REVISTA ISTO É N° Edição: 2360 20.Fev.15 - 20:00
Carlos José Marques, diretor editorial
Pelos projetos em andamento, pelo monopólio da pauta política, pelas deliberações de cargos nas principais comissões e nos órgãos públicos, quem vem mandando muito no Brasil é o PMDB. E o deputado Eduardo Cunha está, indiscutivelmente, no controle, com demonstrações diárias de sua força. De uma só sentada nos últimos dias ele aprovou o orçamento impositivo, colocou a reforma política nas mãos da oposição (com o DEM no comando) e convocou, de quebra, os 39 ministros para dar explicações. Inclusive com ameaça: quem não for poderá ser intimado a comparecer mesmo a contragosto. Incorporando poderes tal qual um primeiro-ministro de regime parlamentarista, tenta relegar a presidente Dilma à condição de soberana que não governa. Faz isso sutilmente e de maneira calculada, impondo seu estilo. Suprema provocação! Ou seria retaliação?
Até as pedras sabem que Cunha não engoliu as manobras de Dilma para evitar que ele assumisse a direção da Casa. E seu contra-ataque está sendo sistemático, dentro de uma linha inapelavelmente hostil ao Planalto. Articulou para que um simpatizante do senador tucano Aécio Neves assumisse a liderança do seu partido e negocia agora com ele temas duros contra a presidente e o PT. O novo líder peemedebista, o deputado carioca Leonardo Picciani, nos passos e modelo de Cunha, anunciou que terá como prioridades a CPI da Petrobras e a reforma política. Picciani, que fez campanha para Aécio Neves à Presidência do Brasil, desponta como promissora liderança no arco de soldados de Cunha.
No Rio foi um dos idealizadores do movimento “Aezão” e, ao lado de outros peemedebistas insatisfeitos com o governo, deve trabalhar com Cunha por uma maior independência do partido em relação ao Planalto. De uma maneira ou de outra, em várias esferas, seu partido parece hegemônico, levando todas e fazendo “barba, cabelo e bigode” no que se refere a postos-chave. Além de conquistar a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado – e também a vice-presidência da República –, o PMDB conta hoje com o maior número de prefeitos e uma bancada de parlamentares quase equivalente à do próprio PT.
Poucas vezes exibiu tanta robustez e influência sobre os desígnios nacionais. E poucas vezes se viu uma agremiação usar tamanho poderio para estabelecer uma clara distância entre Legislativo e Executivo. Nesse ambiente, o presidencialismo de coalizão sonhado por Dilma pode estar com os seus dias contados.
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