VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 23 de junho de 2013

NOS PARTIDOS, MEA CULPA, MEDO E PROPOSTAS PARA UM FUTURO INCERTO


Políticos reagem a hostilidades e alertam para riscos totalitários

O GLOBO
Atualizado:23/06/13 - 9h27


Na Avenida Paulista, manifestante exibe cartaz contra duas das principais legendas do país Eliária Andrade / O Globo


RIO — Chamuscados pela onda de protestos da última semana, os partidos políticos ainda digerem os efeitos da revolta que eclodiu também contra o sistema representativo do país. Entre o mea culpa, a perplexidade, a indignação e o medo, políticos de vários partidos concordam em ao menos dois pontos: a hora é de cautela, para evitar o crescimento de grupos extremistas; e, sim, são inevitáveis os efeitos das manifestações na atividade política — no mínimo, os parlamentares precisarão mudar sua relação com os eleitores.

Políticos do PT iniciam a reflexão: ex-ministro do governo Lula e secretário estadual do Ambiente do Rio, Carlos Minc sustenta que os partidos erraram ao longo desses anos, quando “se acomodaram”.

— Muitos partidos, não só os de esquerda, descuidaram de sua renovação. Foram coniventes e entraram em esquemas corporativistas. Os governos precisam mudar — afirma Minc. — Temos que trabalhar no aperfeiçoamento das instituições, dos partidos, mudar o discurso e nos conectarmos com essas críticas que vieram para ficar.

Líder do “Fora, Collor”, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) avalia:

— Às vezes tem que vir um recado do povo para dar uma sacudida. Antigamente os partidos tradicionais de esquerda chamavam as passeatas. É como se eles dissessem: eu não preciso de vocês.

Jucá: lembra a Grécia Antiga

A autocrítica também está na pauta do líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP). Para ele, é evidente que partidos não conseguem “demonstrar sintonia com o sentimento da nação” por ficarem voltados aos problemas internos. As siglas devem, diz o parlamentar tucano, fazer uma profunda reflexão sobre o papel que cumprem e também sobre seus erros.

— Subirei à tribuna na terça-feira para fazer uma autocrítica da Câmara. Vi muitos colegas descendo a lenha no governo federal e em governos estaduais. Mas a Câmara tem que saber o que ela tem de responsabilidade. Os deputados devem responder acabando com voto secreto, derrubando a PEC 37. Não vou aproveitar e falar mal da Dilma. Que cada ente federativo faça o mea culpa. A Câmara deve fazer o seu.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) reconhece um processo que “vem desgastando a classe política e as instituições”. Ele vê “várias reivindicações legítimas, misturadas à violência policial e à indignação”. A partir desses protestos, diz Jucá, os políticos terão que criar mecanismos de conexão mais direta com o eleitor:

— Há uma tentativa de vários segmentos se colocarem de forma direta, como acontecia na Grécia antiga, do cidadão em praça pública. É uma representatividade arrojada, tecnológica, mas um pouco ancestral. O diálogo terá que ser mais direto com a população. Um tsunami democrático varreu as estruturas do país. Isso vai gerar uma renovação da representatividade.

Há também um certo pessimismo. O deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ) sustenta que há uma crise dos partidos de esquerda, um encolhimento do voto de opinião e, por outro lado, uma parte dos deputados e senadores segue sendo eleita pelo fisiologismo.

— Os partidos falharam. Sobretudo os grandes partidos de esquerda, como o PT e o PV. Cada um à sua maneira propunha mudanças, mas acabaram fagocitados pela política brasileira. Enquanto persistir o modelo eleitoral, é muito difícil partidos programáticos. Há uma tendência à homogeneização por baixo — diz Sirkis, que faz coro a outros políticos para o alerta: — O problema é que sem partido não há democracia. Não conhecemos outra.

O deputado estadual do Rio Marcelo Freixo (PSOL) diz que há uma contradição quando as pessoas evitam a participação de partidos. Para ele, está clara a crise de representatividade da democracia brasileira, uma “crise de identidade”, e o momento é desafiador.

— É muito importante separar duas coisas. Uma é a falta de identidade que leva uma massa a dizer, por exemplo, “povo unido não precisa de partido”. O que no fundo não é verdade. Qual seria o modelo de governo? Monarquia? Não é. O povo unido precisa de outros partidos. Por outro lado, existe um grupo nazista, de extrema-direita, que está indo para esses atos, se vestindo de forma diferente. São mascarados, fortes, lutadores — argumenta Freixo. — O desafio de todos é entendermos que não podemos ameaçar a democracia representativa.

Freixo também cita regimes ditatoriais para comentar o sentimento antipartido revelado por milhares de manifestantes:

— É bom lembrar que vivemos 21 anos de ditadura e ninguém, ou a maioria, não tem saudade. A primeira coisa que qualquer ditadura faz é acabar com partido e Congresso. E partido é a ideia da diferença para se expressar. O contrário de partido é o totalitário.

Ilusão perdida com a política

No meio da manifestação da última quinta, um político estava refugiado num posto de gasolina ao lado da Rua General Caldwell, no Rio, depois da explosão de três bombas. Era o secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, que viu “a direita” nas ruas:

— A esquerda que sempre esteve nas ruas, que fez as Diretas, o Petróleo é Nosso, o impeachment do Collor é muito mais democrática do que a direita. Aqui existe uma direita fascista sendo alimentada nesse antipartidarismo.

Em tom de desabafo, Alfredo Sirkis assume que ele mesmo se tornou um desiludido da política. Seus dias no parlamento, diz, estão contados.

— De certa forma, ao colocar todos os detentores de mandato numa vala comum, está se aprofundando a crise do voto de opinião. Os manifestantes não querem, de jeito nenhum, participar de política formal. É o meu caso: estou em contagem regressiva para sair desse negócio.

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