EDITORIAL ZERO HORA 06/05/2012
Com apenas um voto, o dela mesma, uma professora aposentada tomou posse nesta semana na Câmara Municipal de Coivares, cidade piauiense próxima a Teresina. Ela assume a cadeira na condição de suplente de outra vereadora de seu partido, o PMDB, cassada sob a acusação de infidelidade partidária. O singelo episódio, ocorrido num dos Estados mais pobres da federação, reflete bem as origens do desencanto dos brasileiros com seus representantes políticos, que se evidencia pela última pesquisa do Ibope sobre o índice de confiança nas instituições. Os partidos políticos e o Congresso Nacional aparecem nas últimas colocações.
A verdade é que os cidadãos se sentem cada vez menos representados não apenas pelas siglas, mas também por seus governantes e dirigentes políticos, devido a deformações institucionalizadas pela disputa de poder, pelo patrimonialismo, pela mistura do público com o privado e pela apatia geral em relação a um sistema político viciado por interesses diversos. Num extremo, está a vereadora piauiense, eleita por ela mesma, amparada na legislação, mas sem a legitimidade da representação democrática que deveria imperar no preenchimento de cargos públicos. No outro, estão alguns ocupantes do primeiro escalão da República, também amparados pelas leis e pela Constituição, mas coniventes com as irregularidades.
O brasileiro comprometido com a cidadania e com o país se pergunta diariamente: Por que o governo precisa fazer tantas alianças espúrias para manter a governabilidade? Por que mantém tantos ministérios de pouca utilidade? Por que precisa de tantos cargos públicos? Que direito tem de transformar ministérios e estatais em cabides de emprego? Por que tanta promiscuidade nas relações com concessionários e prestadores de serviço? Por que o Congresso não fiscaliza ou não colabora com o Executivo sem pedir nada em troca? Por que os parlamentares precisam de estruturas gigantescas e caras para cumprir suas atribuições? Por que colocam o corporativismo acima de suas responsabilidades com os representados? Por que o foro privilegiado? Por que o voto secreto? Por que as bancadas de interesse se sobrepõem aos partidos? Por que os partidos não selecionam seus candidatos por critérios éticos?
O questionamento pode se prolongar indefinidamente. Mas deve ser feito. Só com indagações desse tipo e com a cobrança permanente é que os cidadãos poderão resgatar o verdadeiro sentido da atividade política num regime democrático. O debate sobre a democracia como melhor forma de governo está fora de questão. O Brasil já passou por períodos de autoritarismo e não pode ter saudade deles. Sabemos todos que é melhor conviver com deformações como as referidas acima do que sequer termos conhecimento de que elas existem. A ditadura contém as mesmas mazelas, e outras piores, com a diferença de que os cidadãos são mantidos na ignorância. E, quando tomam conhecimento delas, não têm liberdade para corrigi-las.
A vantagem da democracia é exatamente esta possibilidade de abrigar os remédios para seus próprios males. Tem muita coisa errada no país, mas, enquanto o povo brasileiro tiver liberdade de expressão, o direito de exercer a cidadania e a prerrogativa de escolher livremente seus representantes, ainda podemos ter esperança de que este país alcançará uma governança ética, responsável e comprometida com reformas legislativas voltadas para o desenvolvimento e a justiça social. A ditadura contém as mesmas mazelas da democracia, e outras piores, com a diferença de que os cidadãos são mantidos na ignorância. E, quando tomam conhecimento delas, não têm liberdade para corrigi-las.
O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site e no Facebook de Zero Hora, na sexta-feira. Os comentários selecionados para a edição impressa mantêm a proporcionalidade de aprovações e discordâncias. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda que as mazelas políticas podem ser corrigidas se o povo questioná-las?
O leitor concorda
Com certeza, um fator primordial que poderia fazer com que as mazelas políticas fossem corrigidas, ou ao menos coagidas, seria o questionamento do povo. Infelizmente, a população não se interessa quando o assunto é política, tudo menos política. Nenhum país é perfeito, tratando-se de política. Sempre haverá ovelhas negras, mas, com toda a certeza, se o povo se preocupa, tenta ao menos saber de fato em quem está votando, saber se seu político escolhido realmente está cumprindo com o prometido e até mesmo acompanhando e questionando as contas públicas. Talvez, se uma pequena parcela disso acontecesse, nosso cenário político seria muito diferente. O problema é que o povo sempre arruma desculpas para não fazer algo que é extremamente simples e está ao alcance de muitos: justamente questionar nosso cenário político. E, dessa forma, fazemos a felicidade e o caixa 2 de muitos políticos, infelizmente. Thatiana Trindade da Silva Nova Santa Rita (RS)
O questionamento deve ser constante. Por exemplo, o conceito de poder: poder de servir ou servir-se de um Estado de pessoas viciadas em receber migalhas? Ou questionar que tenhamos pago R$ 500 bi (2012) de impostos e pagamos altíssimos pedágios. Por que os salários de deputados e senadores aumentam e só comunicam no outro dia, enquanto o piso de professores e policiais leva meses ou anos sendo discutido? Por que os candidatos acham que ainda acreditamos na frase “valorizamos a educação”, se o salário do professor é uma esmola? Rafael Wilske Cascavel (PR)
Com toda a certeza o questionamento é o princípio de tudo. O povo que não questiona não cria a dúvida e a evolução do pensamento passa obrigatoriamente por este quesito. Somente as dúvidas nos levarão a um pensamento crítico quando se trata de política e suas derivações. Daniel dos Santos Passo Fundo (RS)
Claro que sim! Mas o detalhe é o povo brasileiro aprender a se manifestar. Temos bons pensadores, mas a opressão política e também financeira mantém a população dentro de um cabresto eleitoral. Quem perde? Todos. Diego Bertoletti da Rocha
O leitor discorda
Em um ponto, o editorial deve concordar comigo: enquanto na democracia é esta bagunça, na ditadura existe regra. A maioria não gosta porque tem que andar na linha. Agora, quem não é bagunceiro nem nota que existe a ditadura. E, quanto à classe política, isso nunca vai ter um fim, sempre vai ser assim, este bando de ladrões a nos surrupiar os impostos e ninguém toma uma decisão para acabar com isso. Sou ordeiro, prefiro a ditadura. Milton Ubiratan Rodrigues Jardim – Torres (RS)
Não concordo! O brasileiro não tem base para tanto, os políticos atingiram seu objetivo ao longo de décadas e mais décadas praticando todas as mazelas possíveis, a população se tornou incapaz e conformada. Clederson Oliveira
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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