O POVO À PORTA
GUILHERME MAZUI | BRASÍLIA
A Casa se desconectou do povo – que agora quer entrar. Símbolo da democracia, o Congresso virou alvo. Não pelo o que representa, mas pelo que faz no dia a dia. Na segunda-feira, teve a rampa e a cobertura tomadas por jovens. Na quinta, mais de 30 mil pessoas reforçaram o coro por mudanças, exposto na frase que resume a dissonância entre o parlamento e os brasileiros:
– Não nos representam.
O vigor da mobilização atingiu também o governo, que enfrenta problemas de relação com a própria base de apoio.
Os cartazes e faixas erguidos em Brasília na semana que passou mostram uma agenda diferente da observada nas votações da Câmara e do Senado.
As ruas clamam por investimentos em educação, porém o projeto do governo Dilma Rousseff que destina os bilhões dos royalties do petróleo para qualificar ensino e pesquisa corria o risco de ser engavetado. Já a proposta de emenda à Constituição (PEC) 37, meio de castrar o poder de investigação criminal do Ministério Público, seria votada na próxima quarta. Acabou adiada no grito.
– O que é prioridade no Congresso não é a nossa prioridade – diz a estudante Amanda Lucchi.
Aos 17 anos, a adolescente estava na multidão que subiu a rampa do prédio projetado por Oscar Niemeyer. Na terça-feira, dia seguinte à cena histórica, parlamentares e assessores se reuniam pelo Salão Verde da Câmara na tentativa de decifrar os motivos dos protestos. Contudo, no mesmo dia, a Comissão de Direitos Humanos, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou o polêmico projeto da “cura gay”, criticado pelos manifestantes.
– O Congresso mostrou a falta de conexão com os representados. Essa é a raiz da crise – diz Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da UFRJ.
O descompasso também é criticado pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que vê o Congresso isolado em torno de interesses dos próprios parlamentares e de seus financiadores de campanha. O projeto que limita a criação de novos partidos, concebido sob medida para reeleição da presidente, tramita como se fosse prioridade nacional, enquanto a desoneração do transporte coletivo é debatida há uma década, sem avanços.
– A gente discute o lobby dos empresários e os desejos do governo. Não se dá ouvido para o que realmente interessa aos brasileiros – afirma Wyllys.
Captar os anseios, em especial dos jovens, é um desafio, analisa o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Deputados e senadores nasceram e entraram na política em um mundo analógico, diferente do atual, conectado e digital.
– São os assessores que estão nas redes sociais. E existe uma dificuldade de compreender os pedidos que saem dessa plataforma – observa Prando.
Ícone dos caras-pintadas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) admite a crise de representação. Ele incentiva o uso do mesmo mecanismo que recolocou os brasileiros nas ruas: a internet.
– A participação das pessoas na rotina do Congresso precisa ser mais direta. É preciso aproveitar que elas estão conectadas para que ajudem a criar uma pauta mais alinhada à realidade.
Pressionados, deputados e senadores tentam reagir. A votação da PEC 37 foi adiada, pode ser arquivada. Projetos focados em saúde e educação ameaçam deixar escaninhos – um ato insuficiente, na visão do professor Teixeira. Para o historiador, é preciso votar e rejeitar a PEC, cassar os deputados condenados no julgamento do mensalão, aprovar o marco civil da internet e o destino dos royalties para educação. As ações indicariam uma reaproximação entre Congresso e povo.
Parlamentares mais experientes concordam com a urgência de ações imediatas, como a votação dos royalties, mas querem aproveitar o momento para promover a reforma política. Em seu décimo mandato na Câmara, Miro Teixeira (PDT-RJ) defende a convocação de uma Constituinte restrita às reformas política, tributária e do pacto federativo.
– As pessoas reclamam de impostos, da falta de representação, da falta de investimento em saúde e educação. Toda essa discussão se concentra nessa Constituinte – afirma Miro.
Um dos decanos do Congresso, Pedro Simon (PMDB-RS) cobra as reformas. Junto de cinco colegas, passou a quinta-feira em vigília no plenário, enquanto a multidão protestava em frente ao Congresso. Simon espera que as manifestações obriguem o Legislativo a adotar uma pauta mais conectada com as necessidades do país:
– A rua faz o que o Congresso deveria fazer.
A Casa se desconectou do povo – que agora quer entrar. Símbolo da democracia, o Congresso virou alvo. Não pelo o que representa, mas pelo que faz no dia a dia. Na segunda-feira, teve a rampa e a cobertura tomadas por jovens. Na quinta, mais de 30 mil pessoas reforçaram o coro por mudanças, exposto na frase que resume a dissonância entre o parlamento e os brasileiros:
– Não nos representam.
O vigor da mobilização atingiu também o governo, que enfrenta problemas de relação com a própria base de apoio.
Os cartazes e faixas erguidos em Brasília na semana que passou mostram uma agenda diferente da observada nas votações da Câmara e do Senado.
As ruas clamam por investimentos em educação, porém o projeto do governo Dilma Rousseff que destina os bilhões dos royalties do petróleo para qualificar ensino e pesquisa corria o risco de ser engavetado. Já a proposta de emenda à Constituição (PEC) 37, meio de castrar o poder de investigação criminal do Ministério Público, seria votada na próxima quarta. Acabou adiada no grito.
– O que é prioridade no Congresso não é a nossa prioridade – diz a estudante Amanda Lucchi.
Aos 17 anos, a adolescente estava na multidão que subiu a rampa do prédio projetado por Oscar Niemeyer. Na terça-feira, dia seguinte à cena histórica, parlamentares e assessores se reuniam pelo Salão Verde da Câmara na tentativa de decifrar os motivos dos protestos. Contudo, no mesmo dia, a Comissão de Direitos Humanos, presidida por Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou o polêmico projeto da “cura gay”, criticado pelos manifestantes.
– O Congresso mostrou a falta de conexão com os representados. Essa é a raiz da crise – diz Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da UFRJ.
O descompasso também é criticado pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que vê o Congresso isolado em torno de interesses dos próprios parlamentares e de seus financiadores de campanha. O projeto que limita a criação de novos partidos, concebido sob medida para reeleição da presidente, tramita como se fosse prioridade nacional, enquanto a desoneração do transporte coletivo é debatida há uma década, sem avanços.
– A gente discute o lobby dos empresários e os desejos do governo. Não se dá ouvido para o que realmente interessa aos brasileiros – afirma Wyllys.
Captar os anseios, em especial dos jovens, é um desafio, analisa o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Deputados e senadores nasceram e entraram na política em um mundo analógico, diferente do atual, conectado e digital.
– São os assessores que estão nas redes sociais. E existe uma dificuldade de compreender os pedidos que saem dessa plataforma – observa Prando.
Ícone dos caras-pintadas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) admite a crise de representação. Ele incentiva o uso do mesmo mecanismo que recolocou os brasileiros nas ruas: a internet.
– A participação das pessoas na rotina do Congresso precisa ser mais direta. É preciso aproveitar que elas estão conectadas para que ajudem a criar uma pauta mais alinhada à realidade.
Pressionados, deputados e senadores tentam reagir. A votação da PEC 37 foi adiada, pode ser arquivada. Projetos focados em saúde e educação ameaçam deixar escaninhos – um ato insuficiente, na visão do professor Teixeira. Para o historiador, é preciso votar e rejeitar a PEC, cassar os deputados condenados no julgamento do mensalão, aprovar o marco civil da internet e o destino dos royalties para educação. As ações indicariam uma reaproximação entre Congresso e povo.
Parlamentares mais experientes concordam com a urgência de ações imediatas, como a votação dos royalties, mas querem aproveitar o momento para promover a reforma política. Em seu décimo mandato na Câmara, Miro Teixeira (PDT-RJ) defende a convocação de uma Constituinte restrita às reformas política, tributária e do pacto federativo.
– As pessoas reclamam de impostos, da falta de representação, da falta de investimento em saúde e educação. Toda essa discussão se concentra nessa Constituinte – afirma Miro.
Um dos decanos do Congresso, Pedro Simon (PMDB-RS) cobra as reformas. Junto de cinco colegas, passou a quinta-feira em vigília no plenário, enquanto a multidão protestava em frente ao Congresso. Simon espera que as manifestações obriguem o Legislativo a adotar uma pauta mais conectada com as necessidades do país:
– A rua faz o que o Congresso deveria fazer.
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