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sexta-feira, 21 de junho de 2013

UM MILHÃO DE PESSOAS EM PELO MENOS 80 CIDADES


Manifestações pelo país reúnem 1 milhão de pessoas em pelo menos 80 cidades. Itamaraty e prefeitura do Rio são atacados; protestos em 10 cidades acabam em violência


CHICO OTAVIO 
O GLOBO
Atualizado:21/06/13 - 11h37

Manifestação no Centro do Rio Eduardo Naddar / Agência O Globo


RIO — Manifestantes radicais venceram a maioria pacifista e deram o tom dos protestos em série que tomaram nesta quinta-feira as ruas do país, reunindo 1 milhão de pessoas. Indiferentes à redução dos preços das passagens de ônibus em capitais como Rio e São Paulo, grupos sectários entraram em confronto com a Polícia Militar em pelo menos dez cidades brasileiras, ofuscando as pessoas que pretendiam se manifestar em paz. As lideranças das marchas, representadas principalmente pelo Movimento Passe Livre, foram incapazes de conter os confrontos. A sede da prefeitura do Rio e imediações, na Cidade Nova, foram transformadas em campo de batalha, deixando 41 pessoas feridas. As cenas de violência se repetiram em Brasília, onde o Palácio do Itamaraty foi atacado por vândalos, e em Salvador, Porto Alegre, Manaus, Vitória, Natal, Belém, Campinas e Ribeirão Preto (SP).

Após os confrontos, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião de emergência com ministros para amanhã, às 9h30m. Mais cedo, preocupada com a escalada na violência, ela alterou sua agenda de viagens, entre as quais uma a Salvador hoje e outra ao Japão, no domingo, para acompanhar do Palácio do Planalto a situação.

Carros incendiados, prédios invadidos, lojas saqueadas, muros pichados, mobiliário urbano destruído, confrontos e prisões. Estas foram as marcas dos protestos de nesta quinta-feira, que ocorreram em pelo menos 80 cidades brasileiras e foram enfrentados pelas policiais militares com balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo. A pauta de reivindicações, ampla e difusa, incorporava desde tarifas mais baratas ao pedido de renúncia de autoridades.

Em Ribeirão Preto (SP), um manifestante, Marcos Delefrate, de 18 anos, morreu atropelado quando um carro tentou furar um bloqueio formado por manifestantes. Em Manaus, um jovem foi esfaqueado. Dois carros de reportagem, em Rio e em Natal, e dois ônibus da Fifa foram atacados, ambos em Salvador.

Partidos foram hostilizados

Numa das mais graves demonstrações de vandalismo do dia, grupos munidos de pedras, cones e garrafas quebraram vidros do Itamaraty, em Brasília. Logo que um rojão explodiu dentro do prédio, a PM revidou com bombas de efeito moral, gás de pimenta e usou até extintores para dispersar as pessoas que ocupavam as duas rampas de acesso ao prédio. Um dos manifestantes quebrou um refletor dentro do espelho d'água com um cone de trânsito. Outro agrediu um policial com a haste de sua bandeira.

Mais uma vez, militantes de partidos políticos e organizações sindicais foram hostilizados pelos manifestantes e expulsos dos protestos. Em São Paulo, cerca de cem integrantes do PT, usando camisetas vermelhas e com bandeiras na mão, chegaram a ser empurrados, xingados e trocaram socos e pontapés com jovens que gritavam “fora, PT”. Diante do repúdio dos manifestantes aos partidos políticos, militantes do PT, do PSB, do PCdoB e de outras legendas, como o PSTU e o PSOL, decidiram participar dos protestos em Brasília sem camisas, bandeiras ou qualquer outra identificação das siglas.

No Rio, os manifestantes que tomaram ontem a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, não pareciam dispostos a deixar que participantes tirassem proveito partidário do movimento. Houve brigas para evitar que isso acontecesse em vários momentos. Logo na concentração, junto à Igreja da Candelária, cerca de dez militantes usando camisetas da CUT, carregando bandeiras e panfletos, aguardavam o início da caminhada, quando foram cercados por um grupo de 20 manifestantes, que rasgaram as bandeiras e quebraram os mastros.

Em resposta às hostilidades, os comandos do PT e do PCdoB mobilizaram sua militância, centrais sindicais e movimentos sociais para fazer uma manifestação paralela. A convocação, uma reação ao apartidarismo da chamada “marcha do vinagre” e uma tentativa de neutralizar um impacto negativo das passeatas para a presidente Dilma Rousseff, foi iniciada nas redes sociais pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, um dia depois de se reunir com Dilma, o ex-presidente Lula, o marqueteiro João Santana e o ministro Aloizio Mercadante, em São Paulo.

Preparados para o confronto

No início da tarde, momento em que as marchas começavam a partir, o clima parecia tranquilo. No Rio, os cerca de 300 mil manifestantes partiram da Candelária em direção à prefeitura tomando a Avenida Presidente Vargas, a maioria caminhava tranquila, empunhando bandeiras e cartazes. Muitos usaram a máscara do “anônimo” e registravam as cenas com celulares e máquinas fotográficas. Porém, não demoraram a surgir grupos de pessoas com camisas escondendo o rosto, como se preparassem para o confronto ao encontrar as tropas policiais na entrada da prefeitura.

Os radicais começaram a brigar entre si, mas logo enfrentaram a Cavalaria, postada em frente à prefeitura. No conflito entre manifestantes e polícia, o repórter Pedro Vedova, da GloboNews, foi ferido na cabeça com uma bala de borracha. Um veículo de reportagem do SBT, estacionado perto da prefeitura, foi atacado durante o tumulto. Os equipamentos foram roubados de dentro do carro, que foi pichado e incendiado.

Foi tensa também a situação em Salvador. Dois ônibus da Fifa e um hotel que serve como QG da entidade foram atacados com pedras. Desde cedo, manifestantes concentrados no Campo Grande tentaram alcançar a arena da Fonte Nova, onde jogariam Nigéria e Uruguai, seguindo pelo bairro Nazaré. No meio do caminho, porém, foram barrados pela PM. Ao forçar a passagem, entraram em confronto, atirando pedras e outros objetos contra as balas de borracha e bombas disparadas pelos militares.

Em Manaus, dois ônibus foram apedrejados no protesto que reuniu mais de 30 mil pessoas no Centro da capital do Amazonas. Um adolescente de 16 anos, identificado como Joseias Santos, desentendeu-se com outro grupo de adolescentes e foi furado com uma faca no ombro por um outro jovem. Ele foi levado para o Serviço de Pronto Atendimento (SPA), e não corre risco de morte.

Prefeituras e um tribunal são apedrejados

A Tropa de Choque da PM não conseguiu evitar, em Campinas (SP), que grupos de manifestantes quebrassem com pedras os vidros da prefeitura, ameaçando também invadi-la. Alguns manifestantes passaram mal por conta do spray de pimenta lançado pelos militares, que também jogaram bombas de gás lacrimogêneo.

A PM também tentou, em Vitória, dispersar os radicais que se aglomeraram em frente ao Tribunal de Justiça. Não impediu que, por volta das 20h, um pequeno grupo soltasse rojões contra o prédio, em Vitória. Vidraças foram destruídas e um pequeno incêndio foi iniciado. Houve confronto entre manifestantes e vândalos.

Em Belém, manifestantes e polícia também entraram em confronto depois que um grupo começou a atirar pedras na sede da prefeitura. O prefeito Zenaldo Coutinho e vereadores foram à porta para dialogar com os manifestantes, mas foram atacados com pedras portuguesas, ovos, garrafas de plástico e frutas.

O vandalismo atingiu ainda Natal, onde um grupo tentou invadir o principal shopping da cidade e virou um carro de reportagem da TV Bandeirantes.


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