Flávio Tavares*
A presidente Dilma Rousseff estava ainda comovida e sensibilizada quando, à saída do Vaticano, descreveu seu encontro com o papa Francisco. “O papa é modesto e austero”, disse ela, emocionada com a profundeza de espírito do padre Bergoglio, transmitida na simplicidade. Ali, ela entendeu que é exatamente isto que pode fazer do Papa uma ponte para a fraternidade e a paz.
Dilma também é austera, sem a retumbância da tola exibição dos pedantes e presunçosos e, talvez por isto (por ver-se num espelho na visita a Francisco), comoveu-se tanto e tão sinceramente. Como foi possível, então, que a presidente alugasse 52 apartamentos em luxuo- sos hotéis de Roma, além de 17 veículos, para lá permanecer dois dias e horas com sua imensa e extravagante comitiva? Cada diária das suítes ocupadas por ela e a cúpula custou R$ 8 mil e os quartos “mais baratos”, mil reais, alimentação à parte.
A embaixada do Brasil na Itália é o palácio mais belo e luxuoso de Roma, com mais de 6 mil metros quadrados, mas não hospedou a presidente “porque não há embaixador”, alegou o ministro das Relações Exteriores, como se embaixador fosse mordomo para servir o café matinal. Ou lá só há teias de aranha, já que ninguém nos representa na Itália?
Ou tudo mostra, apenas, que a cidadã Dilma está rodeada pelo delírio dos que esbanjam o dinheiro alheio? E que sucumbiu ante a pompa inútil do poder?
Esbanjando euros, nosso governo alugou em Roma autos blindados, quatro “vans”, um micro-ônibus e até um caminhão-baú e dois furgões. Para quê? Para provar que Deus é brasileiro?
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As coisas materiais têm duas faces – verso e reverso, frente ou fundos – ou têm seu contrário, como frio e calor. Essa dualidade resume a própria vida, mas não se mistura entre si. Não há calor que seja frio. A ética não se mescla com o absurdo, a correção da lei não coabita com o crime.
Entre nós, porém, o faz de conta é forma de vida ou jeito de governar. Vide a nova tragédia na região serrana do Rio de Janeiro. Em janeiro de 2011, o desabamento de morros soterrou Teresópolis e matou mais de mil pessoas. Até hoje, procuram-se corpos e tudo segue como antes. Ou se agravou, com a especulação imobiliária cortando morros, desbarrancando e erodindo, com casas e casebres escalando cimos.
A corrupção de prefeitos e governantes estaduais desviou mais de R$ 150 milhões destinados à recuperação!
Agora, dois anos e dois meses depois, a tragédia se repete na vizinha cidade de Petrópolis, onde já são mais de 30 os cadáveres encontrados na lama.
Em março de 2011, um tsunami engoliu a usina nuclear e parte de Fukushima, no Japão, com 19 mil mortos. Hoje, a cidade está em organizada reconstrução e a tragédia levou o Japão inteiro a prevenir-se contra o perigo da contaminação pela radioatividade. Aqui somos o contrário de lá!
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Por que a tragédia de Fukushima resultou no oposto do horror das serras do Rio de Janeiro? As causas várias e profundas incluem história, tradição e disciplina, mas a diferença essencial é que, no Japão, educa-se para ampliar e aprofundar o saber de cada um. Aqui, a educação virou um faz de conta. Lá, o ensino é rigoroso e os professores constituem uma elite respeitada e querida. Aqui, são tratados como desprezíveis párias e o ensino é quase mera formalidade para manter aparências.
Ou não é isto que se vê nesse idiota escândalo das provas do Enem, em que o Ministério da Educação ordenou que os professores aprovassem tudo, até os erros mais crassos e bobos?
Um ensino que não leva a discernir o certo do errado nada ensina. Deforma em vez de formar, confundindo o bem e o mal.
Deus pode, até, ser brasileiro, mas somos o país do faz de conta!
A presidente Dilma Rousseff estava ainda comovida e sensibilizada quando, à saída do Vaticano, descreveu seu encontro com o papa Francisco. “O papa é modesto e austero”, disse ela, emocionada com a profundeza de espírito do padre Bergoglio, transmitida na simplicidade. Ali, ela entendeu que é exatamente isto que pode fazer do Papa uma ponte para a fraternidade e a paz.
Dilma também é austera, sem a retumbância da tola exibição dos pedantes e presunçosos e, talvez por isto (por ver-se num espelho na visita a Francisco), comoveu-se tanto e tão sinceramente. Como foi possível, então, que a presidente alugasse 52 apartamentos em luxuo- sos hotéis de Roma, além de 17 veículos, para lá permanecer dois dias e horas com sua imensa e extravagante comitiva? Cada diária das suítes ocupadas por ela e a cúpula custou R$ 8 mil e os quartos “mais baratos”, mil reais, alimentação à parte.
A embaixada do Brasil na Itália é o palácio mais belo e luxuoso de Roma, com mais de 6 mil metros quadrados, mas não hospedou a presidente “porque não há embaixador”, alegou o ministro das Relações Exteriores, como se embaixador fosse mordomo para servir o café matinal. Ou lá só há teias de aranha, já que ninguém nos representa na Itália?
Ou tudo mostra, apenas, que a cidadã Dilma está rodeada pelo delírio dos que esbanjam o dinheiro alheio? E que sucumbiu ante a pompa inútil do poder?
Esbanjando euros, nosso governo alugou em Roma autos blindados, quatro “vans”, um micro-ônibus e até um caminhão-baú e dois furgões. Para quê? Para provar que Deus é brasileiro?
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As coisas materiais têm duas faces – verso e reverso, frente ou fundos – ou têm seu contrário, como frio e calor. Essa dualidade resume a própria vida, mas não se mistura entre si. Não há calor que seja frio. A ética não se mescla com o absurdo, a correção da lei não coabita com o crime.
Entre nós, porém, o faz de conta é forma de vida ou jeito de governar. Vide a nova tragédia na região serrana do Rio de Janeiro. Em janeiro de 2011, o desabamento de morros soterrou Teresópolis e matou mais de mil pessoas. Até hoje, procuram-se corpos e tudo segue como antes. Ou se agravou, com a especulação imobiliária cortando morros, desbarrancando e erodindo, com casas e casebres escalando cimos.
A corrupção de prefeitos e governantes estaduais desviou mais de R$ 150 milhões destinados à recuperação!
Agora, dois anos e dois meses depois, a tragédia se repete na vizinha cidade de Petrópolis, onde já são mais de 30 os cadáveres encontrados na lama.
Em março de 2011, um tsunami engoliu a usina nuclear e parte de Fukushima, no Japão, com 19 mil mortos. Hoje, a cidade está em organizada reconstrução e a tragédia levou o Japão inteiro a prevenir-se contra o perigo da contaminação pela radioatividade. Aqui somos o contrário de lá!
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Por que a tragédia de Fukushima resultou no oposto do horror das serras do Rio de Janeiro? As causas várias e profundas incluem história, tradição e disciplina, mas a diferença essencial é que, no Japão, educa-se para ampliar e aprofundar o saber de cada um. Aqui, a educação virou um faz de conta. Lá, o ensino é rigoroso e os professores constituem uma elite respeitada e querida. Aqui, são tratados como desprezíveis párias e o ensino é quase mera formalidade para manter aparências.
Ou não é isto que se vê nesse idiota escândalo das provas do Enem, em que o Ministério da Educação ordenou que os professores aprovassem tudo, até os erros mais crassos e bobos?
Um ensino que não leva a discernir o certo do errado nada ensina. Deforma em vez de formar, confundindo o bem e o mal.
Deus pode, até, ser brasileiro, mas somos o país do faz de conta!
*JORNALISTA E ESCRITOR
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