EDITORIAL INTERATIVO
Um dos refrões mais reiterados nas manifestações de rua, o sem partido, conquistou um aliado importante na última semana o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, que defendeu publicamente a possibilidade de a democracia no país passar a conviver com candidaturas avulsas. A justificativa do ministro é semelhante à bradada nos protestos: a de que é preciso haver uma diminuição do peso dos partidos na vida política brasileira, pois o país cansou de conchavos. Democracias como a nossa não podem prescindir de partidos. Mas, se uma das razões de insatisfação dos jovens é o fato de as legendas atuais estarem mais voltadas para os interesses de seus próprios integrantes, de familiares e amigos do que para as causas da sociedade, este é o momento de o país repensar a questão. Se for a vontade da maioria, não há por que não permitir que uma parcela dos eleitores tenha a alternativa de votar em quem se dispõe a concorrer sem o abrigo de uma agremiação.
Candidaturas avulsas já são uma rea-lidade em algumas democracias consolidadas – caso dos Estados Unidos. E, assim como ocorre agora em diferentes Estados brasileiros, o debate ganhou ênfase a partir de pressões populares como as registradas recentemente em países como Espanha e Portugal. No Brasil, o tema chegou a ser incluído entre os 15 debatidos na Comissão da Reforma Política do Senado. Ainda assim, como seria de se esperar de um Congresso que só costuma decidir sob pressão, tudo ficou no plano das intenções. Mas deve haver alguma coisa de errado num país no qual integrantes de 30 partidos políticos legalizados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem contar os que se encontram na fila de espera, não conseguem nem se distinguir claramente uns dos outros, nem atender às aspirações de parte considerável do eleitorado.
Nove em cada 10 países democráticos, conforme a Rede de Informações Eleitorais ACE, permitem candidatos avulsos em algum tipo de eleição. Cerca de 37% dos países aceitam candidaturas independentes em eleições legislativas e presidenciais, quase 40% apenas para eleições legislativas e 13% para a escolha de presidente da República. O Brasil integra uma minoria que exige vínculo partidário dos postulantes a voto. Pesam, no caso brasileiro, o corporativismo de integrantes de partidos obcecados pelo poder e temores como o risco de enfraquecimento das legendas, com potencial para ameaçar a governabilidade, pelo fato de o Executivo precisar negociar individualmente com parlamentares, não com líderes. Essa, porém, é a hora de ousar, até mesmo como forma de a política recuperar credibilidade.
O país deveria aproveitar a oportunidade para ouvir a voz das ruas e romper com o monopólio de legendas tradicionais que, preocupadas com suas próprias causas, não atendem mais aos anseios populares. E essas agremiações deveriam se mobilizar para recuperar a identidade programática e tentar resgatar a confiança do eleitorado. Desde a primeira metade do século 19, a democracia brasileira se baseia em partidos políticos – e não tem como ser de outra forma. É mais do que hora, porém, de se assegurar em lei uma alternativa para políticos dispostos a romper com essa precondição e para eleitores interessados em eleger representantes que transcendam as limitações impostas pelas máquinas partidárias.
O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na sexta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias entre as 579 manifestações recebidas até as 18h de sexta. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você é favorável a candidaturas sem partido, como defende o editorial?
O leitor concorda
Concordo plenamente. Estar filiado a um partido para poder concorrer significa concordar com as ideologias deste. Sem partido, o candidato poderá defender outras ideias que não as definidas por esses partidos, que, na maioria das vezes, são visões de interesse unicamente próprio, pessoal e não de interesse público.
Marta Bortolussi – Rondinha (RS)
Concordo plenamente. Somente assim, acabariam os partidinhos de aluguel, que aceitam gordas quantias em troca de apoio político geralmente a partidos de situação, que só fazem legislar em causa própria e criar leis para executar suas falcatruas na impunidade.
Vilmar Andrades – Salvador (BA)
Sim. Está mais do que na hora de termos novas opções de candidaturas e parar com essa história de um candidato com votos de sobra emprestar para insignificâncias assumirem cadeiras representativas.
Flávio Machado – Tramandaí (RS)
Concordo. Estamos diante de uma maioria que não quer estar afiliada a nenhuma concepção já definida e está pedindo, nas ruas, este direito de representação autônomo. Porém, este modelo específico constitucional também precisa ser melhorado.
Marcus Vinícius Fernandes Machado
Porto Alegre (RS)
Totalmente a favor. Os políticos atuais só pensam em obter vantagens a qualquer custo. Dizem que a compra de voto é proibida, mas o que é o Bolsa Família? Concordo com o auxílio, mas ensinem a pescar e não sempre dar o peixe.
Fernando Silva – Sananduva (RS)
Quanto menos partido, melhor...
Paulo Albuquerque - Facebook
O leitor discorda
Mesmo com toda roubalheira, os partidos são necessários. Imagine um traficante, estuprador, “admirador do nazismo”, enfim, candidatos a prefeito, deputado, senador ou até mesmo a presidente, como vai ficar? Por isso não. Ainda acredito no sistema partidário.
Vera Bohmer – Pelotas (RS)
Sou contra. Pois o partido não é apenas uma bandeira, é uma ideologia, é o símbolo de uma ideia que se busca aplicar na política. O corrupto não é o partido, são as pessoas que fazem parte dele.
Luís Carlos Torres – Porto Alegre (RS)
Absurdo... Em que lugar do mundo tem isso?
Mauri Hartmann - Facebook
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - "Diga-me com quem andas e te direi quem és". Neste rol de partidos integrados e comandados por ficha-sujas, tem que haver espaço para o independente, aquela pessoa que não aceita integrar e defender promessas vãs e programas não cumpridos de partidos que se dizem democráticos, trabalham em prol dos anseios do povo e empunham a bandeira contra a corrupção, mas que agem de forma contraditória e aceitam em seus quadros e comandos, políticos com históricos e suspeitas de ilicitudes, improbidades e imoralidades. Cada vaga conquistada por uma independente será motivo de reações e mudanças na postura dos partidos políticos brasileiros.
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JORNAL DE NOTÍCIAS - PORTUGAL - Publicado em 2013-03-20
O empresário Rui Moreira anunciou, esta quarta-feira, a sua candidatura "livre, independente e sem partidos" à Câmara do Porto nas próximas eleições autárquicas, garantindo que o seu "partido é a cidade do Porto".
foto PEDRO CORREIA / GLOBAL IMAGENS
Empresário Rui Moreira apresentou a sua candidatura à Câmara do Porto
"Sou candidato à presidência da Câmara numa lista livre, livre e independente - verdadeiramente independente - que se apresentará à Câmara Municipal, à Assembleia Municipal e a todas as freguesias sem exceção", disse Rui Moreira logo no início do seu discurso no mercado Ferreira Borges, no Porto.
Garantindo que "nesta lista só cabe o Porto, mas cabe o Porto todo", o presidente da Associação Comercial do Porto reiterou que a sua "candidatura livre e independente" foi "gerada e animada por um movimento espontâneo da sociedade civil".
"Na verdade, pela primeira vez em Portugal, ou, pelo menos, na vida das grandes cidades portuguesas, há uma candidatura autenticamente independente, sem ligação a qualquer partido, fação ou corrente partidária. (...) Todos o sabem: só tenho um partido. O meu partido é a cidade do Porto. O meu partido é o Porto", sublinhou.
Rui Moreira adiantou ainda que a candidatura "não será todavia um movimento contra os partidos ou contra as instituições e que "estará, sempre e em qualquer circunstância, contra toda e qualquer forma de populismo ou de demagogia".
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=3120437
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