FOLHA.COM 27/01/2014 03h00
Gustavo Patu:
BRASÍLIA - "Eu quero que todos sejam classe média. Porque o que a classe média tem de benefícios, de casa, de educação, de saúde, de emprego, de salário, de poder almoçar num restaurante uma vez por mês, de poder tomar uma cervejinha no final do expediente... Todo mundo é filho de Deus e todo mundo tem direito às coisas boas deste país."
Assim falava Lula na campanha de 1989, quando sua barba preta e sua promessa de socialismo democrático ainda metiam medo -e não apenas em quem podia almoçar fora de casa mais de uma vez por mês.
Quase 25 anos depois, a expansão da classe média é o que de melhor a administração petista tem para mostrar ao mundo rico, como neste mais recente Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Pelas contas oficiais, dois terços dos brasileiros já estão na classe média; segundo o Itaú, serão três quartos até 2016.
É claro que sempre haverá muito a questionar nos critérios para demarcar quem é pobre, rico ou remediado. As estatísticas do governo encaixam na classe média uma mãe solteira de um filho, trabalhando como empregada doméstica por um salário mínimo. A grande maioria dos considerados de classe alta certamente se considera classe média.
No debate de Davos, segundo o relato de Clóvis Rossi, da Folha, o ministro Marcelo Neri, de Assuntos Estratégicos, brincou com uma definição americana segundo a qual classe média é quem possui dois cachorros, dois carros e uma piscina.
Historicamente, a turma da cervejinha e da piscina sempre foi uma pedra no sapato do pensamento de esquerda. Marx descreveu a classe média como reacionária e fadada à extinção num mundo dividido entre exploradores e explorados.
"Eu odeio a classe média", como disse sem rodeios a filósofa petista Marilena Chaui. Contrariando a profecia marxista, os pequenos burgueses se expandem e levam o governo ao centro e Dilma Rousseff à Suíça.
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