CAIO CIGANA. ATIVIDADE LENTA.
Só metade das vagas ocupadas
A fábrica planejada para estar bombando enfrenta 40% de ociosidade. Em razão da necessidade de a economia brasileira avançar em produtividade para ser mais competitiva, o empresário Werner Spieweck, proprietário da Omnitec, de Canoas, imaginava que os equipamentos de automação industrial que produz teriam grande procura. A gradual desaceleração nas fábricas e as expectativas nada otimistas para os próximos meses fizeram as encomendas minguarem.
– Tenho 15 funcionários, mas deveria ter entre 25 e 30. Com a estrutura que temos, poderíamos faturar o dobro ou o triplo – calcula.
Com as vendas em baixa, as compras de insumos como aço e componentes eletrônicos também diminuíram. Investimentos que Spieweck planejava foram postergados, e custos, como treinamentos, cortados. O reflexo desse momento da economia, entende, realimenta o círculo vicioso. Como as fábricas pararam de investir, o resultado logo adiante será uma perda ainda maior de competitividade.
– Montar uma indústria forte é dificílimo. Desmontar é uma barbada – compara o empresário.
Investimento espera avanços consistentes
Apesar de alguns índices que medem o humor da indústria, do comércio e do consumidor terem interrompido a longa sequência de piora na confiança, a reversão do ciclo, com uma reação a outros indicadores da economia, ainda dependeria de sinalizações positivas mais firmes em uma série de fatores que geram incerteza, diz Viviane Seda, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre os quais, um recuo consistente da inflação, solução para o endividamento das famílias, retomada do mercado de trabalho e o fim das dúvidas relacionadas às eleições e às intenções do futuro presidente da República, seja quem for, ao sinalizar que medidas pretende adotar.
Para a economista Juliana Serapio, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o recente recuo inflacionário é uma semente de esperança.
– O IPCA (índice de inflação com alta de apenas 0,1% em julho) mostrou deflação em vários quesitos, como nos alimentos, que pressionaram muito os preços no início do ano. Isso pode ajudar a melhorar a confiança. Outros indicadores precisavam ter uma forte reversão, como a queda nos juros – afirma Juliana.
Para Aloisio Campelo, também da FGV, é possível que a confiança dos empresários ensaie uma retomada tímida nos próximos meses em função do maior número de dias úteis – ao contrário do período da Copa, quando feriados e pontos facultativos afetaram a indústria e o comércio.
Mesmo assim, não é de se esperar a retomada a altos níveis nos próximos 12 meses. Um ponto-chave, concorda Campelo, será a definição das eleições ou pelo menos a cristalização de um quadro que permita prever o desfecho da votação.
BRISA DE ESPERANÇA
Razões que indicam leve retomada da atividade econômica no segundo semestre deste ano
-A projeção do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) é de que as vendas do setor cresçam 3,1% em agosto, 2,8% em setembro e 3,1% em outubro. Em julho, houve queda de 0,7%.
-Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que, em julho, a ociosidade e o excesso de estoques das fábricas reduziram. Mesmo assim, seguem em níveis históricos altos. As grandes empresas também aumentaram a produção na comparação com junho.
-A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera crescimento das vendas no segundo semestre. Com isso, a comercialização, que caiu 7,6% na primeira metade do ano, deve fechar 2014 com retração menor, de 5,4%.
-Os índices da confiança da indústria medidos pela CNI e pela Fiergs pararam de cair neste último mês. O do consumidor, avaliado pela FGV, subiu nos dois últimos meses e o do comércio voltou a crescer em julho.
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