Há sete anos no cargo, o diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo, criou um poder paralelo na Casa. Passou a vigiar gabinetes e acessar até e-mails dos senadores. Agora, é temido por Renan, que pensa em substituí-lo
Josie Jeronimo e Izabelle Torres
ESPIÃO OFICIAL
Pedro Ricardo equipou seus homens com os mais modernos dispositivos
da contraespionagem. Senadores reclamam do excesso de monitoramento
Homem de confiança do senador José Sarney (PMDB-AP), protegido por sua mulher, dona Marly, Pedro Ricardo era apenas um técnico legislativo com formação em contabilidade. Até que, em 2005, foi promovido ao posto de diretor da Polícia Legislativa da Casa e transformou o broche funcional que carrega na lapela em uma estrela de xerife. Com a função comissionada e acesso irrestrito ao gabinete de Sarney, Pedro Ricardo ganhou superpoderes. Baixou oito atos e portarias ampliando cada vez mais a atuação de seu departamento e equipou seus homens com os mais modernos dispositivos da contraespionagem. Prática recorrente e conhecida dos funcionários da polícia, ele produz relatos semanais para a presidência do Senado sobre, por exemplo, quem entra e sai dos gabinetes, conduta aceitável em organismos de outra natureza, como o Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência da República. Recém-eleito presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) esteve tentado a valer-se dos préstimos do xerifão. Os dois já haviam trabalhado juntos até 2007. Mas, hoje, Renan está mais inclinado a substituí-lo. O parlamentar alagoano, na verdade, teme o poder paralelo criado por Pedro Ricardo no Senado nos últimos anos.
A estrutura da Polícia Legislativa comandada por Pedro Ricardo é portentosa. Conta com 380 homens armados e treinados à imagem e semelhança da Polícia Federal. Custa R$ 30 milhões por ano aos cofres públicos e pode bisbilhotar cada gabinete. Até 2011, seus integrantes tinham acesso a todos os e-mails do Senado – inclusive dos próprios senadores –, sem necessidade de pedir quebra de sigilo à Justiça. O diretor do Senado parece mesmo ser afeito à curiosidade. No fim do ano passado, ele emplacou um contrato de R$ 6 milhões para espalhar 900 câmeras, muitas delas com recursos de gravação de áudio, pelas dependências do Senado. Nem mesmo o espaço reservado do chamado cafezinho parlamentar e as portas dos gabinetes ficaram de fora. Nos bastidores, os senadores reclamam do excesso de monitoramento.
Num caso que pode ser visto como perseguição política, a Polícia Legislativa já foi acusada de colocar câmeras em um hangar de Goiânia (GO) para vigiar os passos do ex-senador Demóstenes Torres e de Marconi Perillo, dois desafetos de Sarney. No fim do ano passado, surgiu a denúncia de que um integrante da Polícia Legislativa, Yanko de Carvalho Paula Lima, tinha ligações com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Amigo de Yanko, Pedro Ricardo mandou envagetar o caso.
O estilo xerifão do diretor fez a polícia do Legislativo atravessar a rua e invadir competências judiciárias. A Polícia Civil do Distrito Federal já flagrou os servidores do Senado abordando cidadãos em pontos de ônibus próximos às residências oficiais de Brasília e efetuando prisões fora das dependências da Casa. O departamento funciona como força paralela e presta favores aos senadores que não querem a vida pessoal devassada por procedimentos policiais. Assim, quando filhos de parlamentares se envolvem em brigas ou pequenos delitos, os policiais legislativos são acionados, evitando a ação da polícia e toda dor de cabeça que aflige o cidadão comum. Mantendo esses casos em sigilo, a polícia legislativa garante a gratidão de vários parlamentares e suas famílias.
Aos mais próximos, porém, Renan tem dito que quer uma Polícia Legislativa “mais cidadã”. É uma atitude prudente, já que os métodos questionáveis do diretor podem abrir mais um flanco numa gestão inaugurada com 1,5 milhão de assinaturas que pediam seu impeachment. Embora tenha multiplicado iniciativas para permanecer no cargo, Pedro Henrique tem poucas chances de ser bem-sucedido.
Foto: Carlos Moura/CB/D.A Press
ESPIÃO OFICIAL
Pedro Ricardo equipou seus homens com os mais modernos dispositivos
da contraespionagem. Senadores reclamam do excesso de monitoramento
Homem de confiança do senador José Sarney (PMDB-AP), protegido por sua mulher, dona Marly, Pedro Ricardo era apenas um técnico legislativo com formação em contabilidade. Até que, em 2005, foi promovido ao posto de diretor da Polícia Legislativa da Casa e transformou o broche funcional que carrega na lapela em uma estrela de xerife. Com a função comissionada e acesso irrestrito ao gabinete de Sarney, Pedro Ricardo ganhou superpoderes. Baixou oito atos e portarias ampliando cada vez mais a atuação de seu departamento e equipou seus homens com os mais modernos dispositivos da contraespionagem. Prática recorrente e conhecida dos funcionários da polícia, ele produz relatos semanais para a presidência do Senado sobre, por exemplo, quem entra e sai dos gabinetes, conduta aceitável em organismos de outra natureza, como o Gabinete de Segurança Institucional, ligado à Presidência da República. Recém-eleito presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) esteve tentado a valer-se dos préstimos do xerifão. Os dois já haviam trabalhado juntos até 2007. Mas, hoje, Renan está mais inclinado a substituí-lo. O parlamentar alagoano, na verdade, teme o poder paralelo criado por Pedro Ricardo no Senado nos últimos anos.
A estrutura da Polícia Legislativa comandada por Pedro Ricardo é portentosa. Conta com 380 homens armados e treinados à imagem e semelhança da Polícia Federal. Custa R$ 30 milhões por ano aos cofres públicos e pode bisbilhotar cada gabinete. Até 2011, seus integrantes tinham acesso a todos os e-mails do Senado – inclusive dos próprios senadores –, sem necessidade de pedir quebra de sigilo à Justiça. O diretor do Senado parece mesmo ser afeito à curiosidade. No fim do ano passado, ele emplacou um contrato de R$ 6 milhões para espalhar 900 câmeras, muitas delas com recursos de gravação de áudio, pelas dependências do Senado. Nem mesmo o espaço reservado do chamado cafezinho parlamentar e as portas dos gabinetes ficaram de fora. Nos bastidores, os senadores reclamam do excesso de monitoramento.
Num caso que pode ser visto como perseguição política, a Polícia Legislativa já foi acusada de colocar câmeras em um hangar de Goiânia (GO) para vigiar os passos do ex-senador Demóstenes Torres e de Marconi Perillo, dois desafetos de Sarney. No fim do ano passado, surgiu a denúncia de que um integrante da Polícia Legislativa, Yanko de Carvalho Paula Lima, tinha ligações com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Amigo de Yanko, Pedro Ricardo mandou envagetar o caso.
O estilo xerifão do diretor fez a polícia do Legislativo atravessar a rua e invadir competências judiciárias. A Polícia Civil do Distrito Federal já flagrou os servidores do Senado abordando cidadãos em pontos de ônibus próximos às residências oficiais de Brasília e efetuando prisões fora das dependências da Casa. O departamento funciona como força paralela e presta favores aos senadores que não querem a vida pessoal devassada por procedimentos policiais. Assim, quando filhos de parlamentares se envolvem em brigas ou pequenos delitos, os policiais legislativos são acionados, evitando a ação da polícia e toda dor de cabeça que aflige o cidadão comum. Mantendo esses casos em sigilo, a polícia legislativa garante a gratidão de vários parlamentares e suas famílias.
Aos mais próximos, porém, Renan tem dito que quer uma Polícia Legislativa “mais cidadã”. É uma atitude prudente, já que os métodos questionáveis do diretor podem abrir mais um flanco numa gestão inaugurada com 1,5 milhão de assinaturas que pediam seu impeachment. Embora tenha multiplicado iniciativas para permanecer no cargo, Pedro Henrique tem poucas chances de ser bem-sucedido.
Foto: Carlos Moura/CB/D.A Press
Nenhum comentário:
Postar um comentário