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sábado, 25 de janeiro de 2014

O SETOR DE TRANSPORTE ESTÁ CERCADO DE EQUIVOCOS

REVISTA ISTO É - ENTREVISTA - N° Edição: 2305 | 24.Jan.14 - 20:50


Clésio Andrade - "O setor de transportes está cercado de equívocos"

Presidente da Confederação Nacional do Transporte, o senador mineiro diz que falta de investimento e má gestão são obstáculos para o desenvolvimento do País e que a solução para a mobilidade urbana é dar prioridade ao metrô

por Alan Rodrigues



FALTA DINHEIRO
Para o presidente da CNT, o País deveria investir
R$ 1 trilhão em infraestrutura de transportes

Dez em cada dez empresários brasileiros são categóricos ao afirmar que um dos principais entraves para o crescimento econômico do País é a falta de investimentos em infraestrutura na área de transportes. O presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade, faz coro. “Não há caminho alternativo ou atalho. Para que o PIB cresça a taxas significativas, há necessidade de investimentos em infraestrutura de transportes ”, diz o senador eleito pelo PMDB de Minas Gerais. Segundo ele, os empresários reclamam que os investimentos anunciados pelo governo federal são parcos diante da demanda. “É preciso investir quase R$ 1 trilhão no setor. Nos últimos dez anos, autorizou-se gastar R$ 155 bilhões e o governo só conseguiu realizar R$ 93 bilhões.” Na entrevista concedida à ISTOÉ, o senador reclama ainda do problema da mobilidade urbana no País e da burocracia que existe no sistema portuário brasileiro. “Tem que simplificar a entrada e saída de cargas internacionais. Atualmente, precisa-se preencher cerca de 50 documentos. É como se fossem países diferentes. Isso é um terror.”


"A situação dos portos está caminhando para
a solução depois das privatizações. Entre
cinco e dez anos resolveremos a questão”


“Privilegiando corredores, os passageiros de
ônibus vão levar vantagens, mas para quem anda
de carro os congestionamentos vão se agravar"

Fotos: Washington alves/ Agência estado; paulo pinto/ ae; lucas lacaz ruiz/ folhapress


ISTOÉ - Qual é o maior problema do setor de transporte no Brasil?

CLÉSIO ANDRADE - São três os maiores problemas que afetam o setor no País: baixo investimento, burocracia e falta de uma visão sistêmica da área. O maior, sem dúvida, é o baixo aporte de recursos para o investimento. Os valores teoricamente destinados ao setor são pura ficção, porque não são suficientes para realizar o mínimo necessário. Existe uma discrepância de valores entre os recursos necessários e os que são gastos. É preciso investir quase R$ 1 trilhão no setor. Nos últimos dez anos, autorizou-se gastar R$ 155 bilhões e o governo só conseguiu realizar R$ 93 bilhões. Isso é nada diante da demanda. 

ISTOÉ - Então, o problema não é tão somente a falta de dinheiro e também saber gastar?

CLÉSIO ANDRADE - A falta de dinheiro é um problema grave, mas também vivemos uma deficiência gerencial absurda. Faltam bons projetos, há dificuldades ambientais que retardam a execução das obras e, acima de tudo, existem problemas ideológicos para aceitar a iniciativa privada como parceira. Perde-se muito tempo com esses debates. A infraestrutura precária de nosso país afeta toda a sociedade. 

ISTOÉ - A presidenta Dilma Rousseff elegeu-se como a gerente eficiente do governo Lula. Como o sr. analisa a atuação dela hoje?

CLÉSIO ANDRADE - A presidenta Dilma era uma eficiente gerente de projetos do governo Lula. Ela é muito boa em projetos específicos. Pega um e resolve. Mas o Brasil não é só isso. São milhares de projetos que uma pessoa só não dá conta de resolver. A presidenta Dilma tem que aprender a delegar mais e rever sua forma de gerenciar. Ela tem que aprender a descentralizar a tomada de decisões e aproveitar mais a parceria da iniciativa privada, principalmente na área dos transportes. 

ISTOÉ - Qual é o balanço que o sr. faz da área de transportes do governo federal até o momento?

CLÉSIO ANDRADE - O Brasil perdeu nos últimos 20 anos a visão sistêmica dos transportes. Criou-se uma série de órgãos que não falam um com o outro. Com isso, perdem-se a integração dos modais mais eficientes e bons projetos. Ninguém conversa com ninguém. 
 
ISTOÉ - O toma lá dá cá de cargos e o fatiamento político do governo atrapalham a administração?

CLÉSIO ANDRADE - Não é isso. Os poderes são harmônicos e interagem. O mundo inteiro é assim. O Brasil é um governo de coalizão em função da quantidade de partidos existentes. A questão é do comando central, é a forma de comandar. A presidenta precisa descentralizar mais o governo e acabar de vez com a resistência em não querer administrar o País ao lado dos empresários. Existe uma colaboração de ambas as partes. 
 
ISTOÉ - Os esforços feitos pelo governo federal nos últimos anos, como a criação do PAC, ainda não foram suficientes para garantir a melhora da infraestrutura. Quais são os principais gargalos?

CLÉSIO ANDRADE - Existem gargalos em todos os modais dos transportes. As pesquisas mostram que nossa malha rodoviária chega a ser 70% deficiente. A situação do sistema rodoviário é muito crítica, já que o Brasil ainda é muito rodoviarista. Mais de 60% do transporte do País é feito por rodovias e mais de 80% das pessoas são transportadas também por elas. O ideal é que 40% sejam transportes em rodovias, 40% em ferrovias, 10% em hidrovias e o restante, transporte aéreo.

ISTOÉ - Quais são as medidas que podem ser adotadas para reverter esse quadro?

CLÉSIO ANDRADE - O setor de transportes está cercado de indecisões, equívocos, lentidão, excesso de burocracia e falta de gestão adequada. Esses são alguns dos elementos indesejáveis ao progresso de uma nação. Precisamos duplicar pelo menos mais 12 mil quilômetros de rodovias federais, que são os eixos. Mas o governo federal está conseguindo muito pouco. O projeto de privatização das estradas não foi bem. Vão conseguir executar pouco mais de três mil quilômetros. 

ISTOÉ - As parcerias público-privadas na construção de rodovias não deram certo?

CLÉSIO ANDRADE - As privatizações que este governo fez em estradas estão longe de resolver as questões rodoviárias. São dificuldades gerenciais graves. O governo precisa caminhar mais fortemente junto com a iniciativa privada. 

ISTOÉ - Qual é a situação dos transportes marítimos e dos portos no Brasil?

CLÉSIO ANDRADE - A situação dos portos está caminhando para a solução depois das privatizações. Com a nova legislação, o governo está autorizando o funcionamento de novos portos privados e eles poderão competir no mercado, o que não podia nas últimas décadas. Porto você praticamente resolve tudo com a iniciativa privada. Achamos que entre cinco e dez anos resolveremos a questão portuária no Brasil, em termos de investimento. Mas no transporte de passageiros e de cargas não usamos quase nada do nosso potencial. Hoje, 1% do transporte de passageiros e 3% do de cargas são feitos pelos rios, quando na verdade deveríamos operar na faixa de 10%. 

ISTOÉ - Por que se reclama tanto da questão dos portos?

CLÉSIO ANDRADE - O governo agora acertou na solução, que é o envolvimento da iniciativa privada no setor. Mas ainda faltam investimentos em tecnologia avançada e logística. Nosso sistema portuário é muito atrasado. Os guindastes utilizados são muito velhos e os equipamentos são muito sucateados. Temos um desafio muito grande também, que é acabar com a burocracia excessiva e a quantidade de taxas que tem de se pagar e órgãos envolvidos. Ou seja, tem que simplificar a entrada e saída de cargas internacionais. Atualmente, precisa-se preencher cerca de 50 documentos. É como se fossem países diferentes. Isso é um terror. 

ISTOÉ - E a questão da logística?

CLÉSIO ANDRADE - É um problema anterior à chegada dos produtos aos portos que ainda não foi resolvido. Todos os anos a gente vê quilômetros de fila de caminhões para descarregar os grãos nos portos, isso é uma questão de infraestrutura. Temos que ter silos para armazenagem dos grãos ao longo das rodovias. Se tivermos depósitos de armazenamento, o empresário pode soltar os produtos aos poucos. A solução sempre cai na falta de uma visão sistêmica. Não precisam existir três agências de regulação para tratar do setor de transporte e mais 12 órgãos. 
 
ISTOÉ - Na tributação do setor de transportes, o governo atendeu às demandas dos empresários?

CLÉSIO ANDRADE - Tivemos um grande avanço com a desoneração da folha de pagamentos, que reduziu substancialmente os custos dos encargos sociais. Agora só falta unificar os impostos na área de cargas, já que se pagam diversos impostos em diferentes Estados. 

ISTOÉ - A Copa está chegando. De que maneira o sr. analisa a questão da mobilidade urbana no Brasil? O que pode ficar como legado da competição no País?

CLÉSIO ANDRADE - O País esqueceu-se da mobilidade urbana nas últimas duas décadas. Acordou há dois anos e está investindo mais de R$ 100 bilhões. O problema central é que o ônibus tradicional não é transporte de massa e ele sempre cumpriu esse papel. Precisa-se investir em BRts, metrô, ou seja, transportes rápidos sobre trilhos. Estamos muito aquém da necessidade do País. 

ISTOÉ - Uma das maiores críticas que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, vem recebendo é de que ele criou faixas exclusivas de ônibus e os engarrafamentos pioraram. É possível harmonizar a convivência de todos os meios de transporte, como carros, transportes públicos e de cargas no Brasil?

CLÉSIO ANDRADE - A curtíssimo prazo o cenário é complicado. Do jeito que está sendo feito no Brasil, privilegiando corredores, os passageiros de ônibus vão levar vantagens, mas para quem anda de carro os congestionamentos vão se agravar. Quando se fala em mobilidade urbana, tem que se considerar o automóvel, o estacionamento desses veículos e o metrô que o passageiro vai buscar. Não existe mágica, tem que se priorizar o transporte sobre trilhos. 

ISTOÉ - Mas, em geral, obras no metrô demoram muito. A curto prazo, qual é a solução?

CLÉSIO ANDRADE - Investir em veículos leves sobre trilhos (VLTs). A situação mais grave é que o País aumentou muito a produção de veículos automotores. O lado bom é que as pessoas mudaram o padrão de vida, mas as cidades pararam. O governo federal acordou há dois anos para os problemas da mobilidade urbana. Ele acreditava que esse era um problema dos municípios, que não têm capacidade para investir nessa área. 

ISTOÉ - O sr. é candidato ao governo de Minas?

CLÉSIO ANDRADE - A proposta do PMDB é ter candidatura própria. Eu coloquei meu nome para disputa. Um eventual acordo com o PT no primeiro turno é complicado, já que 70% do partido quer ter candidato.

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