Editorial
Os últimos resultados das contas externas brasileiras acendem uma luz amarela. Nada que indique uma crise cambial a se avizinhar, mas já não se produz a abundância de divisas dos últimos anos.
Depois de um longo período de estabilidade em torno de 2% do PIB, voltou a crescer o deficit na conta-corrente (que inclui tanto o resultado da balança comercial quanto o saldo de receitas e remessas de juros, lucros, royalties e outros serviços). Nos 12 meses encerrados em janeiro, o rombo atingiu 2,6% do PIB (US$ 58,6 bilhões).
Do lado da balança comercial, que fechou 2012 com superavit de US$ 19,4 bilhões, houve deterioração rápida: saldo negativo de US$ 5,2 bilhões em janeiro e fevereiro e queda do acumulado em 12 meses para US$ 13,7 bilhões. Parecem otimistas as projeções de analistas, divulgadas pelo Banco Central, de sobra de US$ 15 bilhões em 2013.
O resultado comercial melhorará nos próximos meses, com o início da safra agrícola e a alta de preço do minério de ferro. Mesmo assim, já soa plausível um deficit em 2014. Na conta de serviços (excluída a balança comercial), isso já ocorre. O saldo em 12 meses é negativo em US$ 78,1 bilhões.
A deterioração tem ocorrido mesmo com baixo crescimento. É natural que os resultados piorem mais quando, como se espera, o PIB se acelerar e impulsionar importações (de máquinas, por exemplo). Nesse quadro, o deficit externo pode superar a marca simbólica de 3% do PIB, o que certamente levaria preocupação ao Planalto.
Até agora há o conforto da forte entrada de investimentos diretos, ainda em US$ 63,6 bilhões nos 12 meses encerrados em janeiro, montante suficiente para cobrir o buraco. Mas a conta começa a ficar apertada. Não é razoável contar com aportes ainda maiores, no contexto atual de crescimento medíocre e perda de atrativos para investidores, na comparação com outros países, como o México.
O resultado final, até agora, é a interrupção da trajetória de acúmulo das reservas internacionais, estacionadas em torno de US$ 375 bilhões há vários meses --uma clara mudança de padrão em relação aos anos recentes. Em resumo, o período de folga nas contas externas parece terminado.
É certo que o colchão das divisas é grande, mas isso não garante que o Brasil ficará imune a uma pneumonia se houver espirros no exterior, como disse a presidente Dilma Rousseff. A prosseguir a deterioração das contas externas, pode-se prognosticar ao menos uma forte gripe --por exemplo, se um dia os juros subirem nos EUA.
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