para mostrar que seu farto bife se transformou em pão velho. Hipócritas não sabem que tudo isso só vai ferir os seus aqui fora? Eles estão lá e não fazem a mínima idéia do que está acontecendo aqui fora.

E estas adolescentes onde estão? As suas famílias, seus responsáveis, porque só agora se faz tanto tempo. Adolescentes não me enganam 14 e 15, 16 anos já menstruam e sabem como e bom sentir prazer, agora até mesmo aparece jovens de 18 anos que se dizem vítimas, por que só agora. Dizem que uma tia vendeu a sobrinha, as mães obrigavam suas filhas a prostituição em troca de dinheiro. Agora apareceram outras autoridades, a bosta foi lançada ao ventilador. Será que só este homem irá pagar? Será que as outras autoridades irão aparecer de mão atadas numa humilhação pública como fizeram com o ex-deputado Nelson? Pago pra ver. Não sou partidarista, mas sou humanista, me preocupo com as pessoas que ficaram aqui fora. Quanto a condenação deixem que a consciência dele o condene, ele sabe do grave erro que cometeu tanto faz estar aqui como lá dentro, pois sua vida ficou manchada em seu intimo e esta dor só ele pode sentir.

Obrigado

Anônimo disse...

Li essa matéria não por curiosidade dos desvios sexuais do ex-deputado Nelson, mas por saber haver uma ligação fraterna entre ele e um atual deputado federal por Santa Catarina.

E achei interessante esse comentário do Sr. Luiz Carlos Rosso:
´Agora pergunto será necessário querer mostrar tanta vitória ao prendê-lo, porque tantas algemas? Desculpa esfarrapada ao dizer que poderia fugir pela janela, porque não o acorrentaram ao pé da mesa ou trancaram no banheiro...´.
Sr. Rosso, com algemas ou acorrentado ao pé da mesa é quase a mesma coisa... só muda o membro do corpo, mão ou pé...