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domingo, 24 de agosto de 2014

ECONOMIA NO FUNDO DO POÇO


ZERO HORA 24 de agosto de 2014 | N° 17901


CAIO CIGANA

ATIVIDADE LENTA. OS NÚMEROS DO MAU HUMOR. Vendas ladeira abaixo seguram contratações 

FREADA NA ECONOMIA. CRESCIMENTO CADA VEZ MENOR e inflação que só em alguns meses dá sinais de bom comportamento estão entre fatores que preocupam de empresários a trabalhadores sobre o futuro imediato do Brasil


A situação do empresário Paulo de Souza Rodrigues, dono de uma loja de calçados femininos no bairro Bom Fim, na Capital, exemplifica como a falta de confiança reverbera em toda a economia. Com as vendas no primeiro semestre abaixo da expectativa e sem perspectivas de uma boa reação na segunda metade de 2014, decidiu postergar a compra da coleção de verão.

– Normalmente, teria feito isso há um mês. Mas a margem para erros está menor. É melhor aguardar um pouco mais – explica Rodrigues.

A decisão do comerciante, provavelmente acompanhada por milhares de outros lojistas, impacta nas fábricas de calçados. Com esperanças reduzidas de melhora no movimento e espremido pelo aumento de custos, Rodrigues também adotou outra decisão típica de momentos de incerteza: com as vendas abaixo do que imaginava, os planos de novas contratações foram engavetados.

– Eu teria de contratar, mas não vou aumentar o número de funcionários porque não sei como será o segundo semestre – avisa o empresário, tomando uma decisão que, se reproduzida por seus colegas lojistas, também vai afetar a geração de emprego.

Para Rodrigues, parece que até as mulheres, conhecidas pelo impulso para comprar sapatos, estão retraídas, contagiadas pela cautela, um sentimento também capturado por outras sondagens.

O índice de confiança do consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, chegou em maio ao mais baixo patamar da série histórica, iniciada em setembro de 2005.

Até subiu nos últimos dois meses, mas a melhora no humor da população ainda não pode ser apontada como o início de uma tendência consistente de reversão do pessimismo, diz a economista Viviane Seda, coordenadora da pesquisa.

CONSUMIDOR ESTÁ CAUTELOSO

Para Viviane, a melhora da percepção do consumidor em junho e julho se deveu a fatores pontuais como a organização da Copa do Mundo ter sido considerada um sucesso e a inflação ter desacelerado.

– Mesmo sem aumento do desemprego até agora, as pessoas estão mais preocupadas com o futuro. Isso leva a uma cautela na intenção de compras. E gera um efeito psicológico para empresários e consumidores que tem reflexos em toda a economia – sustenta Viviane.

Com os compradores cautelosos, o reflexo nos demais setores é imediato. O índice de confiança do varejo apurado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) completou nove meses em queda e chegou em julho ao piso da sondagem iniciada em 2010.

Aonda de indicadores que mostram a economia em ritmo lento neste ano, seguindo a trilha do fraco crescimento do país desde 2011, aumenta a atenção para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre que será divulgado pelo IBGE na próxima sexta-feira. Nos últimos dias, especialistas passaram a considerar a probabilidade de que o previsível resultado negativo entre abril e junho seja agravado por uma revisão para baixo dos números dos três primeiros meses do ano.

Cresceu a hipótese de que o crescimento quase nulo – mas ainda positivo – de 0,2% seja recalculado para uma retração. Caso se confirmarem dois trimestres seguidos de recuo no PIB, o Brasil teria passado a primeira metade de 2014 em recessão técnica – conceito definido por dois trimestres sucessivos de redução da atividade econômica.

Mesmo que as previsões mais pessimistas não se confirmem, a atividade em marcha lenta, avaliam economistas, é o resultado da crescente perda da confiança de empresários e consumidores, alimentada por uma série de fatores. O quadro que desanima quem produz e quem compra tem vários elementos: baixa produção industrial, juro alto, inflação acumulada, endividamento das famílias, custo da energia decolando, investimentos em infraestrutura que ficaram só no anúncio e, para fechar um círculo que se realimenta do próprio pessimismo, pacotes do governo federal que não surtem efeito, travados por falta de confiança.

Para completar, o quadro eleitoral joga mais gasolina na fogueira da incerteza. Se há um consolo nesse ambiente desanimador é o fato de que mesmo analistas que projetam recessão e crescimento inferior a 1% em 2014 preveem que a economia bateu no fundo do poço. A tendência para o restante do ano e 2015 é de recuperação, mesmo que em patamares tímidos.

SINDICATO ANALISA JORNADA FLEXÍVEL

O que começou com sentimentos – perda de confiança e pessimismo – já reflete em dimensões mais concretas: queda na produção, redução nas vendas e, ao menos no Rio Grande do Sul, corrosão do nível de emprego. Dados de julho do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério de Trabalho, mostraram que no mês passado houve 6.390 mais demissões do que contratações. Chamado de “saldo negativo na geração de empregos”, significa que há mais vagas fechando do que abrindo. Mesmo na média do Brasil, o resultado inquieta: o saldo ainda é positivo, de 11.796 contratações a mais do que demissões, mas é o menor dos últimos 15 anos.

Na última sexta-feira, a divulgação da arrecadação do governo federal acentuou o cenário: com queda de 1,6%, foi a menor para julho nos últimos quatro anos. Os indicadores reais começaram a se encontrar com os que apontavam, desde o fim de 2013, piora no humor de empresários e consumidores. Analistas ponderam que, mesmo que representem algo abstrato, esses indicadores de otimismo ou pessimismo costumam antecipar ciclos da economia e têm poder de potencializar momentos extremos de euforia ou, como agora, de depressão.

– Essas percepções retroalimentam tendências. Quando uma empresa está confiante, a postura é mais otimista quanto a investimentos e contratações. Quando está em baixa, age como um freio – explica Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O indicador de confiança da Confederação Nacional do Indústria (CNI), por exemplo, parou de piorar em agosto, após chegar em julho ao mais baixo nível da série histórica, por ser o setor que há mais tempo sente o desaquecimento da economia.

Para Marcelo Azevedo, economista da CNI, as sondagens de confiança têm o condão de antever ciclos da economia e permitir que empresários programem ou posterguem investimentos, acelerem ou coloquem um pé no freio da produção por medirem um estado de ânimo que envolve uma avaliação do futuro.

Entre a dúvida e a esperança, os sindicalistas admitem a flexibilização da jornada para preservar empregos. Luis Carlos Ferreira, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul, avalia que o segundo semestre será melhor. Em Gravataí, a GM voltou neste mês a produzir aos sábados, mas uma grande empresa de autopeças negocia suspensão temporária de contratos de trabalho.

– Somos sensíveis ao momento – afirma Edson Dorneles, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí.


OS HUMORES E OS RESULTADOS


INDÚSTRIA
 -O Índice de Confiança da Indústria recuou 3,2% entre julho e junho, para 84,4 pontos, o menor desde abril de 2009. A produção industrial acumula queda de 2,6% neste ano.

COMÉRCIO -O indicador de confiança do comércio foi o menor em junho, mas melhorou em julho. As vendas no varejo têm alta de 4,2% de janeiro a junho deste ano.

CONSTRUÇÃO CIVIL -O Índice de Confiança da Construção caiu 10,3% de maio a julho em relação ao mesmo período de 2013. A A atividade na construção civil está em queda, conforme sondagem da CNI que aponta 44,5 pontos. Abaixo de 50, indicador mostra recuo.

SERVIÇOS -O Índice de Confiança de Serviços (ICS), da FGV, recuou 0,6% entre junho e julho.Bateu em 107,3 pontos, o menor nível desde abril de 2009 (103,4 pontos). De janeiro a junho, os negócios no segmento cresceram 7,4%.

CONSUMIDOR -O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) chegou à menor pontuação em maio, mas subiu nos últimos dois meses.

MERCADO DE TRABALHO -O Índice de Medo do Desemprego, da CNI, teve em junho pontuação de 76,1. Ficou 6,7% acima do mesmo período do ano passado. Em 1999, superava cem pontos. Em julho, houve apenas 11,8 mil contratações a mais do que demissões no período.

POR QUE MONITORAR A CONFIANÇA?

Porque mostra tendências para a economia. No caso dos consumidores, identifica a variação das intenções de ir às compras. No caso da indústria, monitora o que deve ocorrer com a produção e o apetite de empresários para fazer investimentos.

Uma das principais vantagens da pesquisa é a rapidez com que os dados são colhidos, processados e divulgados. Estatísticas quantitativas, como as de produção e de emprego, podem ser conhecidas com defasagem de até 60 dias.

QUAIS ITENS SÃO ANALISADOS?

No caso dos consumidores, os questionários tentam captar – tanto no dia quanto para os próximos meses – o sentimento sobre economia, situação financeira familiar, inflação, juros, emprego e decisões de poupança e consumo.

Na indústria, são analisados pontos como uso da capacidade instalada, estoques, demanda, empregos, produção e situação dos negócios. São verificados os indicadores do trimestre anterior, do período em que é feito a pesquisa e para os próximos seis meses.

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