Miséria Palace Hotel
Cambridge, Othon, Lord: os nomes desses antigos hotéis pretendiam, por certo, sublinhar as aspirações de refinamento de uma cidade que já abandonara o antigo ar provinciano. Na São Paulo de meados do século passado, ainda assim, rareavam os estabelecimentos de nível internacional --e durante um bom tempo o Othon, em pleno centro, foi referência no setor.
Veem-se com tristeza, assim, as imagens de sua invasão por um grupo de 800 sem-teto. A degradação só não é completa porque os novos habitantes, vinculados a uma entidade organizada, estabeleceram normas rígidas de convivência, interditando naquele espaço o uso de drogas e a prostituição.
Apesar dos cuidados, as condições de alojamento são péssimas. A água, que não é potável, encontra-se disponível apenas em duas escavações no andar térreo; carregada em baldes, serve aos ocupantes dos 26 pavimentos do edifício.
No antigo hotel Cambridge, há não muito tempo um ponto de encontro para a vanguarda boêmia da cidade, apenas no andar térreo as 200 famílias invasoras encontram banheiros em funcionamento.
A falta de moradia, que aflige as populações indigentes de São Paulo, soma-se à tática de criar situações dificilmente administráveis depois do fato consumado.
Essa faceta mais política se intensifica, segundo especialistas, pela presença do PP na Secretaria de Habitação. A sigla, a que pertence o ex-prefeito Paulo Maluf, faz parte da multicolorida aliança que conduziu o petista Fernando Haddad à chefia do município.
A "ocupação" da máquina do Estado por ampla coalizão parece exacerbar uma militância que circulava pelos anexos menos iluminados do antigo Grande Hotel PT.
O principal, porém, não está na forma como o novo prefeito há de orientar-se nesse labirinto de pressões contraditórias, mas no rumo a ser tomado por efetivas ações de revitalização do centro de São Paulo.
Tem-se a impressão de que está em curso verdadeiro trabalho de Sísifo na cidade. Enquanto são feitos investimentos na região da Luz, áreas que não pareciam diretamente ameaçadas pela deterioração surgem prejudicadas.
Lugares que fazem parte da memória paulistana, ainda impregnados de algum charme, seriam até mais fáceis de revitalizar --antes que se vejam corroídos pela miséria, pela exploração política, pela inatividade dos governos e pelo desinteresse da iniciativa privada.
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