EDITORIAIS
O ano eleitoral começou com uma intensa negociação entre partidos e governantes, tanto no âmbito federal quanto nos Estados, em torno de alianças políticas que constrangem os brasileiros. São conchavos escancarados pelo poder, tendo como moeda de troca ministérios, secretarias e cargos públicos. Por conta de acordos de difícil compreensão para os eleitores, partidos políticos fazem um jogo que beira a chantagem, procurando apropriar-se de setores da administração pública, especialmente daqueles que desfrutam de fatias generosas do bolo orçamentário. Será esse o sistema político mais adequado para a democracia brasileira? Será que não existe uma forma mais ética e mais transparente de governar? Como os brasileiros podem mudar esse estado de coisas?
Antes das respostas, cabe considerar que tais manobras e as coalizões espúrias delas resultantes acabam contribuindo para o descrédito da população sobre a classe política em geral. Isso, evidentemente, realimenta o ciclo vicioso: cidadãos desinteressados votam mal, deixam de fiscalizar seus representantes e invariavelmente resvalam para a generalização negativa, de que todos os políticos são iguais e só estão na vida pública para levar vantagem. Quando se olha para o verdadeiro escambo de cargos públicos promovido por governantes-candidatos e partidos incrustados no poder, fica difícil argumentar em contrário. Ainda assim, é pelo cidadão-eleitor que pode começar uma mudança moralizadora na política nacional.
Compete-lhe, antes de tudo, informar-se sobre os seus representantes e sobre os candidatos a cargos públicos, capacitando-se, assim, para avaliá-los pelo histórico, pela honestidade e pela coerência. E essa fiscalização não termina no momento do voto. Depois de eleitos, principalmente, os detentores de mandato devem continuar sendo cobrados, para que não coloquem seus interesses e os de seus partidos na frente dos compromissos assumidos com a população.
Veja-se o exemplo do governo federal, que acaba sendo o espelho das demais administrações. Quando assumiu a presidência, Dilma Rousseff contava com o apoio de 17 partidos e de 80% do parlamento, uma base governista capaz de garantir a aprovação de qualquer projeto seu. Para garantir esse apoio, repetiu seus antecessores: loteou os principais cargos da administração federal entre os aliados, chegando mesmo a aumentar o número de ministérios para satisfazer a ganância dos partidos. Deu no que deu: episódios de corrupção que a obrigaram a promover aquilo que ficou conhecido como faxina ética. A população, ainda ressentida com o escândalo do mensalão, apoiou a limpa, mas logo alguns expurgados começaram a voltar ao governo por pressão de suas agremiações.
A prisão dos mensaleiros atacou a conse-quência desse processo espúrio. Falta, agora, atacar as causas, por meio de uma mobilização cidadã que imponha uma reforma política efetiva, devolvendo a administração pública à população e expurgando os aproveitadores sedentos de poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário