VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

IMPOSIÇÃO ÉTICA


EDITORIAL ZERO HORA 08/06/2011

Demorou, mas o governo e o ministro Antonio Palocci compreenderam finalmente que os brasileiros não aceitam mais conviver com suspeições e omissões por parte de seus governantes e representantes políticos. Durou três semanas a agonia do chefe da Casa Civil que não conseguiu explicar de forma satisfatória à nação como ganhou somas milionárias em pouco tempo, enquanto exercia o mandato de deputado federal – e o governo, também por inexplicável inação, acabou sangrando junto e levando o país a uma crise política que já ameaçava comprometer o próprio desenvolvimento alcançado na última administração.

Felizmente, a turbulência parece estar acabando. Um dia depois de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ter optado pelo arquivamento do pedido de investigação sobre o aumento desproporcional de seu patrimônio e poucas horas depois de os senadores do PT terem lhe negado uma nota de apoio, o ministro Antonio Palocci deixou a Casa Civil. Ainda que tenha direito à presunção de inocência, Palocci demorou demais para tomar sua decisão. Por mais que se decidisse a prestar, a partir de agora, as explicações públicas que se negou a fornecer desde o dia 15 de maio, quando uma reportagem da Folha de S. Paulo revelou um aumento de 20 vezes em seu patrimônio no período de apenas quatro anos, já era tarde. Livre de mais esse constrangimento do qual poderia ter sido poupado há mais tempo, é importante que o governo trate agora de retomar o tempo perdido por mais essa crise política motivada por razões éticas.

Desde a queda do ex-ministro José Dirceu, ainda no início da administração Luiz Inácio Lula da Silva, até a da ex-ministra Erenice Guerra, já quase ao final, é cada vez mais evidente que em qualquer pasta, especialmente na Casa Civil, não há mais qualquer possibilidade de alguém se manter no cargo sob suspeição. Mesmo já tendo se envolvido anteriormente em episódios rumorosos de lobbies, como o que culminou na quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, o ministro que será substituído pela senadora petista Gleisi Hoffmann foi guindado ao cargo justamente com a incumbência de facilitar o relacionamento entre a presidente Dilma Rousseff e o Congresso, garantindo a governabilidade. É preciso reconhecer que, num primeiro momento, a atuação do ministro chegou a ser elogiada até mesmo por segmentos da oposição, pois ele se mostrou um executivo experiente e um bom articulador. Porém, a partir das dúvidas levantadas em relação ao seu enriquecimento e à demora em dar explicações convincentes, acabou provocando uma preocupante paralisação do governo. Acuado, o governo passou a direcionar suas melhores energias para contornar um episódio extremamente desgastante para a sua imagem e para a da política de maneira geral, que já não é das melhores.

O caso Palocci também evidencia o papel fiscalizador da imprensa numa democracia. Quando os homens públicos frustram as expectativas da sociedade e as instituições não conseguem dar uma resposta rápida e satisfatória, a opinião pública bem informada faz a roda democrática andar. Até mesmo por conhecer bem os meandros do poder, o ministro agora destituído tinha o dever de zerar suas atividades no setor privado e de transmitir com clareza suas decisões à presidente da República. Além disso, deveria ter agido com total transparência no momento em que foram levantados os primeiros questionamentos sobre suas atividades empresariais. Não o fez e acabou pagando o preço do descrédito.

A saída do ministro e sua substituição pela senadora paranaense são passos importantes para a superação de uma crise política que, surgida ainda na fase incipiente do atual governo, já colocava em risco sua credibilidade e seus compromissos com a moralidade pública. Mas o episódio até pode ser benéfico para a nação, se a presidente Dilma Rousseff souber utilizá-lo como exemplo, deixando claro que, mesmo sem incorrer em prejulgamentos, não vai tolerar situações desse tipo em seu governo. E, principalmente, que não deixará situações análogas se prolongarem por tanto tempo.

O país vive hoje uma situação econômica delicada, e dificuldades no âmbito político poderiam provocar consequências imprevisíveis, de alto custo para a sociedade. A responsabilidade se transfere agora para a futura ministra Gleisi Hoffmann, de quem se espera que possa compensar a pouca experiência com a competência que o Brasil precisa para superar os problemas com os quais se defronta.

Nenhum comentário: