MARIA DE NAZARETH AGRA HASSEN
Essa é uma possível chave para a compreensão dos movimentos atuais, que surgem de forma espontânea, cumprem objetivos pontuais, podendo ou não desfazer-se. A angústia provocada nos mais velhos pela falta de interlocução com um representante é compreensível, porque ainda se pensam os movimentos sociais com as ferramentas do século 20. Não só a polícia se confunde: analistas sociais têm imensas dificuldades de lidar com o ator social que tem como guia seu pensamento autônomo e livre, que ora aparece ligado a uma causa, ora a outra, dificilmente se vinculando a partido político.
Assim também o pensamento conservador, até mesmo de pessoas de esquerda, entende que o local de se manifestar é na urna, e não na rua. Porém, por estratégias eleitoreiras ou sob o argumento da governabilidade, mudanças estruturais não decorrem espontaneamente da política partidária. Daí o esvaziamento do interesse por eleições em determinadas camadas juvenis, justamente entre os mais vinculados ao seu tempo e às novas causas. Por terem deslocado o interesse das urnas para as ruas e para ações práticas, são acusados de antidemocráticos: a velha lógica binária ressoou nas mentes de analistas, pois, se não querem mudar no voto, devem querer a volta da ditadura. Nesse contexto, mesmo governos populares adquiriram blindados para jogar água, marcar manifestantes e eliminar protestos de rua.
Este século talvez seja marcado pelo fato de que mais pressão nos eleitos e menos preocupação com quem eleger é uma estratégia quando partidos se mostram confusos e pouco comprometidos ideologicamente.
Doutora em Educação – UFRGS
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