Carlos José Marques, diretor editorial
A CPI do Cachoeira, aberta há poucas semanas, já se consagrou como mais um picadeiro de espetáculos circenses. Nada além. Parlamentares no papel de inquisidores encenam brigas. A plateia do júri, ensandecida, lança impropérios aos quatro cantos. O show midiático toma conta e todos querem brilhar diante dos holofotes expressando falsa indignação.
Não convencem. Protagonista da cena, o bicheiro Carlinhos Cachoeira estreou mudo, saiu calado. Fazia parte do seu show! Disse alguns “não”. Sorriu debochado. Levou a musa inspiradora a tiracolo como claque. Parecia divertir-se mais que a maioria.
Um ex-ministro da Justiça não teve, ou não demonstrou, o menor constrangimento em posar como advogado de defesa de um contraventor notório. Sugerem que ele teria recebido cerca de R$ 15 milhões pelo papel/papelão, cachê padrão hollywoodiano.
Não há moral da história no enredo. O intuito saneador de instituições públicas vai perdendo sentido ao longo da CPI deplorável. Como cantarolam funqueiros cariocas, “tá tudo dominado”. Inescapável a sensação transmitida aos brasileiros de que nesse ambiente um grande acordo de cavalheiros foi costurado para barrar investigações de malfeitos.
Mais um. Cada lado evita atacar para depois não ser atacado. Partidos adversários – os governistas e os oposicionistas – mostram-se mais interessados em cozinhar as acusações do que em apurá-las. Os figurões não devem ser convocados.
A lona do acordão foi armada e ela encobre as mais perversas traquinagens políticas, inclusive de governadores, congressistas e agentes graduados do Estado que patologicamente negam malfeitos para depois serem desmascarados por gravações clandestinas. Os canais do propinoduto e da rede de relações promíscuas que rechearam os bolsos de autoridades para facilitar atividades criminosas estão identifi cados.
A Polícia Federal tratou de realizar um amplo levantamento para mostrar como a coisa toda funcionava. São quase 40 mil páginas de relatório mostrando tim-tim por tim-tim, inclusive com provas documentais, os meandros do esquema. Mas o cinismo e a desfaçatez dos que deveriam interpelar impedem os trabalhos.
Que caiam as máscaras: ninguém ali está verdadeiramente querendo pôr fogo no circo.
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