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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

TRANSPORTE COLETIVO INSATISFATÓRIO, DESUMANO E ANTI-SOCIAL

TV GLOBO, FANTÁSTICO, Edição do dia 26/01/2014


Brasil perde 2,5% do PIB por ano com transporte coletivo insatisfatório

Nas nove maiores regiões metropolitanas, 16 milhões de trabalhadores gastam uma hora e 22 minutos por dia em transporte coletivo. Em São Paulo e no Rio, o tempo aumenta para uma hora e meia.





Repórteres do Fantástico passaram um mês viajando em trens urbanos brasileiros. A imagens e os depoimentos mostram o caos que milhões de trabalhadores enfrentam todo dia. O país inteiro perde com essa situação. Perde tempo, dinheiro e paciência.

A reportagem é de Francisco Regueira e Júlio Aguiar.

Confira alguns dos depoimentos:

“As pessoas se agridem”.
“Deus nos acuda, cara. É um pisoteando o outro em busca de um lugar”.
“É aquele empurra-empura, é a correria”.
“Tiveram vários casos em que pessoas caíram e foram pisoteadas”.
“Às vezes dá vontade de desistir de trabalhar longe”.
“Você vê tanta coisa que você fica: meu Deus, o que é isso?”
“A gente acaba se comportando feito animal”.

Rodrigo Silva, importação e exportação: não tem palavras pra descrever isso aqui, é humilhante.

Nesta semana, no Rio de Janeiro, o descarrilamento de um trem parou parte da cidade. Faltou transporte. Faltou luz nas estações. Faltaram informações para os usuários. A imagem da cadeirante sendo levada escada acima é o símbolo de um sacrifício diário.

Billy: sou Billy Sagga, rapper, paraplégico. O trem tem um vão pra eu poder entrar e o bicho pega se eu quiser me locomover, e pra chegar? Tem que ser ninja pra poder dropar senão emboca no buraco.

Priscila: eu sou Priscila Brito. Tenho 24 anos. Dependendo de como estiver, a gente pode se arriscar, se você vê que não vai se machucar ou machucar alguém. No meu caso, eu resolvi ser mais prudente e esperar um pouco mais, porque eu não tenho horário pra chegar em casa.

Fantástico: mas quando tem horário?
Priscila: quando tem horário de manhã, a gente tem que se arriscar, a gente tenta entrar de qualquer maneira.

Billy: a realidade é que o sistema é insalubre pra toda a sociedade.

São Paulo produz por ano quase R$ 800 bilhões, um quinto do Produto Interno Bruto brasileiro. Poderia ser mais.

Fantástico: o que cansa mais, pegar o trem ou trabalhar?
Alexandro dos Santos, marceneiro: a condução. Você chega na empresa cansado já, né?

Foram mais de cem entrevistados e todos deram a mesma resposta.

Lucineide Silva, psicóloga: o que mais cansa realmente é o transporte.

Jeferson Batista, eletrotécnico: porque até nós chegar no serviço, já chega cansado. Chega no serviço não tem nem rendimento quase.

Hélio, Akatu: Quando o indivíduo chega cansado, irritado, ao trabalho devido à má qualidade do transporte que ele utilizou esse indivíduo certamente vai produzir menos.

Nas nove maiores regiões metropolitanas do Brasil, quase 16 milhões de trabalhadores usam transporte coletivo, principalmente os trens. Gastam em média uma hora e 22 minutos por dia. Em São Paulo e no Rio, o tempo aumenta para uma hora e meia.

Hélio Mattar, doutor em engenharia industrial, calculou a perda de produtividade.

Hélio, Akatu: Se a gente considerar que quando o indivíduo se desloca entre 30 minutos e uma hora há uma perda de 2,5% na produção e quando ele se desloca mais do que uma hora ele tem uma perda de 5% na produção, é possível calcular quanto de produção nós estamos perdendo.
Estamos perdendo R$ 90 bilhões por ano, o que dá aproximadamente 2,5% do PIB.

Isso tudo só nas nove maiores cidades do país.

Hélio: Portanto o Brasil seria um país mais rico se o deslocamento fosse de qualidade e com o menor tempo.

Rio de janeiro

A multidão ignora o limite de segurança e se arrisca na beira da plataforma. As portas se abrem. Começa a guerra.

Marcelo Sales, segurança: mulher então só fica em pé, a pancadaria come todo santo dia. Pode vir todo dia que tá assim, a pancada come pra você entrar. É senhor tomando cotovelada.
Stênio Ferreira, mecânico: o cidadão veio de lá correndo também e acertou o cotovelo na minha testa.

Todo mundo tem uma história para contar.

Fabiana Mendonça, cozinheira: fui jogada, me empurraram, nadei no chão da Central. Em vez de as pessoas pararem pra me ajudar, pularam por cima de mim. Arrebentei meu joelho. Ninguém, não teve uma alma pra me ajudar. Levantei sozinha, mancando, a sandália bem longe.

São Paulo

Neia: quando eu ia entrar o rapaz passou na minha frente, eu desequilibrei e caí no vão.

Shirley Carlos, cuidadora: estava indo entrar no trem e tinha umas pessoas tentando sair e os que estavam atrás de mim foram com tudo. Daí eu tropecei no buraco e caí.

Fantástico: e o que aconteceu, se machucou?
Shirley Carlos: fraturei o braço.

Um especialista em segurança e riscos propõe uma solução: o acesso dos passageiros às plataformas deveria ser controlado de acordo com a lotação de cada trem, cerca de duas mil pessoas.

Moacyr Duarte, pesquisador da UFRJ: Se houvesse a garantia de que o número das pessoas na estação é o número de pessoas que o trem comporta, a conduta certamente seria outra.

O descontrole no acesso causa também a superlotação dos vagões.

Fantástico: cabe mais gente nesse trem?
Lucineide Silva, psicóloga: acho que nas próximas você vai entender melhor. Sempre cabe, eles empurram. Viram de costas e empurram a gente de qualquer forma. Tem dias que o coração prende assim e o pulmão dá uma pegada.

Pelas normas internacionais de segurança, a lotação máxima nos trens é de seis pessoas por metro quadrado.

Moacyr: A gente conseguiu observar em algumas cenas a contagem de 8 a 9 pessoas por metro quadrado. Nessa condição, qualquer elemento de perturbação tem uma grande possibilidade de machucar muitas pessoas por pisoteio, por compressão contra as paredes do trem, pelo simples fato de que com aquela concentração as pessoas não têm como fazer os movimentos de equilíbrio nem usar os braços pra se defender.

Na Estação da Luz, em São Paulo, os repórteres do Fantástico estiveram no meio de uma cena de horror.

O acesso a uma plataforma tinha sido fechado por causa de problemas num trem. No andar de baixo, a multidão força a subida pela escada rolante desligada.

Quando a subida é liberada, começa o empurra-empurra. Homens furam a fila escalando a lateral da escada. Uma mulher passa mal e não consegue sair do tumulto. Outras preferem esperar longe dali, sentadas no chão.

Fantástico: se você pudesse melhorar alguma coisa, o que você melhoraria?
Sandra Araújo, cabeleireira: eu acho que seria mais a educação das pessoas pra não tumultuar tanto com esse empurra-empurra. Talvez se entrasse de um em um, não seria tão ruim do jeito que é.

Moacyr: sob tensão extrema, as pessoas perdem progressivamente a capacidade de raciocínio, e aí a necessidade de se defender faz com que elas tenham condutas extremamente egoístas e desapareça qualquer indício de relacionamento social.

Demétrio Magnoli, sociólogo: O chute, o pontapé, entrar pela janela, impedir que o idoso sente. O cidadão reage como quem concluiu que não é cidadão, porque o estado não o trata como cidadão. Esse desprezo se reflete no atraso do trem, se reflete na falta de horários, se reflete na falta de ar-condicionado, na falta de um conforto mínimo nas estações, na falta de informações para as pessoas. E isso gera como reação a guerra de todos contra todos.

Os desafios para o transporte ferroviário são muitos.

Um engenheiro de tráfego explica que, em São Paulo, os horários de pico não são mais uma exceção na rotina dos trens. Hoje, eles circulam com lotação máxima durante cinco horas pela manhã e mais cinco horas no fim da tarde.

Telmo Porto, engenheiro de tráfego da USP: Você tem praticamente 50% do tempo operando em pico. Isso é um desafio não só para as pessoas que têm que se ajustar a isso, mas também pro próprio sistema, que fica com muito menos tempo disponível para manutenção, para implantações, para modernizações.

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos reconhece que chegou ao limite do que pode oferecer aos usuários.

Sérgio de Carvalho Júnior, gerente de relacionamento da CPTM: no modelo atual, nós trabalhamos com a capacidade máxima.

E propõe uma mudança no modelo.

CPTM: essa mudança vai da oferta de empregos em outros locais que não no centro da Região Metropolitana. Porque todo mundo viaja pro mesmo sentido.

Em nota, a Supervia, responsável pelos trens do Rio de Janeiro, diz que zela pela segurança veiculando avisos sonoros e escalando agentes de controle para auxiliar no embarque preferencial. E reconhece que ainda há problemas a serem resolvidos.

A última luta é pra sair do vagão.

Priscila: Eu trabalho oito horas por dia e fico mais duas horas meia dentro do trem.

Duas horas indo e voltando do trabalho são um quarto da carga de oito horas por dia.

Um especialista faz outra proposta: imagine se o trabalhador pudesse passar em casa um quarto dos 35 anos de vida produtiva.

Hélio: Ele teria 9 anos de vida disponível pra ele se divertir, pra ele ter um lazer, para ele fazer uma leitura, estudar, estar com os filhos, enfim, pra ter qualidade de vida.

A hipótese confirma que qualquer ganho de tempo no transporte coletivo faria bem pra todo mundo.

Hélio: as famílias se tornariam mais unidas, os amigos estariam mais em contato. Essa na verdade é a sociedade que todos nós queremos.

Rodrigo Silva, importação e exportação: a gente sai de casa 5h pra entrar na Mooca às 8h, a gente não consegue chegar no horário.
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