VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 22 de junho de 2013

ELES NÃO SABEM PARA ONDE IR

REVISTA ISTO É N° Edição: 2275 | 21.Jun.13


Surpreendidos com um movimento que foge de todos os padrões conhecidos até aqui, líderes políticos dão declarações desencontradas e tomam decisões que são revogadas logo a seguir

Pedro Marcondes de Moura





Os protestos dos últimos dias provocaram um efeito tão notável quanto imprevisível: eliminaram as diferenças entre os líderes políticos do País. Governadores, prefeitos, ministros, senadores e deputados de partidos diversos e inclinações ideológicas opostas, todos eles foram empurrados para a vala comum do desprezo exibido com orgulho nas ruas pelos manifestantes. Atordoados, os políticos desandaram a falar bobagens – e revelaram como estão despreparados para lidar com os ventos que sopram nestes novos tempos. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, declarou na quinta-feira 13 que não negociaria a redução do preço das passagens e que não estava disposto a dialogar com os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL), definido por ele como “pequeno e muito violento”. Vinte e quatro horas depois, como que para justificar a brutalidade da polícia que agredira manifestantes, Alckmin disse, sobre os manifestos, que se tratava de “atos de vandalismo”. Foram necessários apenas alguns dias para o governador mudar de ideia e afirmar que, sim, estava disposto a dialogar. Mais: ele até elogiou o movimento, contrariando tudo o que falou antes. No dia 19, a virada definitiva: “Vamos revogar o reajuste”, rendeu-se Alckmin. “Queremos tranquilidade para que a cidade funcione.” Em tempo: vale lembrar que foram as ações da polícia de Alckmin na violenta quinta-feira 13 que serviram de combustível para alimentar o clima dos protestos por todo o País.



O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi outro a esquecer rapidamente de suas convicções. Na quarta-feira 19, Haddad disse que a revogação do aumento seria um ato populista. No mesmo dia, apenas algumas horas depois, o prefeito foi às câmeras anunciar a revogação do reajuste. O esforço para convencer Haddad a recuar foi mais complicado do que os petistas imaginavam. Aos argumentos de Lula e Dilma, o prefeito respondia com explicações técnicas. Explicou que possuía um cronograma de entradas e saídas de recursos que não poderia alternar, sob o risco de comprometer outros investimentos, inclusive a construção de corredores de ônibus. Em outra investida, Rui Falcão, presidente do PT, e Paulo Teixeira, secretário-geral do partido, foram falar com o prefeito. Não tiveram melhores resultados. Eles chegaram a conversar sobre a possibilidade de diminuir o desembolso pesado que a prefeitura deve fazer para pagar suas dívidas com o governo federal, mas Haddad não se mostrou convencido diante das alternativas colocadas. Na tarde de terça-feira, a situação caminhava para um impasse que deixava lideranças históricas do PT em estado de perplexidade absoluta. Numa reunião com sindicalistas no Instituto Lula, o ex-presidente não escondia o desconforto depois de ouvir a notícia de que entidades sindicais se preparavam para aderir ao movimento, inclusive aquelas que, em tempos passados, eram chamadas de pelegas. No fim da tarde, veio uma boa notícia. Após uma conversa por telefone com Dilma, o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, se disse convencido de que deveria revogar o aumento. A própria Dilma deu a notícia a Haddad. Pouco depois, o prefeito e o governador Geraldo Alckmin anunciaram a revogação.


DIFÍCIL DECISÃO
Após conversa com Dilma, o prefeito do Rio se convenceu da revogação

O retrato da incapacidade da classe política em compreender os protestos das últimas semanas foi a declaração do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na terça-feira 18. Responsável pela interlocução do governo federal com os movimentos sociais, ele não escondeu o fato de estar perdido diante das manifestações. “Está difícil entender”, disse Carvalho. Cientistas políticos entrevistados por ISTOÉ acham compreensível, diante do cenário atual, o espanto dos políticos com a onda de manifestações. Na opinião deles, recolhidos em seus locais de despacho e cercados por assessores com discursos alinhados aos seus, os governantes acabam simplesmente deslocados da realidade. Insistem em elaborar suas agendas e decisões de governo de cima para baixo, sem conexão com os movimentos populares. “Os políticos achavam que tudo se resumia a pesquisas de opinião e estratégias de comunicação. Com base nisso, tomavam decisões”, diz o consultor político Gaudêncio Torquato, da USP. “Ficaram inertes e não enxergam o crescimento do PNBI, Produto Nacional Bruto de Insatisfação. Pensaram que esse movimento era uma pequena canoa capaz de causar uma marola. Hoje, olham transatlânticos indo rumo aos palácios que ocupam.” Para Leonardo Barreto, professor da Universidade de Brasília (UnB), as diferentes esferas de poder cometeram um grave erro ao ignorarem as pautas de reivindicação do movimento logo no início. “Em política, você pode até falar não, mas precisa dialogar.”

Fotos: RICARDO LOU/NEWS FREE; ANTONIO CRUZ/ABR; Jonas Oliveira/ANPR; FABIO MOTTA/ESTADãO CONTEúDO
Foto: João Castellano/ag. istoé


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