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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PETROBRAS, EXPLOSÃO E MORTES EM ALTO-MAR






ZERO HORA 12 de fevereiro de 2015 | N° 18071


DRAMA NO ESPÍRITO SANTO

PELO MENOS TRÊS PESSOAS morreram, seis estão desaparecidas e 10 ficaram feridas em acidente em navio-plataforma usado pela Petrobras para a extração de gás e óleo em campo de pós-sal


Uma explosão em um navio-plataforma alugado pela Petrobras e que operava no litoral de Aracruz, no Espírito Santo, deixou pelo menos três trabalhadores mortos, seis desaparecidos e 10 feridos.

O acidente é um novo golpe para a estatal, mergulhada em um escândalo de corrupção que revelou o pagamento de propinas milionárias a altos funcionários da petroleira e políticos e servidores públicos, em troca de contratos com empreiteiras.

A explosão aconteceu às 12h50min, a bordo do navio-plataforma Cidade de São Mateus, contratado pela Petrobras da empresa norueguesa BW Offshore. Havia 74 pessoas a bordo.

Segundo a Petrobras, o navio-plataforma, que produzia gás natural e petróleo, operava desde 2009 em jazidas de pós-sal nos campos de Camarupim e Camarupim Norte, distante cerca de 120 quilômetros da costa.

Dos 10 feridos, entre eles um trabalhador filipino, quatro apresentaram queimaduras graves e oito sofreram traumas. As vítimas foram levadas de helicóptero e conduzidas a hospitais de Vitória em ambulâncias.

A estatal informou que, com a BW, está “prestando toda a assistência aos seus funcionários e familiares” afetados pelo acidente. Mas não foi confirmado se algum empregado da empresa brasileira estava na embarcação – as informações eram de que todos seriam funcionários terceirizados.

Em nota, a companhia norueguesa informou que, depois do acidente de ontem, a produção na plataforma foi interrompida e a unidade, fechada. Além disso, garantiu que a BW está dando suporte às autoridades nas buscas aos desaparecidos.

O Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo informou que a explosão ocorreu devido a um vazamento de gás. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), reguladora do setor, informou que não houve vazamento de petróleo no mar e que a plataforma está estabilizada. Duas equipes da ANP vão investigar o acidente. A Capitania dos Portos vai abrir um inquérito administrativo para apurar causas e responsabilidades.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante dos trabalhadores da Petrobras, criticou o tratamento dado por órgãos fiscalizadores do governo e pela estatal à segurança nas plataformas produtoras de petróleo.

MARINHA DETECTOU FALHAS EM INSPEÇÃO

A Petrobras “investe em segurança, porém mal”, afirmou o diretor da federação, José Maria Rangel. Além disso, alertou que falta fiscalização por parte da ANP e do Ministério do Trabalho para verificar se as melhores práticas de prevenção a acidentes são cumpridas:

– A atividade de exploração de petróleo cresceu de forma rápida no país, e esses órgãos não se prepararam para isso. Não há auditores suficientes para acompanhar essas plataformas – disse Rangel.

Conforme o dirigente, em abril do ano passado, na última visita feita à plataforma, a Marinha detectou que o sistema de alarme não funcionava e que as mangueiras utilizadas para apagar o fogo estavam enferrujadas. Ele não soube dizer se o problema foi resolvido. A federação estima que o ideal seria que as autoridades fiscalizassem as plataformas a cada seis meses.

No caso de uma plataforma operada por um terceiro, nesse caso a empresa BW Offshore, a Petrobras tem a obrigação de manter um fiscal da área de saúde e segurança no local, mas em geral a tripulação costuma ser em sua maior parte terceirizada, explica Rangel.

O sindicato de petroleiros condena essa prática, por considerar que torna o trabalho precário e aumenta os riscos de acidentes.


Um hotel no meio de dutos


MARTA SFREDO

A experiência de passar algumas horas circulando em uma plataforma de petróleo dá uma vaga ideia do potencial destrutivo de uma explosão a bordo. Em outubro de 2009, uma equipe de ZH esteve na P-53 – uma FPSO como a Cidade de São Mateus –, ancorada no campo Marlim Leste, Bacia de Campos. Com mar calmo, dá para esquecer que se está a 50 ou cem quilômetros de terra firme.

Numa área que fica na popa – parte de trás da embarcação – existe o chamado “módulo de hospedagem”. São salas de controle, escritórios, refeitórios, banheiros e quartos, quase como um hotel, só que tudo em escala reduzida. Esse extremo da estrutura corresponde a uma décima parte da área total, ocupada por canos e tubos por onde circulam petróleo, gás e água em processamento.

Os corredores são estreitos, as portas têm pouca largura. São características que não ajudam em situações de acidente. A explosão na casa de bombas, também na popa, poderia ter sido mais trágica. O acidente ocorreu na hora do almoço, quando se concentra movimento no módulo de hospedagem. A vida a bordo costuma ser regrada para permitir mais controle e simular uma rotina tranquilizadora para quem enfrenta situação tão fora do comum. Trabalhar em plataforma exige ficar 14 dias “embarcado” – sem sair, sem ver família e amigos. Algumas têm salas de ginástica, de jogos e até piscina. Mas a correria para desembarcar antes que a chuva e o vento impedissem a retirada por helicóptero deu a noção exata de quanto a atividade é arriscada.

Cada acidente – os casos de Enchova, em 1984, e da P-36, em 2001 –, suscita embate político. Saber que o naufrágio da P-36 matou mais do que a explosão de ontem não dá conforto à atual gestão da Petrobras, que enfrenta desafios tão gigantescos quanto a empresa. Todos os equívocos recentes devem ser julgados. Mas a vida dos embarcados não pode ser objeto de disputa.




OUTRAS TRAGÉDIAS NO BRASIL
AGOSTO DE 1984 - Mais grave acidente do setor no Brasil, a explosão da plataforma de Enchova, da Petrobras, na Bacia de Campos (RJ), deixou 37 mortos e 23 feridos. A perfuração de um poço provocou a explosão, seguida de incêndio. Quando um dos cabos de aço da baleeira na qual alguns trabalhadores tentavam escapar ficou preso, o outro se rompeu e a embarcação despencou de 30 metros de altura. MARÇO DE 2001 Então considerada a maior plataforma do mundo, a P-36, na Bacia de Campos, naufragou em 2001, após três explosões, causando a morte de 11 trabalhadores. Eram todos integrantes da equipe de emergência. O acidente foi consequência de erros de projetos, manutenção e operação. Em 2007, a P-36 foi substituída pela P-52.
NOVEMBRO DE 2011 - Um acidente em poço da americana Chevron na Bacia de Campos resultou no vazamento de petróleo. O incidente poderia ter sido evitado se a empresa tivesse conduzido suas operações conforme regulamentação da ANP e seu próprio manual de procedimentos.
JANEIRO DE 2014 - Fogo na plataforma P-62, na Bacia de Campos, deixou apenas danos materiais. Na época, a Petrobras explicou que o incidente havia sido provocado durante o deslocamento da plataforma para o campo, quando ocorreu um incêndio de “pequenas proporções” em um gerador temporário a bordo.

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