REVISTA ÉPOCA 08/02/2015 09h20
“Brasileiro gosta de Estado grande”, diz economista indicado para o Banco Central
Tony Volpon, que deverá assumir a diretoria de Assuntos Internacionais do BC, afirma a ÉPOCA que, no país, não existe um partido de massas que proponha diminuir o Estado de bem estar social
JOSÉ FUCS
O economista Tony Volpon, que deverá comandar a área externa do Banco Central (Foto: Claudio Belli / Valor / Agência O Globo)
Depois de cinco anos em Nova York, como diretor executivo e chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities, uma das maiores corretoras do Japão, o economista brasileiro Tony Volpon, de 49 anos, deverá ser o novo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC). Primeiro representante do sistema financeiro indicado para a diretoria do BC desde o início do governo Dilma, em 2011, Volpon foi recomendado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para ocupar o lugar de Luiz Awazu, que deverá ir para a diretoria de Política Econômica, em substituição a Carlos Hamilton, que está de saída a pedido. Autor do livro A Globalização e a política: de FHC a Lula (Ed. Revan), Volpon agora deverá ser sabatinado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e ter seu nome aprovado pelos senadores.
No início do ano, antes de saber de sua ida para o BC, Volpon conversou com ÉPOCA sobre a decisão do governo de aumentar impostos para reduzir o rombo nas finanças públicas, decorrente da gastança irresponsável promovida pela presidente Dilma Rousseff em seu primeiro mandato. Nesta entrevista exclusiva, você poderá conferir as ideias de Volpon sobre a economia e a política no país.”Brasileiro gosta Estado grande”, diz. “Quando escolhe ter um Estado desse tamanho, com a carga tributária que tem, há um impacto no potencial de crescimento econômico.”
ÉPOCA – Para reequilibrar o orçamento, o governo decidiu recorrer ao aumento de impostos. Em vez disso, o governo não deveria apertar o cinto e cortar suas despesas?
Tony Volpon – Infelizmente, é algo necessário no momento. Não há muito que se possa fazer em relação a isso. O Brasil tem uma estrutura fiscal muito rígida para poder cortar gastos rapidamente. Para contornar o efeito negativo da política fiscal praticada nos últimos anos, o governo tem de recorrer ao aumento de impostos. Não há como fechar a conta de outra forma. Parte da explicação para a deterioração fiscal é que houve um grande redução de impostos, por meio das desonerações. Mas a tentativa de estimular a economia e fortalecer a indústria com essa política não se mostrou muito eficaz.
ÉPOCA – Em sua opinião, faz sentido o governo promover uma gastança absurda e depois jogar a conta em cima da sociedade?
Volpon – O problema é que essa situação, construída por todos os governos desde a adoção da nova Constituição em 1988, tem apoio da sociedade. A sociedade escolhe Estado grande para promover transferência de renda. O próprio resultado das eleições do ano passado mostrou que a sociedade não quer mudar isso. Então, tem de fazer ajuste fiscal via carga tributária mesmo.
ÉPOCA – Quer dizer que não há muita saída mesmo e vai sobrar para todos nós mais uma vez?
Volpon – Nem o PSDB, nem o PT, que representam o grosso do consenso político do país defendem um desmonte radical do nível de transferências. A discussão entre eles é sutil. Se olharmos no detalhe o que o Aécio provavelmente iria fazer não seria muito diferente do que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) está fazendo. Não há centro político no Brasil. Não existe nenhum partido de massas que proponha diminuir o Estado de bem estar social que temos hoje. O que se discute é detalhe.Quando a sociedade escolhe ter um Estado desse tamanho, com a carga tributária que tem, há um impacto no potencial de crescimento econômico do país. A tributação não é apenas grande, mas muito distorcida. O Brasil tributa muito, e tributa mal. Os brasileiros escolheram ter uma sociedade com maior transferência de renda e pagam um preço por isso. Agora, do ponto de vista da produção e do crescimento potencial, via oferta agregada, é inegável que isso tem um impacto negativo. A forma de tributar também afeta muito a produtividade.
ÉPOCA – Parece que o brasileiro não aprende nunca...
Volpon - Não é que não aprende, é que não muda. O Estado tributa muito, mas no capítulo das transferências de renda o Brasil até que vai bem. Houve uma grande queda da desigualdade nos últimos dez ou quinze anos. Tem o Bolsa Família e outros programas sociais, mas a parte mais relevante é a Previdência Social, que representa hoje quase 7% do PIB (Produto Interno Bruto).
ÉPOCA – O Brasil tem condições de bancar esse nível de transferências sociais?
Volpon - Considerando o estágio de desenvolvimento e a estagnação demográfica do país, o Brasil transfere muita renda. Não quer dizer que está errado, mas significa que menos recursos podem ser direcionados para outras áreas, como a educação, que dá muito retorno para a sociedade. O Brasil até gasta bastante em educação, como proporção do PIB, em relação a outros países em desenvolvimento, mas teria de se esforçar para ganhar produtividade nos gastos. Temos de diferenciar o que é transferência pura de renda e o que é gasto estrutural, que entrega serviços como educação, saúde e segurança. Temos de gastar menos e entregar mais.
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