ARTIGOS
Céli Pinto*
Mesmo que se repitam ano após anos, os balanços são importantes, queiramos ou não, são momentos que paramos para nos perguntar o que aconteceu com as nossas vidas, o que aconteceu com o país e com o mundo. Mas, vou me eximir dos balanços e pensar no ano que entra, em 2014. E começo dizendo que este não é o ano da Copa, não é o ano em que ficaremos envergonhados frente aos estrangeiros porque haverá filas nos aeroportos, para tomar táxi e nos restaurantes. Este é apenas um ano que, em meio a múltiplas outras coisas, acontecerá no país uma Copa do Mundo de futebol, durante um mês, promovida por uma organização privada, a Fifa. É um evento importante, trará turistas e divisas, sobrarão estádios e talvez alguma melhora no transporte urbano. Mas é só isto. Um país com mais de 200 milhões de habitantes, com uma das economias mais importantes do mundo, com programas sociais que envolvem milhões de pessoas, não pode ficar paralisado à espera da Copa, com medo de que não vão gostar de nós. O bordão imagina na Copa revela que ainda não perdemos o complexo de vira-lata tão bem cunhado pelo grande Nelson Rodrigues.
O ano de 2014 é um ano de eleições gerais no Brasil: serão eleitos presidente da República, governadores, senadores, deputados estaduais e federais. E, por isto é um ano especial. É um ano que necessita de muita reflexão, para não repetirmos outros tipos de bordão, que só mostram nossa imaturidade política. Este não é um ano para sair para as ruas dizendo que todos os políticos são iguais e que povo unido não precisa de partidos. Este é um ano para pensarmos politicamente, maduramente: sem políticos teríamos o quê? Sem partidos teríamos o quê? Ditaduras militares, tecnocráticas, teológicas? Há para todos os gostos.
Proponho para 2014 um ano sem bordões, um ano sem slogans, sem palavras de ordem vazias. Proponho para 2014 um ano político, um ano para refletirmos, para que discutamos durante o período eleitoral os nossos avanços e nossos grandes problemas. Precisamos reagir para que não haja uma campanha eleitoral medíocre dominada por moralismo de calças curtas, temas menores e bordões repetidos automaticamente sem nenhuma reflexão. E boa Copa para todos.
*Professora da UFRGS, pesquisadora visitante da Universidade de Oxford, Inglaterra
G1 - 27/08/2012 21h47 - Atualizado em 27/08/2012 22h32
Candidatos à Câmara de SP usam bordões no horário eleitoral. Ex-BBB, Mulher Pera, ex-jogadores e cantores bregas voltam à tela. Concorrentes usam também máscara, cachorro e até galinha.
Roney DomingosDo G1 SP
A primeira semana do horário eleitoral gratuito levou de volta à televisão celebridades e ex-jogadores de futebol que apostam na força do nome e em bordões para conquistar o mandato de vereador pelos próximos quatro anos. Na capital paulista, 1.226 candidatos disputam 55 cadeiras na Câmara Municipal - 22 concorrentes por vaga. Os menos conhecidos e os iniciantes apostam na criatividade para enfrentar a concorrência e levam ao vídeo máscaras, cachorros, galinhas e apelidos extravagantes.
"Fiz a louca no BBB e vou fazer a louca na Câmara", afirma no vídeo o ex-BBB Serginho, integrante do PSD, partido criado pelo prefeito Gilberto Kassab. A legenda também conta com o cantor Kiko do KLB, eleito em 2010 suplente de deputado federal pelo Democratas e que volta à carga com sua mensagem contra a pedofilia.
O universo do entretenimento está na campanha com Suelem Aline Mendes, mais conhecida como Mulher Pera (PTdoB), que dança enquanto afirma: "eu vou mexer, mexer, mexer e limpar toda a sujeira. Vote na Mulher Pera que arrebenta." Ela, que declarou à Justiça que lê e escreve, tentou a candidatura em 2010 para deputada federal, mas teve o registro negado.
O time tem ainda o cantor e vereador veterano Agnaldo Timóteo (PR), de terno amarelo, que resgata o bordão "Ô menino." E o candidato iniciante Cristiano Neves (PDT), que se apresenta sob o som de seu sucesso brega "Carta no quintal."
Dos campos de futebol, ex-jogadores que apelam à memória das torcidas: Dinei, ex-Corinthians, candidato do PDT, repete neste ano o gesto e a expressão que que marcou as campanhas de deputado estadual em 2010 e de vereador em 2008: "Gente dessa vez eu vim para ficar", diz. Com pouco tempo, logo emenda "Fui: auã", diz ele, ao se despedir do eleitor repetindo uma espécie de assobio.
Ídolo corintiano, Marcelinho Carioca (PSB) convoca a mesma torcida: "Nação, vamos mais uma vez mostrar nossa força e ganhar essa eleição? É Timão rumo a Tóquio e Marcelinho na Câmara", diz. Já os palmeirenses são convocados por Ademir da Guia (PR), que resgata jogadas históricas em campo e o apelido dos tempos de glória: "Divino."
Embora a classificação "outros" lidere a lista de profissões declaradas à Justiça Eleitoral, é possível encontrar, entre os candidatos a vereador em São Paulo, 13 que se declaram cantores ou compositores, dez músicos, seis atores ou diretores de espetáculos, seis escritores ou críticos, cinco artistas plásticos, três locutores ou comentaristas, um atleta profissional, um bailarino, um modelo e um produtor de espetáculos.
Entre os que se declararam empresários está Marcelo Frisoni, marido da apresentadora Ana Maria Braga, que tenta novamente a candidatura a vereador e se mantém fiel ao PP de Paulo Maluf. Em 2008, ele foi eleito suplente do mesmo partido, com 4.672 votos.
Quem não é tão conhecido aposta na criatividade para impressionar o eleitor. Mattos (PMDB) aparece de máscara no vídeo. Enquanto revela o rosto, diz: "Na Câmara Municipal eu não serei mascarado", promete.
Sem explicar o motivo, Wadão do Jegue Dente de Ouro (PMDB) surge no vídeo abraçado a um cachorro e uma galinha. "Educando a criança não será preciso corrigir o adulto", diz.
Também ao lado de um cachorro, Samantha Constanza (PHS) apela: "Faça diferença nessas eleições votando pelos que não votam. Seja do bem você também. Pelo direito dos animais conto com você."
Vagner do Repúdio à Faixa (PMDB) promete lutar pelos direitos dos taxistas. Já seu correligionário "Manoel Tio dos Doces garante que todos o conhecem e promete lutar pelo trabalhador. "Para São Paulo ficar legal, vote no Sonrisal", aposta o candidato do PHS que também se apresenta como Tião da Praça é Nossa. O também peemedebista Thiago Arikawa aposta na crítica ao bordão de Tiririca, campeão de votos em São Paulo para deputado federal. "Pior do que está pode ficar. O candidato do protesto tirou a fantasia e se tornou mais um."
A galeria de personagens de outras campanhas inclui o advogado Ari Frieedenbach (PPS), conhecido como pai da garota morta no caso Champinha, o "Homem da Moto (PRP) que tenta a eleição desde 2006, contemporâneo de Seu Madruga (PSC) e Havanir (PSD).
Farão companhia para Lixeiro (PSB), Vira-Lata (PRB), Serrote (PDT), Abajur (PHS), Miguel Cem Mizéria (PDT) e Homenzinho do Jaçanã (PRP).
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