VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 1 de setembro de 2013

IMPUNES LÁ E CÁ



ZERO HORA 01 de setembro de 2013 | N° 17540

ARTIGOS


Flávio Tavares*


O que dizer se, amanhã, algum dos condenados nas fraudes do mensalão entrar numa embaixada, em Brasília, e pedir asilo político? O asilo é uma forma de proteger os perseguidos políticos, algo que os réus do mensalão alegam ser, fazendo pose de vítimas. Assim, algum deles poderia, por exemplo, entrar à embaixada da Bolívia e lá se refugiar para, depois, ser levado ao estrangeiro e não cumprir a sentença ditada por perseguição política. Como reagiríamos?

Que cada qual avalie o que pensar desse estratagema binacional para a impunidade! Mas, e o caso do senador boliviano Roger Pinto, que se refugiou na embaixada do Brasil em La Paz e obteve proteção diplomática, não é exatamente assim?

Com três ordens de prisão ditadas pela Justiça e já condenado pelo desvio de milionárias verbas destinadas à Amazônia boliviana, ele responde a outros 18 processos por crimes comuns em grande escala – nada a ver com as bagatelas que levam um batedor de carteira à cadeia por algumas horas. Mesmo assim, a embaixada do Brasil o asilou como “perseguido político” e intercedeu para que recebesse o salvo-conduto do governo boliviano para, aqui, desfrutar da impunidade. A Bolívia negou-se a permitir a saída.

E veio o desvario: sob escolta de dois fuzileiros navais brasileiros, o chefe de nossa representação em La Paz levou o fugitivo da Justiça até Mato Grosso em carro diplomático, imune a revisões na estrada e com passe livre na fronteira. De lá, um senador (brasileiro) o levou a Brasília...

Nosso ministro de Relações Exteriores negou-se a conceder asilo a Edward Snowden (que desmascarou a espionagem eletrônica dos EUA e suas bases de operação no Brasil), mas deu atenção especial a um réu por fraudes. Nem o papa Francisco teve escolta de dois fuzileiros navais em seu carro nas ruas do Rio, junto ao mar! O que fazem fuzileiros navais do Brasil em La Paz, a 4 mil metros de altitude?

Atuariam no novo DOI-Codi, o centro de torturas em que se transformou a embaixada, como afirmou o chefe de nossa representação, dolorido pela longa hospedagem do senador?

A presidente Dilma demitiu Antonio Patriota pela estupidez de a embaixada patrocinar uma fuga além-fronteiras. Mas o nomeou representante do Brasil na ONU! Recompensa ou prêmio de consolação? Tudo é tão inexplicável quanto defender a fuga do senador-delinquente só porque se opõe ao antipático e turrão Evo Morales, presidente da Bolívia.

O perigosamente ridículo se expande e, agora, leva a Câmara dos Deputados à insensatez do absurdo absoluto. Ao negar-se a cassar o mandato do deputado Natan Donadon, do PMDB, condenado (em definitivo) a 13 anos de prisão pelo Supremo Tribunal por “desviar” R$ 8 milhões do Legislativo de Rondônia, a Câmara não cometeu apenas uma aberração. Foi além, ultrajou-se a si própria. A decisão moralmente obscena e inaceitável ignorou a Constituição, que estipula a perda do mandato de parlamentar condenado pelo STF.

A Câmara equiparou-se ao condenado, numa aceitação tácita de seus crimes. Ao final da votação, muitas palmas e o deputado-presidiário se ajoelhou, “agradecendo a Deus” em hipócrita pantomima. O voto foi oculto, em surdina, e alguns gaúchos optaram pelo corrupto, infelizmente. Em foto nos jornais do Rio e São Paulo, por exemplo, o deputado Sérgio Moraes, do PTB, festeja a decisão ao lado de Donadon. Além disto, ao se ausentarem da sessão, 14 gaúchos (do PP, PT, PMDB, PSB e PDT) favoreceram o deputado-presidiário.

Haverá dor maior do que ver o poder apelar à anarquia e ao absurdo para – lá ou cá – proteger o crime e glorificar a impunidade?


*JORNALISTA E ESCRITOR

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