Romeu Tuma Junior conta detalhes sobre Celso Daniel e os bastidores do Poder. O autor de “Assassinato de Reputações” concedeu entrevista exclusiva ao Vox.
Redação - VOXBR.COM| segunda-feira, 27 janeiro 2014 - 10:00
Romeu Tuma Junior, 53 anos, é o homem da vez no mercado editorial e no centro do Poder.
Autor de “Assassinato de Reputações”, livro-bomba sobre as acusações – nunca comprovadas – de seu envolvimento com Paulo Li, supostamente envolvido com a máfia chinesa – outra acusação que jamais se revelou verdadeira -, Tuma Junior alterou a ordem de prioridades do Palácio do Planalto ao revelar diversas práticas do Governo Federal e das personagens mais influentes do Partido dos Trabalhadores.
Nesta entrevista exclusiva, concedida ao Vox na última semana, ele detalha as barreiras impostas à sua obra. Das cópias piratas às ameaças sofridas por sua família.
Explica, também, as técnicas do “Estado Policial” criado a partir do aparelhamento da Polícia Federal e a participação de jornalistas no esquema. Seu conhecimento demonstra uma grave inversão de práticas e valores, engendrada para prejudicar os opositores dos governantes.
Primeira autoridade a acompanhar o caso Celso Daniel, o filho do ex-senador Romeu Tuma compartilhou um novo detalhe sobre o crime, ainda sem solução, e informou novamente o Ministério Público sobre a testemunha que avistou carros da Prefeitura de Santo André horas antes do descarte do corpo do ex-prefeito de Santo André, peça importante na campanha de Lula em 2002.
Confira, a partir de agora, a íntegra desta conversa, que prenuncia a existência de novos documentos e um tomo – isto é, um volume extra – de “Assassinato de Reputações”.
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Portal Vox – “Assassinato de Reputações” está entre os mais vendidos da Publish News desde a primeira tiragem. Em diversas semanas, ficou atrás apenas de publicações de líderes religiosos, como Padre Marcelo Rossi e Bispo Edir Macedo. Surpreendeu toda essa receptividade?
Romeu Tuma Junior – Sem dúvida. Isso mostra o quanto a sociedade está ávida por conhecer os bastidores do Poder. É um péssimo sinal de que nossos mecanismos de transparência pública, na prática, não funcionam.
Já são registradas ocorrências de cópias piratas de seu livro. Você teve acesso a alguma delas? Que mudanças são produzidas nessas edições?
Segundo a Editora me informou, alteraram o conteúdo, subtraindo documentos e textos.
Cessaram os boicotes das livrarias?
Não tenho essa informação. Mas, pelo que percebo, em algumas não.
Você sofreu alguma ameaça após o lançamento de “Assassinato de Reputações”?
Não vou detalhar por questão de segurança, mas minha família sim.
Após a publicação de “Assassinato de Reputações”, Mino Carta criticou duramente Romeu Tuma Junior na “Carta Capital”. Uma carta foi enviada à revista, mas não foi publicada, segundo o entrevistado. (Reprodução/Paulo Guimarães)
Muitos leitores interpretaram como ironia os agradecimentos a Mino Carta e Paulo Henrique Amorim por entenderem que eles são profissionais simpatizantes do governo petista. Foi mesmo uma provocação sua?
Não houve isso. Eu agradeci por educação e porque eles efetivamente participaram da ideia, do roteiro e de várias entrevistas que geraram os textos de alguns capítulos, inclusive escritos, inicialmente, por eles. Como eu comecei a obra com eles e terminei com o Tognolli, achei honesto e justo dar o crédito em forma de agradecimento. Fui tão correto que delimitei no agradecimento onde eles participaram.
À época da divulgação de seu livro, Carta escreveu um artigo raivoso contra você. Paulo Henrique Amorim sinalizou processá-lo. Algum dos dois tentou contato?
O Mino esteve com meu irmão para explicar ou justificar aquele artigo. Acho que ele sofreu forte pressão para reagir. Eu lamento que mandei uma carta em resposta e a revista não teve a dignidade de sequer mencioná-la. Eles pregam “a lei de meios” e agem como os que criticam! Quanto ao blogueiro que ameaçou processar-me, sem comentários!
Romeu Tuma Junior revelou que Lula era informante do DOPS. Seu codinome era “Barba”. As dicas do ex-presidente ajudavam o governo, na época, a evitar a depredação de bens públicos e privados em protestos. (Reprodução/Arquivo Pessoal)
A revelação do “Barba”, codinome de Lula durante a ditadura militar, causou incredulidade entre políticos e intelectuais. Muitas pessoas defenderam publicamente o ex-presidente, mas ele mesmo evitou declarações sobre o assunto. O silêncio era a resposta que você esperava?
Francamente, escrevi o livro porque procurei diversos meios para me defender do crime que fui vítima e ninguém me deu chance de falar. Nem a Justiça, que me dizia que eu “não era investigado”. Ora, eu acusado pela imprensa e não era investigado! Como não consegui falar, resolvi escrever. Então, para poder explicar porque fizeram aquilo comigo, precisei mostrar como era minha relação com o ex-presidente, e como cheguei e fui tirado do governo. Só tem a Reputação Assassinada quem a tem, então precisei mostrar a minha história com o “Barba” e com o Presidente Lula. Respondendo objetivamente, não me preocupei com a reação, porque apenas relatei fatos verdadeiros que a História precisava ter registrado. Ele sabe disso, por isso talvez não tenha o que falar.
Protógenes Queiroz pediu, via Twitter, ajuda da Procuradoria-Geral da República porque havia uma investigação clandestina contra ele. Seu livro tem dezenas de páginas dedicadas ao aparelhamento da Polícia Federal. O pedido causa estranheza a você?
Se ele está dizendo, deve saber o que ocorre. Na condição de Deputado, deveria oficiar a Procuradoria-Geral da República e requerer informações da Polícia Federal e do próprio Ministério da Justiça. Não pode prevaricar. Na minha opinião, o Twitter não é o melhor caminho para alguém com as prerrogativas, deveres e obrigações dele.
Os grampos dos ministros do STF ocorreram durante o julgamento do Mensalão? Quem operava esses grampos?
Agentes públicos e agentes terceirizados que prestavam serviços para autoridades do poder executivo.
Protógenes Queiroz afirmou, no Twitter, ser vítima de uma investigação clandestina da Polícia Federal. No livro, Romeu Tuma Junior detalha o “Estado Policial” que afirma existir no Brasil e as operações de espionagem que acometeram ministros dos STF. Ao Vox, ele revelou quem realizava as gravações durante o julgamento do “Mensalão”. (Reprodução/O Globo)
Ainda pelo Twitter, Protógenes afirmou nunca pensar que você “iria se revelar”. O que ele quis dizer com isso?
Não tenho a menor ideia. Eu sempre me revelei transparente e sincero. Sempre estive ao lado da verdade e da Justiça. Encontrei com ele no Congresso Nacional, no segundo semestre do ano passado, quando já havia saído notícias do livro e ele me elogiou muito perante alguns Deputados e outras pessoas. Talvez tenha sido um elogio por eu ter escrito o livro e dito a verdade!
Assim é descrita a relação entre imprensa e Polícia Federal em “Assassinato de Reputações”: antes, o jornalista esperava o trabalho da Polícia Federal para esquentar a reportagem. Agora, a Polícia Federal espera o trabalho do jornalista para esquentar a investigação, cujo alvo é, invariavelmente, um opositor. Onde estão esses jornalistas?
Em várias redações, blogs sujos, enfim, em vários lugares. Alguns são usados, outros estão a serviço da prática! É a “condenação” mais fácil de impor a um adversário. No STG – Supremo Tribunal do Google -, não precisa de provas e a prisão é perpétua sem chance de recurso. Pena moral é pena de morte!
O PT transferiu para as administrações municipais e estaduais essa dobradinha entre jornalismo e investigações contra os inimigos?
Isso é uma prática do Estado Policial. Uma vez instalado, ele se dissemina. Especialmente, quando você instrumentaliza administrações estaduais e municipais com pessoas que “fizeram escola” na administração federal.
Com a saída de Lula e a entrada de Dilma, a Polícia Federal deixou de ser uma polícia que “grampeia as pessoas, seleciona trechos de conversas, pinça frases, descontextualiza diálogos, cria enredos e manda gente para a prisão por achismo e dedução”?
Não. Estruturalmente, a DIP (Divisão de Inteligência Policial – BSB) e os SIPs (Setor de Inteligência Policial – nas SRs) continuam fazendo inquérito, o que é instrumento de Estado Policial. E o “Método Científico Cronológico Dedutivo”, além dos anômalos Procedimentos Criminais Diversos, continuam existindo.
O Registro de Identidade Civil, em sua proposta de reunir os dados dos cidadãos em uma central única, era o Big Brother petista? Nenhuma secretaria de segurança ou governo estadual estranhou a ideia?
Somente alguns chefes das Polícias Civis tiveram a coragem de reagir, mas foram “fritados”.
Gilberto Carvalho é o protagonista de seu capítulo sobre a morte do ex-prefeito Celso Daniel. Ele tentou processá-lo?
Desconheço.
Romeu Tuma Junior realizou uma extensa investigação sobre o caso Celso Daniel. No livro, ele cita que o celular de um então deputado estadual foi interceptado na área em que o cadáver de Celso Daniel foi abandonado. Ao Vox, ele revelou que o referido personagem ainda está no meio político. (Epitácio Pessoa/AE)
Você tem o depoimento de uma testemunha que garante ter avistado carros da prefeitura de Santo André no local em que o corpo de Celso Daniel foi descartado. Tem interesse em retomar essa investigação, se fosse possível?
Tomei providência novamente. Comuniquei o Ministério Público.
Um organograma no livro revela 18 fatos sobre o caso Celso Daniel. Um deles descreve a presença do celular de um então deputado estadual petista nas imediações do local do crime. Esse deputado desempenha papel importante no PT ou em um de seus governos atualmente?
Parece-me que é prefeito na Grande São Paulo.
Você descreve o Rosegate como “um escândalo inédito na história do país, envolvendo sexo, traição, dinheiro, desvios de comportamento, desmandos e abusos dignos de uma produção hollywoodiana”. Que produção poderia ser?
Acho que seria inédita.
Romeu Tuma Junior relata, em “Assassinato de Reputações”, que Luiz Fernando Corrêa era intocável porque ele possuía “umas fotos do presidente”. Informação foi transmitida pelo ministro Luiz Paulo Barreto. (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
O ministro Luiz Paulo Barreto lhe reportou que nada acontecia ao ex-diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, porque ele “tem umas fotos do presidente”. Essas fotos têm algo a ver com Rosemary Noronha?
Existem muitos fatos e documentos não apresentados e/ou revelados no livro por diversas questões. Inclusive humanitárias, familiares e religiosas. Mas todos ainda estão sob análise.
No dia 19 de janeiro, um seguidor do seu Twitter comentou contigo a proximidade da Friboi na campanha de Dilma Rousseff. Você disse que, se estourasse o assunto, todos conheceriam a maior lavanderia da América Latina. Esse assunto incomodava o Planalto?
É muito difícil hoje saber o que mais incomoda o Planalto. Eu arriscaria dizer que o que mais preocupa o pessoal do Planalto é reeleger a Dilma, custe o que custar!
Uma segunda edição de “Assassinato de Reputações” está entre seus planos?
Avalio a possibilidade de um Tomo 2.
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