VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O CAÓTICO DIA SEM ÔNIBUS


ZERO HORA 30 de janeiro de 2014 | N° 17689

ITAMAR MELO E LARISSA ROSO

PORTO ALEGRE



Reféns do jogo de empurra, passageiros enfrentaram a falta de ônibus sob um calor escaldante, escassas opções de transporte e pouca perspectiva de consenso. O alento pode vir em reunião marcada para hoje no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Se não houver acordo, a força policial pode ser acionada e os dirigentes sindicais responsabilizados. Ontem, a Justiça considerou a greve ilegal, aplicou multa de R$ 100 mil ao Sindicato dos Rodoviários e autorizou as empresas a descontarem os dias parados dos salários dos empregados.

No dia em que nenhum ônibus saiu das garagens em Porto Alegre, asfixiando uma metrópole de 1,4 milhão de habitantes, 124 pessoas formaram uma fila na Avenida Borges de Medeiros, sob um calor que chegou aos 38,2ºC, para embarcar no lotação Partenon-Pinheiro. Havia 21 lugares nos assentos e mais 10 de pé, graças a uma autorização da prefeitura.

A 124ª passageira na fila era a grávida Monique Cardoso, 22 anos. Com 35 semanas de gestação, ela acabara de ser medicada para a dor e de receber do médico uma recomendação de repouso absoluto, mas tivera de caminhar uma hora sob o sol, desde o Hospital Presidente Vargas até o Centro, para tentar voltar para casa. Às 17h15min, no último lugar da fila, sem previsão de quando conseguiria embarcar, Monique sofria com contrações.

– Estou apavorada. Eu não me liberaria, se fosse o médico – comentou.

A grávida da Lomba do Pinheiro esteve entre os cerca de 1 milhão de passageiros prejudicados ontem pela paralisação total do serviço de ônibus da Capital, decretada pelos rodoviários. A decisão da categoria, que contrariou determinação da Justiça, causou um transtorno raras vezes visto na rotina dos porto-alegrenses.

Para a maior parte da população, a saída foi disputar um lugar nas poucas alternativas disponíveis.

Os lotações carregaram 65% de pessoas a mais do que o habitual.

Os táxis, conforme o sindicato da categoria, tiveram um incremento de 35% na quantidade de corridas. Trabalharam no limite. Em alguns horários, era quase impossível obter um veículo – pela manhã, usuários não conseguiam sequer contatar os sobrecarregados serviços por telefone. Segundo Vilson Camargo dos Santos, sócio-diretor da TeleTáxi Cidade, a espera dos passageiros chegou a duas horas e meia nos momentos mais complicados. Por volta das 7h30min, ele tinha mais de cem passageiros esperando um táxi, por falta de veículos para enviar.

– Tivemos de contatar passageiros que iam para a rodoviária ou o aeroporto e dizer que não estávamos conseguindo atender, para eles tentarem algum transporte alternativo – disse Santos.

Uma novidade foram as várias chamadas solicitando táxis para pegar passageiros em dois, três ou até quatro lugares diferentes – eram colegas que partilhavam uma corrida para o trabalho.

Segundo a EPTC, a greve aumentou em 20% o número de carros particulares nas ruas.

Durante todo o dia, houve congestionamentos em locais onde eles não costumam ocorrer. A dificuldade da população para se locomover trouxe consequências em todas as dimensões da vida da cidade. O impacto foi pesado no comércio.

Segundo levantamento do Sindilojas, a queda nas vendas foi de 25%.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) calculou a perda em 50% no comércio de rua e em 30% nos shoppings. De acordo com a entidade, 10% dos comerciários não conseguiram chegar aos locais de trabalho. Houve lojas que penaram para abrir as portas.

Dos 24 funcionários aguardados em uma das unidades da Colombo na Avenida da Azenha, somente 10 conseguiram chegar – três deles no horário previsto. Com 3h30min de atraso, o expediente se iniciou às 12h30min. Perto dali, na CR Diementz, registrou-se demora ainda maior. Três dos oito empregados estavam a postos às 9h ou com poucos minutos de atraso, mas só puderam abrir as portas às 15h, com outros dois colegas remanejados de uma loja da rede em Viamão. No reduzido período de operação, as vendas atingiram apenas 20% do total de um dia normal.

– Como a gente é comissionado, não ganha nada se passar um dia sem vender – lamentava o atendente Gabriel Escobar, 24 anos.

Serviços básicos e essenciais também tiveram problemas para funcionar. As agências do Tudo Fácil, que concentram serviços do governo do Estado, não atenderam no Centro e na Zona Sul, por falta de servidores. A única que funcionou foi a da Zona Norte, e mesmo assim com restrições e maior tempo de espera – conseguiu abrir porque vários funcionários moram em municípios vizinhos e usaram os ônibus metropolitanos.

O Hospital de Pronto Socorro contou com três ônibus cedidos pela Carris.

A medida permitiu transportar funcionários e garantir os serviços essenciais na sáude. Foi montado um roteiro dos coletivos pela cidade, de forma a carregar o máximo possível de trabalhadores. Mesmo assim, segundo a prefeitura, todas as unidades de saúde da Capital funcionaram ontem com equipes desfalcadas.

O Grupo Hospitalar Conceição afirmou não ser possível contabilizar o número de ausências e atrasos, mas confirmou que houve transtornos e necessidade de adequações nos horários de plantão. Segundo o hospital, pacientes que perderam consultas poderão reagendá-las.

Com a equipe de seguranças desfalcada, bancos também enfrentaram dificuldades.

Algumas agências tiveram de atrasar até as 11h30min o horário de abertura.

Na administração municipal, houve problemas generalizados. O 156, linha unificada de atendimento à população, contou com apenas metade dos 65 atendentes. No horário de pico, quando trabalham 30 pessoas, só havia nove. A loja da Secretaria Municipal da Fazenda não funcionou. O posto do Procon na Rua da Praia encerrou o atendimento mais cedo. Na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, metade dos funcionários que trabalham na execução dos serviços de rua não conseguiu chegar. Foram atendidas apenas situações urgentes.

A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) usou sua frota para buscar os trabalhadores em casa, mas a ação foi insuficiente para garantir todos os serviços. O Centro Dia do Idoso Sul, por exemplo, não efetuou o serviço de busca domiciliar para atendimento. A Linha Turismo não circulou porque os veículos não puderam sair da garagem da Carris.

Nos locais de trabalho, o expediente funcionou à meia boca. Só quatro dos sete funcionários do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS), que pagou os deslocamentos de táxi, conseguiram chegar à sede da entidade. A direção antecipou o horário de saída das 18h para as 16h. No Fórum Central, o atendimento teve de ser reorganizado por causa da escassez de gente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminhou ofícios aos principais tribunais, pedindo a suspensão de prazos processuais, em razão das dificuldades de deslocamento.

Com a falta de alternativas de transporte, oportunistas enxergaram uma oportunidade para faturar. Enquanto Monique aguardava a vez de embarcar em um lotação, um ônibus branco parou na Avenida Senador Salgado Filho, por onde a fila serpenteava. Da porta, um homem gritou:

– Lomba do Pinheiro, R$ 3!

A mãe da gestante, que não pôde comparecer ao trabalho por falta de condução, considerou embarcar no veículo irregular.

– Mas você vai ter que ir de pé – constatou a zeladora Dalva Cardoso, 57 anos.

– De pé eu não vou – recusou Monique.

E continuou à espera.


O IMPASSE NA CAPITAL

MEDIDAS JUDICIAIS

 - Até agora, nenhuma medida para encerrar ou reduzir o impacto da greve surtiu efeito. 

- Ao manter os ônibus nas garagens ontem, os rodoviários descumpriram decisão da desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) Ana Luiza Kruze. Na terça-feira, ela determinou que 70% da frota deveria ser colocada a serviço da população a partir de ontem, nos horários de maior movimento, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.

- A decisão da desembargadora é em caráter liminar. Isso significa que ela tem de ser confirmada pela seção de dissídios coletivos do TRT. Se isso acontecer, o sindicato dos rodoviários ainda poderá recorrer ao Tribunal Superior do Trabalho. Havendo confirmação do TST, o sindicato terá de pagar a multa. Se não o fizer, o TRT pode iniciar o processo de execução, que inclui alternativas como penhora de imóveis e contas bancárias ou retenção de contribuições sindicais.

- Na noite de ontem, em nova ação ajuizada pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa), a desembargadora reconheceu a ilegalidade da greve. Com a decisão, as empresas poderão descontar os dias parados dos salários dos empregados e contratar emergencialmente outros trabalhadores para substitui-los. Também foi aplicada uma multa de R$ 100 mil ao Sindicato dos Rodoviários da Capital. Em nota, à noite, a Carris convocou os funcionários a comparecerem ao trabalho, hoje, devido à decisão do TRT.

CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL - A Carris e os consórcios que operam os ônibus na Capital alegam não haver possibilidade de contratação de funcionários enquanto persistir a greve. Segundo o gerente executivo da Seopa e da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), Luiz Mário Magalhães Sá, não há mão de obra disponível a curto prazo, pois os funcionários precisam passar por um período de treinamento antes de assumir a direção dos veículos.

CATRACA LIBERADA - A circulação de ônibus sem que o usuário precisasse pagar a passagem chegou a ser sugerida por rodoviários, mas a proposta foi rejeitada por medo das consequências da medida. Segundo a Força Sindical, a categoria ficou com receio de que os trabalhadores sofressem eventual demissão por justa causa.

LINHAS METROPOLITANAS - Os ônibus foram autorizados a embarcar e desembarcar passageiros dentro da Capital na segunda-feira, mas a medida foi suspensa pouco depois por ameaça de paralisação geral, que poderia receber a adesão dos rodoviários dos municípios vizinhos. Segundo o diretor de transportes metropolitanos da Metroplan, Marcus Damiani, a decisão de suspender o apoio foi técnica, pelos impactos que causaria na região, já que os ônibus estão circulando em escala de verão. Com muitos funcionários em férias, usuários não poderiam usar o TRI, e os veículos não chegariam ao fim das linhas.

ESCOLTA POLICIAL - O único apoio solicitado até ontem à Brigada Militar foi o aumento do policiamento nas garagens, especialmente durante a madrugada, além do patrulhamento nos eixos de deslocamento dos ônibus. Como o TRT considerou a greve ilegal, a ATP já pode pedir escolta para acompanhar os ônibus nas ruas.

LOTAÇÕES - Para tentar minimizar os impactos, a EPTC autorizou os 403 lotações a circularem nos corredores de ônibus e a transportarem passageiros em pé – a medida alivia pouco a demanda, já que representa apenas 10 passageiros a mais por veículo.

Nenhum comentário: