VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 1 de setembro de 2013

COMPLÔ PELA ÉTICA



ZERO HORA 01 de setembro de 2013 | N° 17540

 Luiz Antônio Araujo*



Que ninguém se engane a respeito da decisão dos deputados federais de manter o mandato do colega Natan Donadon (sem partido-RO), condenado pelo Supremo Tribunal Federal por peculato e formação de quadrilha e recolhido à colônia penal da Papuda, no Distrito Federal. São fortes os indícios de que, por trás da sessão de quarta-feira, que culminou na recusa em punir Donadon com a maior penalidade reservada a um membro do parlamento a cassação , está um movimento subterrâneo e inconfessável. Evidências sugerem que o objetivo do conluio urdido nas sombras seja instaurar, de forma cabal e irremissível, a ética e a moralidade na Câmara dos Deputados.

Diferentemente da maioria das inconfidências, que se caracterizam por envolver minorias, a operação em curso na Câmara parece envolver a quase totalidade dos deputados. É fácil identificar seus líderes, que agem às claras: foram os mesmos que contribuíram, em grandes e pequenos gestos, para que a votação da perda de mandato de Donadon tivesse o desfecho conhecido de todos. Entre os conjurados, estão integrantes da Mesa Diretora, líderes e vice-líderes de partidos e de bancadas e, especialmente, ocupantes de funções na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar.

Há, contudo, um segmento do qual depende de forma praticamente exclusiva o sucesso da empreitada. Trata-se do numeroso contingente de parlamentares da planície. Esse setor é justamente considerado como aquele que faz as coisas acontecerem na Câmara. Sem sua concorrência, o complô estaria fadado ao fracasso. Na sessão que tratou do caso Donadon, eles agiram de forma tão precisa, que pareceu ter sido longa e minuciosamente ensaiada. Alguns participaram da votação, outros estavam presentes na Casa e não votaram. Não se deve esquecer os ausentes por motivo de doença, licença e compromissos políticos nos Estados. Esses constituem a tropa de elite da conspiração ética.

O plano a que esses senhores devotam seus inegáveis talentos é composto de três fases. A primeira, que conseguiram concluir antes de serem desmascarados, consiste em criar um fato suficientemente escandaloso a ponto de despertar a repulsa de todos quantos dele tomam conhecimento. Tudo foi concebido nos mínimos detalhes: a decisão de levar o caso ao plenário (uma proposta de cassação automática com base na condenação judicial foi discretamente derrotada na Comissão de Constituição e Justiça), a impaciência diante dos discursos contra Donadon e o placar da votação (233 votos a favor da perda de mandato, ou seja, 24 a menos do que o necessário, além de 131 contrários e fantásticos 104 ausentes). Decisivo para o efeito desejado foi o discurso do próprio deputado-presidiário, que reclamou da comida do presídio (“Lá não é marmitex, é chamado de xepa”) e revelou ter fobia de camburão. Observadores atentos acreditam ter identificado na fala o estilo de Walcyr Carrasco.

Com o sucesso desse primeiro estágio, os conspiradores ganharam confiança para passar ao segundo, que está em curso neste momento. Esse consiste em aproveitar o desgosto nacional para impulsionar, de forma irresistível, a proposta de fim das votações secretas no Congresso. Por último, com a nuca bafejada pelo hálito das ruas, esses mesmos deputados que pareceram tão dispersos na quarta-feira arremeterão em data previamente combinada a fim de aprovar o fim do voto secreto com placar consagrador. Um comando diversionista composto de elementos de estrita confiança será encarregado de fornecer alguns votos contra a proposta, só para não dar na vista. Essa última fase baseia-se nos ensinamentos do general chinês Sun Tzu (544 a.C. – 496 a.C.): “A surpresa consiste em golpear o inimigo em local, hora ou forma que ele não esteja esperando”.

É coisa de profissionais.

*JORNALISTA

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