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É uma afronta a todos, inclusive ao próprio Congresso, a manutenção do deputado e pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. A eleição de Feliciano, na semana passada, desencadeou uma justa reação popular, em decorrência de posições pessoais que contrariam tudo o que a comissão deve defender. O parlamentar já condenou categoricamente a homossexualidade e se referiu aos negros como seres inferiores e amaldiçoados, sempre em manifestações públicas. Mesmo que tenha tentado se retratar, porque teria sido mal interpretado, o deputado é conhecido por opiniões marcadas por forte conteúdo discriminatório.
Tal comportamento contradiz todos os esforços feitos no sentido de reafirmar o respeito à diversidade e às diferenças. Imagina-se que o Congresso, ao manter uma comissão com esse objetivo, estaria engajado com os que lutam contra a intolerância, em quaisquer áreas, em especial a dos relacionamentos humanos em grupos sociais historicamente discriminados. É quase inacreditável que a Câmara tenha cometido a façanha de escolher como líder da comissão alguém que, no sentido inverso, contribui para a exaltação de conceitos retrógrados. Feliciano tem sido política e moralmente incorreto em tudo o que diz. Em 2011, registrou no Twitter que os negros são “descendentes amaldiçoados de Noé”. Condenou a homossexualidade, dizendo que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”.
Além disso, o parlamentar é réu por estelionato em ação penal no Supremo Tribunal Federal, sob a acusação de ter embolsado dinheiro para ministrar cultos que não foram realizados. Seu currículo é uma lista interminável de desmandos. Como pastor, já foi filmado fazendo apelos para que os fiéis de sua igreja, Catedral do Aviamento da Assembleia de Deus, entreguem dinheiro vivo, cartões bancários ou mesmo cheques pré-datados. Colegas no Congresso têm repetido que sua eleição fere o regimento interno e o decoro parlamentar. É muito mais do que isso. Com sua escolha, o parlamento trata com escárnio não só as pessoas que o político discrimina, mas toda a sociedade.
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