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terça-feira, 3 de setembro de 2013

DESCULPAS ESFARRAPADAS


ZERO HORA 03 de setembro de 2013 | N° 17542

ARTIGOS

Floriano Isolan*



Desta vez, a queda de uma velha e pesada árvore na Capital matou um juiz, além de causar ferimentos em outras pessoas. A imprensa livre e presente mais uma vez noticia os fatos. Dá pena o que dizem os especialistas. A população de Porto Alegre vive em uma cidade privilegiada com suas inúmeras praças e áreas verdes. Porém, isso tem seu ônus. Árvores, como pessoas, crescem e morrem. A maioria das pessoas, entre essas nossos governantes e apreciadores do ambiente, não o sabe. Isso causa morte e dor, muita dor. Os familiares não querem ser entrevistados.

O solo de Porto Alegre, formado a partir da rocha granítica, é raso. As árvores, salvo em algumas ravinas e aterros, não encontram profundidade de ancoragem para suas raízes. O eucalipto, entre outras árvores, não suporta entrar em contato com água permanente, emite raízes laterais e vai como que “aguentando”, até que, em função de sua idade, sítio e sobretudo excesso de água no lençol freático e ventos, adoece. Às vezes, cai antes de morrer. E mata. Não serve para paisagismo urbano. Felizmente, a maioria das notícias dos tombamentos é sobre danos materiais. Da mesma forma, existem centenas de árvores nas ruas, conhecidas como guapuruvu, que produzem belas flores amarelas, porém caem facilmente (seu nome, em tupi, significa galhos que caem). Danificam redes elétricas, encanamentos, carros, muros. Porém, quando solicitada autorização para corte, a Smam nega. Não se interessam pelo risco iminente de danos materiais e à própria vida.

Para uma cidade do porte de Porto Alegre, de nada adianta a prefeitura manter dezenas de técnicos, se não há operacionalização de um completo sistema de avaliação e monitoramento das árvores existentes. É caro, difícil, complexo. Tudo isso e por isso a população paga impostos e taxas. Não reclama. Até apoia contratação de pessoal especializado. É fundamental fazer um inventário e respectivo cadastro de árvores em situação de risco. Determinar poda, remoção, substituição, eliminação. Tudo sem burocracia, a não ser o rito da coisa, que deve e será agronômica e previamente feito. Sem isso, é esperar a próxima tromba-d’água, o temporal de ventos e as árvores caídas. Apagão, talvez.

Para finalizar, peço que todos os leitores prestem atenção num majestoso eucalipto que está localizado na Praça da Alfândega, na Rua da Praia, muito próximo à banca de revistas. Faço o registro, pois a árvore é idosa (imagino sexagenária), deve pesar seis ou sete toneladas. Está doente e não avisa? Quanto ainda durará? Sei que, quando cair, trará dor, muita dor, fotos e leitura do script de desculpas esfarrapadas.

*ENGENHEIRO AGRÔNOMO

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