ZERO HORA 06 de fevereiro de 2015 | N° 18065
EDITORIAL
Os detalhes relatados pelo ex-gerente Pedro Barusco são estarrecedores pelos valores e também por evidenciar que o pagamento de propina já havia virado rotina.Levado a depor na Polícia Federal por um mandado de condução coercitiva, o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, João Vaccari Neto, começou a explicar ontem as doações legais e ilegais que a sigla teria recebido de empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras. Seu depoimento ainda é desconhecido, mas as denúncias feitas pelo ex- gerente da diretoria de Serviços da estatal foram divulgadas pela Justiça Federal do Paraná são chocantes. De acordo com o delator, o PT recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina de 90 contratos firmados pela empresa pública entre 2003 e 2013. A acusação é gravíssima e requer amplos esclarecimentos por parte da direção do partido e dos políticos eventualmente beneficiados por esses recursos em suas campanhas eleitorais.
Não é só o PT que precisa prestar contas à nação. Todos os partidos contemplados pelo propinoduto da Petrobras terão que se justificar perante os investigadores da Operação Lava-Jato e é bom que o façam também para os eleitores que confiaram em seus candidatos. Mas é natural que recaia sobre o Partido dos Trabalhadores a cobrança maior, não apenas porque está no poder há mais de uma década como também porque sempre alardeou compromissos históricos com a ética pública, aos quais parece ter renunciado em troca de uma política espúria de alianças com o propósito de manutenção do poder.
Os detalhes relatados pelo ex-gerente Pedro Barusco são estarrecedores pelos valores e também por evidenciar que o pagamento de propina já havia virado rotina. Segundo contou, ninguém mais questionava o superfaturamento de contratos por um cartel de prestadores de serviços e muito menos a separação de percentuais desse dinheiro mal havido para premiar partidos, políticos e operadores do esquema. Os diretores sequer precisavam pedir aos empresários o pagamento de propina, pois fazia parte da relação entre a estatal e seus fornecedores. Fica difícil acreditar que a direção da Petrobras e o próprio governo desconhecessem tal promiscuidade.
É isso que a polícia, a Justiça e a CPI prestes a ser instalada no Congresso precisam investigar com responsabilidade e transparência. Mas as lideranças do PT também devem boas explicações sobre a atuação do tesoureiro do partido no lamentável episódio.
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