ZERO HORA 03 de agosto de 2014 | N° 17879
ARTIGO
POR FLÁVIO TAVARES*
O conceito ou visão atual de amor à Pátria e de patriotismo é estranho e, pelo jeito, só funciona no futebol. Com a bola nos pés, nos unimos todos, o Brasil é um só e é nosso! De alto a baixo, somos verde-amarelos de céu azul estrelado. E com tantas estrelas que nem aquele 7 a 1 da Copa nos desuniu, e choramos juntos, reunidos na tristeza. Mas a união patriótica se esfacela e o patriotismo se dilui quando está em jogo o direito de o Brasil governar-se por si mesmo ou pensar por si próprio.
Dias atrás, a presidente da República reagiu como brasileira ao descabido comentário de um grande banco estrangeiro sobre a atual campanha eleitoral. Dilma classificou de “inadmissíveis para qualquer país” as opiniões transmitidas pelo Banco Santander a seus clientes, em que vincula a reeleição da presidente e sua subida nas pesquisas a uma baixa nos índices financeiros. Este cenário (disse o banco num comunicado a 40 mil correntistas de alta renda) significaria “a deterioração dos nossos fundamentos macroeconômicos”.
O próprio mercado financeiro, segundo o jornal O Globo, entendeu que o Santander “errou ao emitir uma opinião política, e não uma análise técnica da conjuntura econômica”. O presidente do banco espanhol, Emilio Botín, veio ao Brasil e demitiu o autor do texto, num remendo que é, também, tácito reconhecimento da absurda intromissão cometida. No entanto, boa parte da nossa área política se regozijou e achou natural que um banco estrangeiro se imiscua na campanha eleitoral interna do Brasil.
O patriotismo ficou de lado só por ser ano de eleição?
Na Copa, o que diríamos se o técnico argentino (ou outro) escalasse nossa Seleção?
Na defesa dos valores de autonomia e independência nacional, porém, a união é substituída pela pequenez do oportunismo de hipotéticas vantagens eleitorais. Assim, os demais candidatos a presidente atiraram-se contra a reação de Dilma, como se a ofensa não os atingisse também. Não entenderam que foi a presidente que reagiu, não a candidata?
Em 2002, o banco de Botín doou 1 milhão de dólares à campanha eleitoral de Lula da Silva, abrindo caminho a doações de grandes empresas estrangeiras. Já era uma forma de intromissão, mas ninguém protestou, talvez de olho em idêntico benefício. Agora, o dono do banco fez um pedido de desculpas que (mesmo “apenas protocolar”, como diz Dilma) equivale a uma confissão de culpa.
Ou de medo: mais de um terço do lucro mundial do banco espanhol provém do Brasil, e todo bom banqueiro dá valor à opinião pública. E busca unir, mesmo para separar.
Aqui no RS, quatro dos oito candidatos a governador foram sabatinados nesta semana pela Federação das Associações de Municípios. Tarso Genro, candidato à reeleição pelo PT; Ana Amélia Lemos, do PP; Ivo Sartori, do PMDB; e Vieira da Cunha, do PDT, responderam sobre saúde, segurança, educação, infraestrutura e desenvolvimento. A notícia do encontro, publicada na quinta-feira em ZH, sintetizou o pauperismo do quadro político: “Todos evitaram se comprometer em pagar o piso do magistério e não apresentaram propostas concretas sobre policiamento e qualidade do ensino”.
Se os que têm voto não têm voz, talvez valha consultar os outros quatro – os “nanicos” (de Roberto Robaina, do PSOL, a João Rodrigues, do PMN), que, como têm pouco voto, podem ter muito a dizer!
Na reunião presidida pelo prefeito de Porto Alegre, José Fortunati queixou-se da “imensa fiscalização” que vigia os governos municipais e do destaque que se dá “a quem fiscaliza, não a quem faz”. E se lamuriou pelas “14 instituições” de vigilância. Sem discordâncias, todos apoiaram a lamúria.
Ou seja: enganei-me. Além do futebol, outras coisas unem para sempre!
*Jornalista e escritor
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É bem assim, os candidatos prometem soluções para a segurança, saúde e educação, mas não mostram como vão fazer e deixam de comprometer com as soluções já encontradas, mas nunca aplicadas justamente pela má vontade, pelo descaso e pela omissão dos mandatários para com a finalidade pública de seus cargos e mandatos que deveria priorizar justamente estas três áreas e para a melhoria da justiça.
A propósito e por questão de justiça, o autor do artigo esqueceu de citar o partido nanico do Estivalete que vem propondo soluções objetivas para a segurança pública. Entre elas, a extinção da Secretaria de Segurança Pública, um órgão que desvia efetivos da razão de ser de suas instituições, faz uma gestão política da segurança, estimula o facciosismo partidário, bloqueia o exercício de deveres e mina o clima organizacional das instituições, criando favorecimento na carreira, privilégios, disparidades salariais, distorções, discriminações e animosidade nas categorias.
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