VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 22 de junho de 2013

PROTESTOS: A NOVA VISÃO DO PLANALTO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2275 | 21.Jun.13

Os bastidores de uma das semanas mais difíceis do governo Dilma. Quem a presidenta ouviu e como ela influenciou na revogação do reajuste em São Paulo

Izabelle Torres


DE PRONTIDÃO
Com receio de parecer ausente num momento delicado,
Dilma cancelou viagens ao Japão e a Salvador

Ninguém sabe como as marchas iniciadas pela revogação do aumento da passagem de ônibus vão terminar, mas é certo que o governo Dilma Rousseff não poderá funcionar como antes. Na manhã da sexta-feira 21, uma reunião entre Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e demais autoridades ligadas a áreas de segurança, inclusive da Copa do Mundo, ocorreu num ambiente de dúvida e impasses. A proposta mais natural, nessa situação, seria um pronunciamento ao País – mas a presidenta gostaria de ter uma noção clara sobre o estado de coisas antes de se manifestar perante todos os brasileiros, gesto que pode produzir um efeito decisivo sobre o País e sobre seu governo.

Em qualquer caso, os tempos são outros. O programa de gestão pelo piloto automático, num governo de altos índices de aprovação e aliados cada vez mais numerosos para somar tempo na tevê e enfrentar uma campanha presidencial sem sustos, se desfez na medida em que a mobilização crescia nas ruas e o grito das multidões se transformava num urro de cidadania e raiva. Sem receber sequer um alerta dos serviços de informação sobre eventuais riscos de um vexame na inauguração do estádio Mané Garrincha, Dilma enfrentou uma vaia gigantesca, que não permitiu que suas palavras fossem ouvidas pela plateia.

integrantes da base aliada aproveitam o momento
para questionar o governo e importância de Lula cresce


No dia seguinte, a presidenta perguntava, durante uma reunião inicialmente convocada para debater a viagem de uma comitiva brasileira à Rússia, a opinião de ministros e assessores mais próximos sobre os rumos que a situação política poderia tomar. Ouviu palpites, ora triviais, ora perplexos. O vice-presidente Michel Temer assegurou que o Congresso não criaria dificuldades para aprovar um pacote de medidas que pudessem melhorar o transporte público. Convidado em nome de sua “experiência,” o senador José Sarney (PMDB-AP) recomendou “diálogo.” Na semana mais difícil de seu governo, a presidente cancelou uma viagem a Salvador, na sexta-feira passada, pelo receio de enfrentar protestos. Também desistiu de uma viagem ao Japão, no início desta semana, pelo receio de estar ausente quando sua presença pudesse tornar-se particularmente necessária. Num governo frequentemente acusado de submeter a política às estratégias publicitárias, Dilma resolveu fugir de teorias conspiratórias, semelhantes àquelas que deram um ar patético a tantos governantes – ditadores ou não – que já enfrentaram manifestações de caráter semelhante na Ásia e no Oriente Médio. Num discurso pronunciado na terça-feira 4, Dilma colocou as coisas em seu devido lugar. Lembrando o gigantesco protesto da véspera, que dera uma dimensão nacional às manifestações, ela disse, em tom de reconhecimento, que “o Brasil hoje acordou mais forte.” Falou também que era “bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pai, o avô, juntos com a bandeira do Brasil”. Procurando unir seu destino ao dos manifestantes, disse que “as vozes das ruas querem mais. Mais cidadania, mais educação, mais transporte, mais oportunidades. Meu governo também quer mais.” Quando a presidenta discursou, um twitter chamado “Fora Dilma” atingia o pico, ficando entre os dez mais vistos do dia. Reproduzido ao longo do dia pela internet, o discurso atingiu um padrão superior a 250 mil acessos, patamar que o Planalto comemorou.


PALÁCIO CERCADO
Às 17h30 da quinta-feira 20, homens do Exército fazem
cordão no entorno do Planalto, onde a presidenta despacha

Convencida de que a labareda inicial da crise se encontrava em São Paulo, Dilma mobilizou o governo e aliados para convencer o prefeito Fernando Haddad a revogar o reajuste de R$ 0,20. Ela e Luiz Inácio Lula da Silva tiveram uma conversa a três com Haddad, quando, conforme relatos feitos à ISTOÉ, o ex-presidente disse ao prefeito: “Se estivesse em seu lugar, eu revogaria.” Mas a decisão de Haddad pela revogação só saiu aos 45 do segundo tempo, depois que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, decidiu baixar a tarifa em sua cidade. Já isolado do Planalto, ele recorreu ao governador Geraldo Alckmin em busca de apoio, para, enfim, recuar.

Os movimentos de uma turba fora de controle que se infiltrou nas manifestações para atacar dois ônibus e o hotel em Salvador onde estão alojados os cartolas da Fifa levaram a entidade máxima do futebol a fazer uma pressão exagerada contra a presidenta. Na quinta-feira 20, a Fifa teria levado o seguinte recado à Dilma: se mais algum membro da entidade, das seleções que participam da Copa das Confederações ou da imprensa internacional sofrer algum tipo de violência advinda dos protestos que tomaram conta do País, a Copa das Confederações será cancelada. Oficialmente, o porta-voz da entidade nega a pressão. É compreensível que os cartolas exijam segurança, mas a ameaça é desproporcional. As manifestações também ajudaram a elevar vozes dentro do governo e da base aliada que antes só faziam críticas em voz baixa. Problemas que ficaram camuflados por uma perspectiva confortável de renovar o mandato em 2014 tornaram-se preocupantes e urgentes. Convencidos de que o governo Dilma realiza movimentos cada vez mais conservadores, lideranças históricas cobram uma volta às origens, sugerindo que assim seria possível recuperar eleitores hoje desiludidos. De outro lado, no sintoma mais notável do que ocorre, nos últimos dias o ex-presidente Lula cresceu um pouco mais como liderança paralela, consolidando o instituto que leva seu nome como uma fonte de poder dentro do partido. Referindo-se ao bairro que dá sede ao instituto, militantes veteranos do PT se referem ao lugar como “o diretório do Ipiranga.”

Fotos: Pedro LADEIRA/AFP PHOTO; Adriano Machado


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