VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 13 de outubro de 2013

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ZERO HORA 13 de outubro de 2013 | N° 17582

ARTIGOS

Flávio Tavares*


Aqueles pessimistas natos, que dizem que somos sérios e criativos apenas no futebol, agora que se calem. Já não vale dizer que cuidamos melhor dos estádios da Copa do Mundo do que da saúde ou da educação popular e que, no mais, somos a soma de muitos zeros. Nada disto! Acabamos de dar ao mundo outro exemplo da nossa capacidade de criar do nada, transformando o caos em algo concreto e novo, como no Gênesis. Seria blasfêmia dizer que somos um novo Deus, pois ainda não chegamos lá, mas somos peritos em criar do vácuo. O Brasil especializou-se em criar partidos políticos e, nisto, somos para-digmas de criatividade.

Dias atrás, surgiram dois novos partidos. Temos agora 32, devidamente registrados. O que teria o cabalístico número 33 ficou sem registro porque a proprietária, Marina Silva, não conseguiu a adesão suficiente de eleitores. Foi menos feliz que o Paulinho “da Força”, que sem esforço criou o Solidariedade. Ou que o tal Eurípedes Júnior, dono da mais pomposa denominação da nossa história política – o Partido Republicano da Ordem Social. A sigla, PROS, já é uma torrente contínua de prós, sem contras.

A profusão mostra que o ramo é bom e o lucro imediato, pois, já na incubadora, os pais-fundadores revelaram que vieram para negociar. Integrarão a base alugada, em apoio ao governo e já nascem adultos. O PROS com 18 deputados na Câmara Federal e o Solidariedade com 15 – gente que se bandeou de onde estava pois, de fato, nunca estivera em lugar algum.

O Brasil é o único rincão onde os partidos duram menos que seus membros. O PP do inefável Paulo Maluf já foi PDS e mudou de nome duas vezes. O DEM já foi PFL. O Partido Comunista agora é PPS. A regra de que os partidos permaneçam e seus membros faleçam, aqui é ao revés. Como não há definição programática, mas só um jogo de interesses pes- soais de poder e pelo poder, os partidos são o que diz o “marqueteiro” de aluguel contratado para a campanha eleitoral.

Troca-se de partido como se troca de camisa ou de roupa íntima. Até as figuras maiores fizeram isto. Tancredo Neves trocou de partido para ser presidente em 1985. Sarney trocou depois de presidente. Dilma Rousseff passou do PDT ao PT. O prefeito Fortunati, derrotado dentro do PT, passou ao PDT. Os exemplos abundam, mostrando que a disputa não é programática e que tudo se reduz a algo pessoal.

Ou os partidos são tão iguais entre si, que quem sai de um para outro nem nota a diferença?

Ao não obter registro à sua Rede, Marina Silva (senadora e ministra pelo PT, e candidata presidencial pelo Partido Verde), recebeu “ofertas” de sete partidos, como se fosse jogador de futebol com passe livre. Optou pelo PSB e pode, até, tirar do trono o governador pernambucano Campos, que até aqui mandava no partido como típico “coronel” feudal nordestino.

A área partidária tornou-se gelatinosa, sem cor, forma ou definição. A pintura-síntese disso está num poema do nosso Luiz Coronel, que além de poeta sabe de publicidade:

“No cavalete, os partidos / não chegam a ser pintura. / São todos da mesma cor. / Servem tão só de moldura. / Se os escândalos explodem / nas manchetes matinais / lá se vão os passarinhos / aos pátios eleitorais.”

Como resolver essa barafunda sem enganar ainda mais o povo? Talvez só reste esperar o dia em que cada brasileiro maior de 21 anos seja declarado automaticamente “um partido político”. Haverá partidos aos milhões. E cada um de nós negociará diretamente com o poder vigente, integrando a base alugada sem intermediários, sem que roubem nosso quinhão e sem que os partidos se repartam o que têm à mão.


*JORNALISTA E ESCRITOR

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