VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

NA CÂMARA, O VENTO LEVOU AS PASSEATAS DE JUNHO

JORNAL DO COMERCIO, 02/09/2013



O que parecia impossível de acontecer acabou por ocorrer menos de três meses após o dia 17 de junho, que entrou para a história do Brasil como o maior ciclo de manifestações espontâneas contra a corrupção, no rastro dos reclamos por um transporte coletivo melhor, além de mais saúde, educação e segurança pública. A Câmara de Deputados conseguiu se superar em matéria de desleixo para com a moralidade que deve, pelo menos às vezes, imperar naquela Casa. A não cassação de deputado que está preso por corrupção nos remete a duas questões. A primeira, que alguém consiga explicar por que nós elegemos aqueles que ganham notoriedade por conta de desmandos, de desvios de conduta ou de corrupção com o dinheiro público. A segunda, o fato de que mesmo condenado, com o voto secreto e o desleixo de dezenas de parlamentares, não foi cassado o mandato de alguém que está na cadeia. Ora, a melhor doutrina política sempre será a que nos faz melhores e mais justos. Todos nós, não apenas políticos, empresários e trabalhadores em geral.

Sabemos que é difícil rompermos com a cultura do “deixa para lá” que permeia a vida nacional desde o Descobrimento. Mas é fundamental que isso ocorra, seja através de dura legislação, seja por meio da ação dos próprios agentes de Executivo, Legislativo e Judiciário. Em junho, ficamos extasiados internamente quando conhecemos, nas ruas - sem a parte errada do vandalismo -, todas as nossas potencialidades e mostramos a força do ego para orientar a plena capacidade da cidadania. Em uníssono, os líderes maiores do Brasil disseram que era preciso ouvir a voz das ruas. Pois não é que no dia 28 de agosto os deputados federais demonstraram um quase desprezo pelos seus concidadãos ao absolverem um de seus pares. Alguns porque não votaram, outros porque não compareceram e muitos porque não julgaram nada de errado no desvio do erário praticado por um dos seus, ainda que em outra esfera e tempo de atuação. Porém, mais uma vez atônicos com os nossos representantes, nada aconteceu. O vento levou as passeatas de junho para a lata de lixo da consciência de centenas dos – um exagero – 513 deputados federais.

Aos que não cumpriram o seu dever cívico na Câmara dos Deputados, parece que nunca lhes ocorreu que eles são representantes do povo. Permanecem em um mundinho estreito sem ligar para a voz das ruas, mesmo que o eco das manifestações ainda é ouvido em quase todas as capitais do Brasil. Nossos políticos, em boa parte, parecem adolescentes, pois são rebeldes sem causa, desatentos com o clamor popular e agitados na busca do interesse próprio. Muitas vezes parecem vítimas de uma opinião negativa a respeito de si mesmos, nutrindo uma hostilidade disfarçada por aqueles que os elegeram. Em suma, os deputados agiram, dia 28 de agosto, como se estivessem gripados, com uma virose dessas que se abatem sobre quase todos no inverno. E como todos nós consideramos que a gripe é algo natural e contra a qual devemos nos vacinar, então o que os deputados fizeram está de acordo com um tumulto essencial para que eles finalmente descubram a sua identidade, a sua obrigação. O povo observou que os mais ambiciosos por autoridade são os menos capazes de bem a exercerem. Foi o caso da não cassação. Um erro grosseiro.

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