POLÍTICA + | Rosane de Oliveira
Nos últimos anos, a história se repete a cada eleição: pessoas desencantadas com a política gastam tempo e energia pregando o voto nulo ou em branco. Nas redes sociais, circula uma corrente conclamando o eleitor a votar nulo, com o argumento de que, se metade dos votos for inválida, haverá nova eleição. Trata-se de uma bobagem, mas, incrivelmente, há quem acredite nela e compartilhe o texto sem dar-se ao trabalho de conferir a veracidade.
Como bem lembrou o advogado Antônio Augusto Mayer dos Santos, em artigo publicado em ZH, a premissa é falsa. A lei diz que será eleito o candidato que fizer a maioria dos votos válidos. Portanto, um elevado número de votos brancos e nulos serve apenas para indicar descontentamento. Nada além.
Admitindo-se que uma enxurrada de votos nulos determinasse a realização de uma nova eleição, quem seriam os candidatos? Os mesmos, com pequenas alterações. Significaria apenas mais custo, sem nenhum ganho para o eleitor.
Quem está pensando em votar nulo ou em branco deveria parar e se perguntar aonde quer chegar com esse tipo de protesto. Vai melhorar o país? Vai qualificar a representação no Congresso? Ou vai apenas transferir para terceiros a responsabilidade de escolher o presidente da República, o senador, o governador, o deputado federal e o deputado estadual e correr o risco de estar ajudando os piores?
Quem amargou um quarto de século de ditadura sem poder votar para presidente sabe o valor de uma eleição livre. O sistema é imperfeito, o custo das campanhas tornou-se escandaloso, e a reforma política está atrasada, mas ainda há pessoas que merecem o nosso voto.
Campanhas pelo voto nulo não levam a lugar algum. A demonização da política só serve para afastar da vida pública pessoas que poderiam contribuir para qualificar essa atividade tão essencial à democracia.
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