Muito barulho por nada
Sessões da CPI do Cachoeira são marcadas por bate-bocas acalorados, mas um acordo entre os partidos não deixa que as investigações sobre as relações do bicheiro com políticos e empresários avancem de verdade
Izabelle TorresNO RINGUE
Os senadores Fernando Collor e Pedro Taques
protagonizaram o primeiro bate-boca da CPI
Desde o início dos trabalhos, no fim de abril, as discussões entre parlamentares são uma constante e os bate-bocas se transformaram num espetáculo à parte. Os integrantes da CPI divergem sobre tudo e começam a transformar o ambiente de trabalho em um ringue repleto de acusações e xingamentos. A reunião secreta que ouviu o delegado Matheus Mella, responsável pela Operação Las Vegas, foi um exemplo da beligerância. Durante o depoimento, pelo menos três discussões acirradas aconteceram a portas fechadas. A mais áspera envolveu o deputado Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) e o senador Humberto Costa (PT-PE). Ao descobrir que os advogados de defesa dos acusados assistiam ao depoimento, o deputado do DEM reclamou: “Precisamos ter mais ordem aqui. Isso, daqui a pouco, vai virar um circo”, disse. Na penúltima fileira, o senador petista respondeu que o deputado já era um palhaço de circo. Ônyx levantou-se e gritou com o dedo em riste: “O senhor é um sanguessuga!”, numa referência ao escândalo nas compras de hemoderivados, quando Costa era ministro da Saúde. De acordo com relatos dos políticos que participavam da sessão secreta, o delegado ficou constrangido com o bate-boca e o clima cordial demorou a ser restabelecido.
As divergências entre os integrantes da CPI também têm por trás brigas paroquiais dos Estados. Inimigos em Campina Grande (PB), os senadores Vital do Rego (PMDB-PB) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) estão se controlando para a temperatura não subir. Esforço que tem dado certo na frente dos holofotes, mas que não resiste aos ânimos exaltados nas reuniões sigilosas. Foi assim durante o depoimento do delegado Raul Alexandre Sousa na terça-feira 8. Cunha Lima também provocou o relator Odair Cunha (PT-SP), ao ressaltar que as decisões do colegiado eram um retrato do jogo político que o PT pretende fazer. Transtornado com a iminente convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o senador da Paraíba não poupou críticas ao relator, a quem acusa de manipular o andamento das investigações. A convocação de Perillo também foi motivo de um bate-boca público entre o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e o deputado Silvio Costa (PTB-PE).
Com tantos parlamentares e partidos constrangidos com as investigações do esquema comandado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, é natural que os ânimos estejam exaltados. O problema é se esses bate-bocas se transformarem numa grande cortina de fumaça destinada a mascarar a ausência de investigação. Um sms enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza (SP) ao governador do Rio, Sérgio Cabral, ilustra bem o clima de acordão reinante na Comissão. “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe. Você é nosso e nós somos teu”. Com tanta discussão, pouco consenso e falta de empenho para apurar o alcance das relações de Cachoeira com políticos e empresários, a CPI corre o risco de perder o foco.
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