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O eixo do pronunciamento que a presidente Dilma Rousseff fará nesta sexta-feira em Davos deve evidenciar visões aparentemente conflitantes do Brasil deste início de século 21. Conforme antecipou o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Neri, a fala presidencial estará centrada numa suposta assimetria entre o que pensa a população, supostamente satisfeita com o aumento de renda e do poder de consumo, e os empresários, que seriam os pessimistas em relação aos rumos da economia. O que se apresenta como um confronto de percepções pode, na verdade, ser uma abordagem simplista de como o país é visto interna e externamente. Pesquisas sobre o nível de satisfação dos brasileiros revelam que a maioria está de fato satisfeita com suas condições de vida, apesar de explicitar descontentamentos com questões básicas, como os serviços de saúde ainda precários e a segurança pública degradada.
Mas não há conflito entre esse otimismo e a posição crítica de quem tem o dever de vislumbrar cenários para muito além da conjuntura. A preocupação que estará presente em Davos, entre os 4 mil participantes do evento, incluindo chefes de Estado, empresários, autoridades da área econômica e analistas internacionais, converge para uma interrogação: até quando o Brasil poderá sustentar tais níveis de satisfação, se vem tendo desempenhos pífios do PIB e adia iniciativas de responsabilidade do setor público para superação de gargalos estruturais? O Brasil otimista com a atual situação sabe que somente preservará suas expectativas se dispuser de desenvolvimento sustentável e duradouro.
A presidente da República, na condição de economista, também sabe que bons níveis de consumo interno são indicadores positivos, com reflexos em produção e emprego, mas insuficientes para garantir o atendimento de todas as necessidades de médio prazo. O que Davos espera do Brasil é o grande salto, não com soluções mágicas, mas com atitudes seguras, de política de Estado, que promovam avanços na educação, na gestão pública austera, na redução do Custo Brasil, na melhoria da infraestrutura e na conexão entre as ações de governo e os interesses da maioria. E tudo isso depende da capacidade de quem está no poder de não conspirar contra quem corre riscos e empreende.
Para promover educação, saúde, segurança e serviços básicos, os governos dependem de investimentos e esses somente se sustentam em ambientes seguros. A presidente falará na Suíça para formadores de opinião que interferem, direta ou indiretamente, nos grandes movimentos mundiais dos investidores. Será a esses espectadores, atentos aos rumos do país, que a senhora Dilma Rousseff irá dirigir sua mensagem. Esse público certamente não terá suas expectativas atendidas se a palestra se limitar à exaltação de otimismos internos. O investidor, nacional e estrangeiro, espera realismo, com as condições necessárias à tomada de decisões para projetos de médio e longo prazos.
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