BEATRIZ FAGUNDES, O SUL, Porto Alegre, Quarta-feira, 16 de Maio de 2012.
É sabido que milhares de prefeituras são incapazes de sequer produzir projetos a fim de receber verbas disponíveis em todos os ministérios em Brasília.
Sempre considerei a tal "Marcha dos Prefeitos" um perfeito exercício de inutilidade política. É sabido que milhares de prefeituras são incapazes de sequer produzir projetos a fim de receber verbas disponíveis em todos os ministérios em Brasília. A desculpa no discurso dos incompetentes é a de "culpa" da União, a qual, segundo os chorões de sempre, não manda de forma maldosa verbas para as cidades, inviabilizando as administrações. Bobagens irresponsáveis repetidas. Ontem, em mais uma dessas atividades inúteis, a presidenta Dilma compareceu prestigiando os prefeitos. Pediram que ela comentasse uma das reivindicações dos municípios. Ela, educadamente, atendeu, sendo mais uma vez sincera: "Petróleo, vocês não vão gostar do que eu vou dizer. Não acreditem que vocês conseguirão resolver a distribuição de hoje para trás. Lutem pela distribuição de hoje para frente". Nesse momento, a presidenta foi vaiada e encerrou o discurso. Bem que ela fez.
Discutir o quê com pessoas grosseiras e ignorantes? Desde o principio comentei aqui que já que o Petróleo É Nosso, seria justo que a distribuição contemplasse todos os municípios. Mas, a realidade não permite uma defesa rigorosa quanto a mais verbas federais ou estaduais que fiquem à disposição de administradores discutíveis. Segundo as informações oficiais, estavam em Brasília 3,5 mil prefeitos. Na atividade com a presidenta, estavam presentes 2,5 mil alcaides. Provavelmente 1 mil que não estavam no encontro com a presidenta deviam estar na gandaia na Capital federal. Afinal, a marcha não era para falar com o poder e o poder não está concentrado em Dilma Rousseff?
Pois bem, depois da vaia, Paulo Ziulkoski, presidente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), fez um discurso duro diante da plateia, afirmando que o País precisa fazer um "enfrentamento federativo". E completou: "Nossa federação está incompleta, ainda tem que ser construída. Precisamos ter um novo pacto", afirmou. Ziulkoski disse que cabe aos prefeitos sanar a "dívida social" que o País tem com sua população. "Essa dívida social cabe a nós basicamente. São 75% das metas do milênio. Para serem cumpridas, dependem das prefeituras". Apesar disso, declarou que "os municípios estão estrangulados". Dá para afirmar, sem medo de errar, que as prefeituras estão estranguladas sim, mas não pela União, mas, com certeza, pela corrupção e a safadeza.
Verbas da merenda escolar, saúde, habitação, saneamento básico, destinadas aos municípios são desviadas por infernais modalidades de corrupção, e essa "epidemia de safadeza" é denunciada diariamente pela imprensa. Senão vejamos: investigações do Ministério Público Federal identificaram, em Alagoas, um "concurso de falsários" coordenado pelo prefeito da cidade de Traipu, Marcos Santos (PTB). Segundo as averiguações, prefeito e secretários faziam reuniões para saber quem falsificava melhor as assinaturas em notas fiscais do próprio prefeito para justificar gastos fantasmas na cidade, que tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Sete em cada dez pessoas em Traipu não sabe ler ou escrever.
Quem ganhava o "concurso" ficava com parte da verba desviada do contrato a que se referia a nota fiscal. Para facilitar o esquema, todas as notas eram "fabricadas". O que o senhor Paulo Ziulkoski tem a dizer sobre as denuncias de desvio de verbas federais? É salutar que os prefeitos não "viagem". O povo está ao lado da presidenta. É bom não enterrar uma possibilidade de reeleição! A conferir!
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