ZERO HORA 13 de fevereiro de 2015 | N° 18072
SERGIO ARAUJO*
A coincidência cronológica entre o depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, à Polícia Federal e a comemoração dos 35 anos da criação do Partido dos Trabalhadores intensificou uma discussão interna entre as lideranças petistas. Afinal, quem mudou? Foi a oposição ao PT que se tornou mais eficaz ou foi o próprio partido que se fragilizou?
Se o responsável pelo envolvimento do PT nos escândalos do mensalão e do petrolão é a oposição, como explicar a parceria identificada nos dois episódios? Observem como isso se torna de difícil compreensão para a opinião pública. O antigo algoz implacável dos partidos por ele classificados como defensores do neoliberalismo e de atitudes lesa-pátria agora se vê envolvido em acontecimentos de gravidade similar.
E aqui parece estar o grande equívoco do PT. A negação precipitada dos fatos. Nunca houve mensalão, disseram as suas principais lideranças. E o que o Brasil observou? A condenação à prisão de boa parte dessas lideranças. Aí veio o episódio da Operação Lava-Jato e a negaça se repetiu. E mais uma vez apareceu o envolvimento de lideranças do PT.
Agora tentem imaginar o impacto disso na cabeça do cidadão. O partido que pregava o combate à corrupção hoje está na posição de réu. A sigla que mais defendia a abertura de CPIs hoje é contra elas. E não foram poucos os alertas de descontentamento. Entre os mais recentes, os protestos de junho de 2013 e a reeleição apertada de Dilma.
Diante desse quadro, o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em Belo Horizonte indica que a bússola política do PT ainda rodopia sem rumo definido. Para o ex-presidente, a culpa pelo envolvimento do PT nas denúncias de corrupção, classificada por ele como briga política, está na forma equivocada da atuação da Polícia Federal e da imprensa e na tentativa golpista da oposição. “Se ficarmos quietos, a sentença já está dada. O PT vai ter que voltar à luta. Não podemos permitir que quem não tem moral venha dar moral na gente.”
Na contramão do discurso de Lula, outro ícone histórico do PT, Olívio Dutra, defende a imediata expulsão dos petistas envolvidos nas suspeitas de malversação do dinheiro público. “Tem uma ferrugem contaminando as engrenagens do partido. Medidas têm que ser tomadas e já vêm tarde. É evidente que o PT, primeiro, tem que reconhecer que houve figuras importantes do partido e do governo que cometeram atos totalmente contrários aos princípios que fundamentaram a criação do PT e a sua existência.”
E agora? Quem tem razão? Lula ou Olívio?
*JORNALISTA E PUBLICITÁRIO
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