‘Há gente que quer o partido para negociar vantagens’
No Pará, dirigente de legenda nanica diz ‘não ter a sorte’ de obter ganhos financeiros
CHICO DE GOIS ]
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O GLOBO
Atualizado:9/06/13 - 23h30
BRASÍLIA - Embora recebam recursos públicos para manter sua estrutura e, em alguns casos, seus dirigentes, os partidos políticos, sobretudo os pequenos, mesmo sem grande viabilidade eleitoral, têm um tesouro que interessa a qualquer candidato: tempo de rádio e TV, para propaganda gratuita. Qualquer segundo a mais na propaganda de quem pleiteia uma vaga no Executivo é bem-vindo. Por isso, em época de eleições, as negociações para fazer alianças que possam aumentar a exposição de um candidato avançam por ideias, oportunidades e números.
Em particular, muitos políticos admitem que comandar um partido pode significar bons negócios. Mas, em público, todos negam. O ex-deputado estadual Antenor Fonseca de Oliveira, de 80 anos, que até se esquece dos partidos aos quais já foi filiado, agora comanda o PSL do Pará. De acordo com demonstrativo entregue ao TRE-PA, a legenda não recebeu qualquer doação nem repasse do Fundo Partidário, porque estava inadimplente na prestação de contas, incluindo a de 2012, que deveria ter sido apresentada até 30 de abril deste ano.
Oliveira disse que vai entregar as contas e quem está cuidando da contabilidade é sua secretária:
— Ela é bem esperta e está cuidando disso — disse ele, por telefone, do interior do Pará.
Oliveira, que dá como endereço da sede do PSL do Pará uma velha casa em Belém, diz que é ele quem paga as despesas de seu partido e que, apesar dos gastos, resolveu assumir a direção do partido nanico por “amor à política”. Ao ser perguntado sobre eventuais negociatas para venda de horário eleitoral, titubeou.
— Para quem gosta de política, é bom criar um partido. Financeiramente, não posso dizer. Eu não tenho essa sorte... — disse, calando-se em seguida.
Depois desconversou:
— A gente faz acordos para conseguir coeficiente eleitoral.
O PR do Pará hoje é presidido pelo ex-deputado Anivaldo Juvenil Vale, que trocou o PSDB pelo PR. Um dos filhos dele, deputado Lúcio Vale, é o vice-presidente. O outro filho, Cristiano Vale, é prefeito de Viseu. Anivaldo admite que há partidos de aluguel, mas nega que esse seja o caso da legenda que dirige.
— Nosso partido não é de aluguel — declarou.
Raimundo José Pereira dos Santos, dirigente do PEN no Pará, é outro que confirma que muita gente quer dirigir um partido para poder fazer negociatas na época das eleições. Mas ele afirmou que os recursos do Fundo não chegam a seu estado, e que é movido apenas por ideais:
— No momento certo, teremos ajuda.
Raimundo discordou da afirmação do presidente do STF, Joaquim Barbosa, de que há partidos de mentirinha. Mas admitiu que, infelizmente, alguns não existem de verdade:
— Há gente que quer o partido para si para ter um poder econômico maior e negociar vantagens nas eleições. Isso acontece. Estou vivenciando isso — disse, sem citar nomes.
Para o cientista político Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), os partidos se transformaram em empresas em que ser presidente é o melhor dos mundos. Para ele, o horário eleitoral é a moeda de troca mais preciosa:
— O tempo de TV funciona como uma mercadoria.
E o pagamento pode vir em cargos públicos ou contratação de serviços. No Tocantins, o presidente do PTdoB local, Antonio Maracaípe, ganhou três contratos com o Estado. No primeiro, em 2006, recebeu R$ 21 mil para fazer shows de carnaval. Em 2008, foram R$ 117 mil por shows na Conferência da Juventude e, em 2011, R$ 40 mil para fazer som e iluminação na Feira Literária. (Chico de Gois)
Atualizado:9/06/13 - 23h30
BRASÍLIA - Embora recebam recursos públicos para manter sua estrutura e, em alguns casos, seus dirigentes, os partidos políticos, sobretudo os pequenos, mesmo sem grande viabilidade eleitoral, têm um tesouro que interessa a qualquer candidato: tempo de rádio e TV, para propaganda gratuita. Qualquer segundo a mais na propaganda de quem pleiteia uma vaga no Executivo é bem-vindo. Por isso, em época de eleições, as negociações para fazer alianças que possam aumentar a exposição de um candidato avançam por ideias, oportunidades e números.
Em particular, muitos políticos admitem que comandar um partido pode significar bons negócios. Mas, em público, todos negam. O ex-deputado estadual Antenor Fonseca de Oliveira, de 80 anos, que até se esquece dos partidos aos quais já foi filiado, agora comanda o PSL do Pará. De acordo com demonstrativo entregue ao TRE-PA, a legenda não recebeu qualquer doação nem repasse do Fundo Partidário, porque estava inadimplente na prestação de contas, incluindo a de 2012, que deveria ter sido apresentada até 30 de abril deste ano.
Oliveira disse que vai entregar as contas e quem está cuidando da contabilidade é sua secretária:
— Ela é bem esperta e está cuidando disso — disse ele, por telefone, do interior do Pará.
Oliveira, que dá como endereço da sede do PSL do Pará uma velha casa em Belém, diz que é ele quem paga as despesas de seu partido e que, apesar dos gastos, resolveu assumir a direção do partido nanico por “amor à política”. Ao ser perguntado sobre eventuais negociatas para venda de horário eleitoral, titubeou.
— Para quem gosta de política, é bom criar um partido. Financeiramente, não posso dizer. Eu não tenho essa sorte... — disse, calando-se em seguida.
Depois desconversou:
— A gente faz acordos para conseguir coeficiente eleitoral.
O PR do Pará hoje é presidido pelo ex-deputado Anivaldo Juvenil Vale, que trocou o PSDB pelo PR. Um dos filhos dele, deputado Lúcio Vale, é o vice-presidente. O outro filho, Cristiano Vale, é prefeito de Viseu. Anivaldo admite que há partidos de aluguel, mas nega que esse seja o caso da legenda que dirige.
— Nosso partido não é de aluguel — declarou.
Raimundo José Pereira dos Santos, dirigente do PEN no Pará, é outro que confirma que muita gente quer dirigir um partido para poder fazer negociatas na época das eleições. Mas ele afirmou que os recursos do Fundo não chegam a seu estado, e que é movido apenas por ideais:
— No momento certo, teremos ajuda.
Raimundo discordou da afirmação do presidente do STF, Joaquim Barbosa, de que há partidos de mentirinha. Mas admitiu que, infelizmente, alguns não existem de verdade:
— Há gente que quer o partido para si para ter um poder econômico maior e negociar vantagens nas eleições. Isso acontece. Estou vivenciando isso — disse, sem citar nomes.
Para o cientista político Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), os partidos se transformaram em empresas em que ser presidente é o melhor dos mundos. Para ele, o horário eleitoral é a moeda de troca mais preciosa:
— O tempo de TV funciona como uma mercadoria.
E o pagamento pode vir em cargos públicos ou contratação de serviços. No Tocantins, o presidente do PTdoB local, Antonio Maracaípe, ganhou três contratos com o Estado. No primeiro, em 2006, recebeu R$ 21 mil para fazer shows de carnaval. Em 2008, foram R$ 117 mil por shows na Conferência da Juventude e, em 2011, R$ 40 mil para fazer som e iluminação na Feira Literária. (Chico de Gois)
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